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Prevenir o que não se pode remediar

Mathis Winkler/(rr)12 de agosto de 2004

Um novo tratamento do hospital universitário Charité, em Berlim, ajuda pedófilos a reconhecer seus impulsos e mantê-los sob controle. A pergunta é se o novo programa encontrará participantes.

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A cada ano, cerca de 20 mil crianças são vítimas de abuso sexual na AlemanhaFoto: BilderBox

O Instituto de Medicina e Ciência Sexual do hospital universitário Charité, em Berlim, iniciou um projeto financiado por fundos privados para ajudar pedófilos dispostos a controlar seus impulsos sexuais. "Acabamos de começar a reconhecer os problemas, ainda faltam programas de prevenção adequados e bem fundados", explica Kai Sachs, diretor da Sociedade Alemã Contra a Exploração Infantil.

O psicólogo Christoph Joseph Ahlers, do instituto berlinense, está convencido de que uma intervenção preventiva pode poupar crianças de um trauma por violência sexual. "Trata-se de vítimas e da prevenção contra novas vítimas", sublinhou, acrescentando que até agora há poucos terapeutas qualificados e interessados em ajudar pacientes com tendências pedófilas. "Os pacientes podem ser tratados e há progressos – é isso o que queremos provar."

Existem interessados?

Dutroux Prozess in Arlon - Marc Dutroux
O belga Marc Dutroux, condenado por seqüestro, estupro e assassinato de adolescentesFoto: AP

A pergunta é se haverá um suficiente número de pacientes dispostos a participar do tratamento. "A questão é como chegar até eles", explica Michael Osterheider, diretor do departamento forense de psiquiatria e psicoterapia da Universidade de Regensburg. Segundo ele, muitos pedófilos estão convencidos de que não fazem nada de errado e querem que relações sexuais entre adultos e crianças sejam legalizadas.

Mas Ahlers não se preocupa com o número de participantes, uma vez que o projeto é direcionado a pacientes que sofrem com suas tendências e procuram auxílio médico. "Esperamos alcançar todos aqueles que perceberam que crianças desempenham algum papel em suas fantasias sexuais."

Ajudar em vez de proteger

As sessões ajudam o paciente a reconhecer sua própria sexualidade e a começar a aceitar suas tendências sexuais. Eles devem entender que não são culpados pelos seus sentimentos, mas que continuam sendo responsáveis pelos seus atos, explica Ahlers. Mais adiante, eles devem aprender a não interpretar sinais infantis de maneira sexual.

Para isso é essencial que haja um certo grau de confiança do paciente no terapeuta, para que se possa começar o tratamento. Pacientes que não estiverem dispostos a submeter-se a um programa de abstinência serão solicitados a abandonar o programa.

Berlin Charité
Edifício do hospital universitário Charité, em BerlimFoto: AP

Na Alemanha, assim como no Brasil, o sigilo médico impede o terapeuta de fornecer informações sobre os pacientes. Mas Ahlers garante que, caso algum paciente confesse intenções de praticar uma ação criminosa, o instituto será obrigado a informar a polícia. "Eles continuam submetidos à mesma ação penal", salienta.

O único objetivo terapêutico é tornar o paciente capaz de manter seus impulsos sob controle. "Apesar do tratamento, um pedófilo continuará sempre um pedófilo", diz.