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Dr. Klaus e Mr. Hyde

DW (ph/av)3 de janeiro de 2009

Václav Klaus é um notório crítico da Europa. Detalhe delicado, já que seu país presidirá o bloco durante os próximos seis meses. Um discurso e uma entrevista revelaram faces quase opostas de "Dr. Klaus e Mr. Hyde".

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Nem todos os tchecos estão satisfeitos com a EuropaFoto: AP

A República Tcheca assumiu no primeiro dia de 2009 a presidência semestral da União Europeia. Com uma ressalva: seu presidente, Václav Klaus, é notoriamente crítico em relação à organização. Assim, os pró-europeus respiraram aliviados com seu discurso de Ano Novo, quando se mostrou inesperadamente brando. Apesar de um tanto ofendido com as tão negativas expectativas correntes em relação a seu país.

Vaclav Klaus in New York
Presidente Václav KlausFoto: AP

"Não temos alternativa para a filiação à UE, e é injusto alguém insinuar o contrário. Queremos cooperar para que a UE se torne um espaço realmente democrático, um espaço onde as decisões políticas sejam tão próximas do cidadão quanto possível; onde cada político seja forçado a assumir a responsabilidade diante do cidadão; e onde os políticos sejam efetivamente controlados."

Duas caras

Porém, já na sexta-feira (02/01), apresentou-se um outro Klaus. Em entrevista ao jornal econômico tcheco Hospodarské noviny, ele expressou a tão temida agressividade contra a UE, levando um comentador a falar em "Doutor Klaus e Mister Hyde".

A mera pergunta "de que a Europa mais tem medo no tocante à presidência tcheca do bloco" já pareceu irritar o chefe de Estado. "Para início de conversa, não tenho a menor capacidade de pensar em termos da categoria 'Europa'. E admiro quem consiga pensar pela Europa. Pois esta pessoa acredita ser 'proprietária' da Europa e poder falar por ela."

O entrevistador rebateu: a crer nos jornais europeus, é do próprio Václav Klaus que a Europa mais tem medo. Sua resposta lapidar: "Se for verdade, que seja assim".

"Ditadura mais rápida do que decisões democráticas"

"Ridículo", assim tachou Klaus a opinião negativa da mídia estrangeira a seu respeito. Ele simplesmente tem uma visão diversa de como a Europa poderia ser. Segundo o presidente tcheco, os verdadeiros "eurodestruidores" seriam gente como Hans-Gert Pöttering, presidente do Parlamento Europeu, ou o deputado verde Daniel Cohn-Bendit, com os quais Klaus teve uma séria desavença em dezembro último.

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Brian Cowen (e) e José Manuel Barroso: 'não' irlandês bloqueou Tratado de LisboaFoto: picture-alliance/ dpa

Mas o presidente tcheco prosseguiu: o Tratado de Lisboa, que ainda carece da ratificação da República Tcheca, acarretaria uma "fatal restrição da soberania" de seu país. A questão única não pode ser a velocidade de decisão, ressaltou. "O sistema de decisões mais rápido é o sistema da ditadura de um só homem, que não perde tempo com as observações mal-humoradas dos que não concordam com sua decisão. Em oposição a isto, concebeu-se um método muito tedioso, lento e complicado que se chama 'democracia'."

Assim, segundo Klaus, o Tratado de Lisboa aproximaria da ditadura e afastaria da democracia. Ele considera pura bobagem o argumento de que o acordo fortaleceria a paz no continente, evitando, portanto, guerras. Quanto à presidência tcheca da UE, enfatizou na entrevista, esta seria algo apenas para as elites políticas, que não tocará em absoluto o cidadão tcheco comum.

Ao fim da conversa, contudo, uma observação conciliatória: Klaus não pretende representar um papel dominante nos próximos meses. Não há por que esperar exibições dramáticas de sua parte, prometeu.