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Presidente do BC alemão acusado de tirar vantagem do cargo

(ns)6 de abril de 2004

Revista denuncia que Ernst Welteke aceitou convite do Dresdner Bank para festa da introdução do euro. Banco pagou a hospedagem do presidente do BC e de sua família. Ministério público abre inquérito.

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Ernst Welteke no lançamento das cédulas do euroFoto: AP

Ernst Welteke, presidente do Banco Central Alemão (Bundesbank), alojou-se com a esposa, dois filhos e a amiga de um deles no luxuoso Hotel Adlon de Berlim, para participar da festa de introdução do euro no Portão de Brandemburgo. A estada na capital estendeu-se por quatro dias e a conta, no valor de 7661,20 euros, foi paga pelo Dresdner Bank, que o convidou.

Isso aconteceu na virada de 2001 e só agora foi levantado pelo semanário Der Spiegel . O artigo que ele publicou em sua versão online provocou um alvoroço, diante de uma opinião pública cada vez mais sensível a qualquer caso que cheire a favorecimento, corrupção, clientelismo ou abuso de poder.

Uma conta paga com atraso

A primeira reação de Welteke à revelação foi justificar-se, dizendo que recebeu inúmeros convites para a data, escolhendo o do banco privado alemão pelo seu "alto valor simbólico". Como presidente do BC pronunciou um discurso na festa na noite de São Silvestre, além de dar várias entrevistas à mídia em Berlim, por ocasião da introdução das cédulas e moedas do euro a partir da meia-noite de 1º de janeiro de 2002.

"Se eu aceito um convite, parto do princípio de que quem me convidou arca com os gastos", teria dito Welteke, durante o encontro dos ministros das Finanças, na Irlanda, no fim de semana. Welteke é um dos funcionários públicos mais bem pagos do país. Ele ganha 350 mil euros por ano, mais do que o chanceler federal.

Nesta segunda-feira (05), ele comunicou que a diretoria do BC, depois de examinar a questão, decidiu restituir ao Dresdner Bank a parcela correspondente à viagem de trabalho. O restante ficaria por sua conta. Os dois pagamentos teriam sido feitos hoje.

Críticas e conseqüências

O governo alemão não gastou uma palavra em defesa do homem que colocou no cargo. O ministro das Finanças, Hans Eichel, criticou sua atitude: "Nosso código de ética não admite esse comportamento." Acrescentou, porém, que qualquer providência seria da alçada da diretoria do Bundesbank. O BC alemão goza de ampla autonomia, no que serviu de modelo ao Banco Central Europeu, que assumiu muitas de suas antigas funções, na era da União Monetária Européia.

Consta que nos bastidores muitos membros do governo criticaram o comportamento de Welteke, entre eles o chefe de governo, Gerhard Schröder. Para o secretário-geral do Partido Social Democrata (SPD), Klaus Uwe Benneter, uma vez paga a conta tudo estaria resolvido, tratando-se de um caso único.

Laurenz Meyer, secretário-geral da União Democrata Cristã (CDU), o maior partido de oposição, considerou o caso uma mistura imperdoável de assuntos oficiais e privados. Afinal, cabe ao BC fiscalizar as atividades dos bancos.

A Associação dos Contribuintes exigiu sua renúncia: "A proibição de aceitar presentes ou recompensas vale para o sr. Welteke, assim como para todo funcionário público", disse seu presidente, Karl Heinz Däke.

Por sua vez, a promotoria de Frankfurt, cidade em que o Bundesbank tem sede, anunciou nesta terça-feira (6/4) ter aberto inquérito contra o presidente do BC e o Dresdner Bank por suspeita de recebimento e oferta de favorecimento, respectivamente.