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Berlim Alexanderplatz

Carlos Albuquerque9 de setembro de 2008

Prédios construídos após queda do Muro destoam da estética socialista que caracterizou a Alexanderplatz de Berlim, praça imortalizada pelo romance filmado por Rainer Werner Fassbinder. Prefeito da cidade reclama.

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Wowereit não gostou do dos projetos na AlexanderplatzFoto: picture-alliance/Tagesspiegel
Gegend am Berliner Alexanderplatz Alexa
Fachada de Alexa desagradou ao prefeitoFoto: picture-alliance/dpa

"Como está feia", comentou o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, ao observar da cobertura de um edifício as novas construções em torno de uma das mais tradicionais praças berlinenses e coração da antiga Berlim Oriental – a Alexanderplatz.

Segundo noticiou o diário Berliner Morgenpost, Wowereit aproveitou o recesso de verão para fazer um "passeio de ônibus urbanístico" pelos novos projetos que estão sendo construídos em sua cidade.

Na Alex, diminutivo carinhoso pelo qual é conhecida a famosa praça, o prefeito reclamou do novo piso de granito de cor clara cravejado com milhões de gomas de mascar, da falta de aberturas das paredes externas e das cores das fachadas dos centros comerciais ali construídos, die neue mitte e Alexa.

Wowereit não escondeu o seu descontentamento e afirmou que os novos centros comerciais seriam caracterizados por uma "maciça feiúra". O prefeito teme que o novo conjunto venha agora a ameaçar a atratividade do tradicional ponto de encontro de berlinenses e turistas.

História de transformação

Deutschland Berlin Alexanderplatz Panoramafoto
Berlim, Alexanderplatz, antes dos novos projetos, em 2001Foto: picture-alliance/ dpa

Em sua história, a Alexanderplatz foi caracterizada pela transformação. De mero mercado de gado, no século 17, a praça tornou-se ponto de passagem obrigatório no começo do século 20. Seu nome foi homenagem à visita do czar Alexandre 1°, que adentrou a antiga capital prussiana, em 1805, pelo portão da praça que herdaria seu nome. Com a construção do traçado ferroviário berlinense, foi inaugurado, em 1882, o prédio da estação ferroviária Alexanderplatz que até hoje existe.

A Alexanderplatz atingiu seu apogeu nos anos de 1920. Foi neste período que Alfred Döblin escreveu o romance Berlim Alexanderplatz, adaptado por Rainer Werner Fassbinder para a televisão em 1980. Com 15 horas e meia de duração, o filme é considerado a mais longa película narrativa da história.

A fama da praça, no entanto, foi acompanhada do caos do transporte urbano e individual e à renovação urbana da praça que deu origem à forma que hoje possui. Segundo o plano da prefeitura, a Alexanderplatz seria transformada num espaço circular de 100 metros de diâmetro, contornado por prédios de sete pavimentos.

No começo dos anos de 1930, o arquiteto alemão Peter Behrens construiu dois prédios ainda existentes, a Alexanderhaus e a Berolinahaus. A crise financeira afastou os investidores responsáveis pelas demais construções.

Unidade urbana socialista

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Destruição da Alexanderplatz em 1945Foto: RLS

Após a Segunda Guerra, o urbanismo seguiu os preceitos do funcionalismo modernista de Le Corbusier. Em países socialistas, este também foi acompanhado da monumentalidade estatal. Aproveitando a destruição dos prédios pela guerra, promoveu-se o afastamento dos trilhos dos bondes e a construção de passagens subterrâneas. A Alexanderplatz tornou-se um imenso espaço de aglomeração, nos moldes da Praça Vermelha de Moscou ou da Praça dos Três Poderes de Brasília.

Em 1951, foi aberta a avenida Stalinallee, hoje Karl-Marx-Allee, um eixo monumental de 90 metros de largura que tangencia a Alexanderplatz ao oeste. Eram ali que se realizavam as paradas e desfiles da antiga Alemanha Oriental.

Karl Marx Allee in Berlin mit Plakat
A avenida Karl Marx e Casa do Professor em 1999Foto: AP

Durante os anos 60, a Alexanderplatz ganhou uma série de novas construções que lhe deram a unidade urbana característica do socialismo: a Haus des Lehrers (Casa do Professor), entre 1961 e 1964; a famosa torre de televisão, entre 1965 e 1969; o Centrum Warenhaus (Centro Comercial), uma torre de hotel de 120 metros de altura e o prédio da Haus der Elektroindustrie (Casa da Indústria Eletrônica), em 1969. Dois anos mais tarde, era construída a Haus des Reisens (Casa da Viagem).

Unidade urbana mais uma vez danificada

Rundfahrt Berliner Politiker zur städtebaulichen Entwicklung der Stadt
A Alexanderplatz tem história de transformaçãoFoto: picture-alliance/Tagesspiegel

Após a reunificação da Alemanha e a mudança da capital para Berlim, muitos têm sido os esforços para fazer da cidade, novamente, a capital de uma grande nação e trazer-lhe de volta o charme urbano do pré-guerra. Mas a Segunda Guerra Mundial e, sobretudo, o socialismo deixaram suas marcas. A Alexanderplatz foi uma delas. No começo dos anos 90 um concurso vencido pelo arquiteto Hans Kollhoff retomou o projeto de Behrens dos anos 20.

O novo projeto retoma a idéia da praça circundada por prédios de sete a oito andares e torres de 42 pavimentos na parte externa. Deste projeto, provêm os prédios dos centros comerciais die neue mitte e Alexa. O prédio do antigo Centrum Warenhaus foi reformado e ampliado em 25 metros em direção à praça pelo arquiteto Josef Paul Kleihues.

Kleihues transformou o prédio modernista, hoje Galeria Kaufhof, num prédio classicista. Assim também é o fechado bloco do centro comercial Alexa. Como as torres não foram construídas, as fachadas adjacentes dos centros comerciais ficaram sem janelas, por se tratarem de paredes corta-fogo. Como no passado, os bondes voltaram a circular sobre a Alexanderplatz.

Diferentemente da praça Pariser Platz, onde se localiza o Portão de Brandemburgo, e da região em torno da Ilha dos Museus, a superintendência de obras de Berlim não quer estabelecer padrões urbanísticos rígidos para a Alexanderplatz, ou seja, seu caráter socialista não foi considerado e sua unidade urbana ficou danificada.