Prédios vazios
6 de outubro de 2003O setor bancário alemão já está se recuperando da crise dos últimos anos. Mas os seus efeitos ainda se notam em outros áreas, como no mercado imobiliário de Frankfurt. A metrópole dos bancos na Alemanha tem seu centro repleto de arranhacéus, pelo que é chamada, em tom de brincadeira, de Mainhattan, pois Main (Meno) é o rio que banha a cidade. Mais de 10% da área construída de escritórios - ao todo cerca de 11 milhões de metros quadrados - estão à espera de inquilinos. Andares inteiros dos edifícios estão vazios.
Oferta excessiva x queda da demanda
Enquanto os bancos - os principais clientes das grandes imobiliárias - anunciam cada vez mais cortes de empregos, os guindastes da construção civil continuam em ação. Até o final de 2005, ficarão prontos novos gigantes com mais 1,5 milhão de metros quadrados de escritórios no centro ou nos bairros de Frankfurt.
O curioso é que os edificios estão sendo construídos pelos próprios bancos ou com seu financiamento. É que as decisões dos ambiciosos projetos foram tomadas em tempos de vacas gordas e bons lucros. E na Alemanha costuma demorar de 5 a 6 anos até a entrega de um edifício comercial. O que está havendo, portanto, é uma defasagem. Por isso, em 2001, em pleno auge da crise bancária, ficaram prontos vários prédios com inúmeros escritórios que ninguém mais precisava.
Esses imóveis reforçaram a oferta, aumentando a crise do setor. Cerca de 40% dos novos prédios comerciais ainda não encontraram locadores. "E a maior parte dos contratos só é assinada quando o proprietário concede um tempo sem pagamento de aluguel", diz Tanja Severin, gerente da subsdiária alemã da administradora de imóveis britânica DTZ em Frankfurt. Segundo ela, provavelmente a porcentagem correta seja maior ainda, pois muitos proprietários não gostam de admitir que prédios estão vazios.
Dependência e perspectivas
Em Frankfurt o mercado imobiliário tem grande dependência do setor financeiro. Com cerca de 80 mil funcionários, os bancos ocupavam, em 2002, 2,5 milhões de metros quadrados, o que corresponde a um quarto da superfície total dos escritórios. Juntamente com as empresas que lhes prestam serviços, a porcentagem sobe para quase 60%. Em nenhuma outra cidade alemã há um grau tão alto de dependência de um só setor. Em Hamburgo, por exemplo, os dois setores econômicos mais importantes - empresas de informática e suas prestadores de serviço - juntos ocupam apenas um quinto da área de prédios comerciais.
"Mesmo se a situação melhorar em 2005, o índice de imóveis vazios não deve cair para menos de 9% em Frankfurt", profetiza Tanja Severin. A título de comparação, em 2000, um ano de boom, somente 2% dos imóveis comerciais não encontraram inquilino. Quem é do ramo trata de consolar-se lembrando que a alta oferta provoca aluguéis mais baratos, o que, por sua vez, pode atrair novos inquilinos a Mainhattan.