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Polônia, o país mais devastado

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Os poloneses foram o povo que mais sofreu com a Segunda Guerra Mundial. Também ali a guerra terminou em 1945, mas o final do conflito não significou a libertação do país.

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Varsóvia, completamente destruída em 1945Foto: dpa

Na noite de 16 para 17 de setembro de 1939, tornou-se claro que a Polônia não tinha só um inimigo, mas dois. Desde 1º de setembro − o dia em que começou a Segunda Guerra −, a Polônia estava conseguindo se defender de forma corajosa, ainda que sem sucesso, contra a então ainda poderosa Wehrmacht (Exército alemão).

Até aquela noite, no entanto, não se sabia que a Alemanha e a União Soviética − na verdade, ferrenhas inimigas ideológicas − haviam se aliado num protocolo secreto anexado ao Pacto de Não-Agressão. Segundo este protocolo, Hitler e Stalin pretendiam dividir a Polônia. Naquela noite, o Exército Vermelho cruzou a fronteira oriental polonesa para assegurar sua parte do butim. Iniciava-se um dos mais terríveis episódios de uma história cheia de desgraças.

Em 1945, a Polônia era um país desmantelado. A fronteira ocidental havia sido empurrada 500 quilômetros para o oeste, de acordo com acertos feitos em novembro de 1943 pelo soviético Joseph Stalin com o então premiê britânico, Winston Churchill, e o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, em Teerã.

Milhões de poloneses que moravam no leste do país foram transferidos para territórios antigamente de domínio alemão. Varsóvia ficou despovoada e em ruínas. Sob o ponto de vista de sua população total, a Polônia foi, entre as nações atingidas, a que mais sofreu perdas humanas.

"Esteira rolante de cadáveres"

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Menina polonesa chora a irmã morta a tiros enquanto colhia batatas em 1939Foto: AP
Seis milhões de poloneses morreram no conflito, dos quais mais de 95% civis. Durante seis anos, a Polônia pareceu um "matadouro mecanizado, cuja esteira rolante transportava constantemente os cadáveres de seres humanos assassinados", como disse certa vez o escritor polonês e Nobel de Literatura Czeslaw Milosz.

Situavam-se na Polônia ocupada os principais campos de concentração − Auschwitz, Treblinka, Sobibor, Belzec, Chelmno e Maidanek. Apenas 10% dos 3,3 milhões de judeus poloneses conseguiram se salvar.

Um fato que a perspectiva alemã às vezes deixa de considerar é que não foram apenas os judeus a ser sacrificados pela fúria destruidora dos alemães. Conforme os objetivos de guerra dos nazistas, a Polônia deveria desaparecer como nação. Por isso, a partir de 1939 foi iniciada uma verdadeira caça aos que manifestassem uma ideologia nacionalista polonesa.

Intelectuais, religiosos e nobres foram transportados aos milhares para campos de concentração, ou executados imediatamente. A meta era "germanizar" os territórios poloneses e transformar a população em mão-de-obra escrava.

Luta militar contra alemães e política contra os soviéticos

A resistência era combatida de forma cruel pelos ocupadores nazistas. Para cada alemão morto, eram executados cem reféns poloneses. Com o ataque de Hitler à União Soviética, em 1941, ficou claro para a resistência polonesa que a única forma de serem libertados do terror nazista seria a vitória de Stalin.

Mas o que esta "libertação" significaria revelou-se o mais tardar com o descobrimento das valas comuns de Katyn, perto de Smolensk, em 1943: ali Stalin havia mandado executar mais de quatro mil oficiais poloneses que haviam caído nas mãos do Exército Vermelho em 1939.

A resistência polonesa decidiu-se por duas frentes: contra os alemães travariam uma luta militar e, contra a União Soviética, uma política. Em 1944, quando o Exército Vermelho começou a se aproximar do país pelo leste, os poloneses queriam se apresentar a eles como senhores do próprio país.

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Derrotados no levante, mulheres, homens e crianças são escoltados do gueto judeu de Varsóvia em maio de 1943 pela SSFoto: dpa

Planejaram então que, poucas horas antes da chegada dos soviéticos, Varsóvia pegaria em armas para expulsar os alemães. A 1º de agosto de 1944, a resistência polonesa começou os combates contra os nazistas, mas foi deixada na mão pelos soviéticos, pois Stalin recusou-se a ajudar. As tropas soviéticas foram freadas por Moscou do outro lado das margens do Rio Vístula − às portas de Varsóvia − e assistiram a 63 dias de encarniçados combates, com um saldo de 200 mil poloneses mortos.

Trauma nacional de duplo sentido

Os alemães dominaram o levante e expulsaram os sobreviventes da cidade, que estava completamente em ruínas. Hitler determinou até mesmo a implosão do que havia restado de pé, consagrando Varsóvia como a capital mais destruída na Segunda Guerra Mundial.

Até hoje, o levante de Varsóvia não é apenas um trauma nacional, mas também um duplo símbolo da resistência polonesa − contra o terror nazista e contra a opressão soviética. Todos os anos, a 1º de agosto, milhares de habitantes da capital polonesa se reúnem para comemorar a insurreição. Festividades públicas foram repudiadas oficialmente ainda nos anos 80.

1945 foi o ano da libertação do terror alemão. O aniversário de 60 anos desta data é lembrado de forma correspondente pelos poloneses. Mas ninguém esquece que a Polônia não ficou livre em 1945. O regime comunista instalado por Moscou apenas fez com que o terror nazista fosse substituído pelo stalinista.

Muitos poloneses, como mais tarde o ministro das Relações Exteriores Vladislav Bartoszewski, foram prisioneiros tanto de Hitler como depois também de Stalin. Muitos poloneses afirmam hoje que, para a Polônia, a Segunda Guerra Mundial não acabou em 1945, e sim com o final da Guerra Fria, em algum momento ao longo dos anos 80.