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Políticos querem proibir filme turco de ação

(hj / av)22 de fevereiro de 2006

A película turca de ação "Vale dos Lobos – Iraque" atrai centenas de milhares na Turquia e Alemanha. Políticos conservadores alegam que o filme é extremamente unilateral, agitador e antiamericano.

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Cartaz de 'Vale dos Lobos'Foto: picture-alliance/ dpa

Os cartazes da Alemanha destacam o título original, Kurtlar Vadisi Irak; geralmente quase não se encontra a tradução alemã, Tal der Wölfe – Irak (Vale dos Lobos). Em largas linhas, a mais cara película turca de todos os tempos trata de um incidente ocorrido em julho de 2003 no norte do Iraque. Uma tropa norte-americana prendeu 11 soldados turcos, levando-os com as cabeças cobertas por sacos, como se fossem suspeitos de terrorismo.

Pouco mais tarde, os soldados foram libertados e não houve acusações de tortura. Porém as imagens da televisão deixaram cicatrizes profundas. Na opinião do autor turco Feridun Zaimoglu:

"Os turcos querem assistir a este filme para, de certa maneira, ter uma pequena compensação na tela pela humilhação sofrida no Iraque, que sentem na qualidade de muçulmanos."

Comportamento dos EUA como afronta

As relações entre os Estados Unidos e a Turquia são tradicionalmente boas, sendo os ressentimentos antiamericanos menos freqüentes do que em outros países islâmicos.

Porém muitos turcos consideraram uma afronta o tratamento concedido pelo parceiro na Otan a seus soldados: aos olhos da população, os rapazes foram colocados no nível de terroristas.

No filme do diretor Serdar Akar, o ato é motivado pela pretensão dos EUA de ser o único detentor do poder na região. O tenente Süleyman Aslan não suporta tal ofensa à honra de sua tropa e comete suicídio.

Contudo, antes de se matar, o oficial relatara a ocorrência ao agente secreto Polat Alemdar. Este viaja com sua equipe para o norte do Iraque, a fim de descobrir o comandante norte-americano responsável e esclarecer o caso.

Tal der Wölfe - Irak Filmszene
Cena do filmeFoto: presse

É claro, isto não basta como trama para um filme de ação. Assim, o espectador presencia como os soldados do Tio Sam atravessam o Iraque assassinando, os vê torturar inocentes e explodir o minarete de uma mesquita. Além disso, no Vale dos Lobos, os americanos estão envolvidos no comércio com órgãos de prisioneiros do famigerado presídio de Abu Ghraib, sob o controle de um médico judeu.

Fomento ao ódio

Os políticos alemães pediram com veemência a proibição da película, que está sendo exibida no país desde 9 de fevereiro. "Exijo dos distribuidores da Alemanha que suspendam imediatamente esse filme de ódio, racista e antiocidental", declarou o governador da Baviera, o social-cristão Edmund Stoiber.

O secretário do Interior do Estado de Baden-Württemberg, Heribert Rech, da também conservadora União Democrata Cristã (CDU), reforçou: "O filme fomenta ressentimentos anti-semíticos e antiamericanos, separa as culturas e sobretudo leva jovens turcos a radicalizar-se".

O Conselho Central dos Judeus na Alemanha apelou igualmente a todos os proprietários de salas de exibição para que suspendam a película. Quem mostra Vale dos Lobos – Iraque apóia o ódio contra as pessoas de origem judaica, declarou a vice-presidente do Conselho Central, Charlotte Knobloch, ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Perda da credibilidade norte-americana

Tal der Wölfe - Irak Filmszene
'Rambo' turco em açãoFoto: presse

Porém o filme também se manifesta – de forma expressa e através de imagens drásticas e chocantes – contra os atentados suicidas e seqüestros. Segundo Zaimoglu, a maioria dos turcos o vê menos como um filme de ação, do que como oportunidade de elaborar o incidente no norte iraquiano, percebido como uma ferida profunda.

"A América em que os turcos acreditaram por longo tempo, que amavam e conheciam, perdeu no Iraque sua credibilidade para a grande maioria", sublinhou o escritor.

Na Turquia, Kurtlar Vadisi Irak estreou simultaneamente em mais de 500 cinemas. Somente no primeiro dia, 370 mil pessoas foram assisti-lo. Alguns políticos locais chegaram a classificá-lo como "acontecimento histórico". O presidente do Parlamento em Ancara, Bülent Arinc, considerou-o "magnífico", e a esposa do premiê turco, Emine Erdogan, congratulou publicamente os realizadores.

Por requerimento do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, a película, liberada para maiores de 16 anos, voltará a ser submetida ao órgão de autocontrole da indústria cinematográfica, o FSK. Entretanto, a distribuidora Maxximum Film nem cogita retirá-lo de circulação: graças à polêmica, o número de espectadores saltou de 60 mil para 260 mil.