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Política de Israel impede progresso em territórios palestinos

16 de junho de 2012

Política adotada por israelenses na Cisjordânia dificulta acesso de palestinos a serviços básicos, como energia elétrica e água potável. Desde início da ocupação, nenhuma nova cidade palestina foi criada.

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Foto: AP

Quando a luz se acendeu na caverna de Susya, em Israel, no início de 2009, uma nova cooperação entre Israel e Palestina parecia ter dado frutos. A organização Comet-ME (Comunidade, Energia e Tecnologia no Oriente Médio, na sigla em inglês) tinha instalado geradores de energia eólica e painéis solares ao sul da cidade de Hebron – financiada pelo Ministério alemão das Relações Exteriores – a fim de tornar a vida um pouco mais confortável.

Os agricultores e pastores que viviam em cavernas, barracos e casas feitas de placas de ferro pertencem à classe mais pobre da Cisjordânia. As autoridades israelenses não disponibilizam qualquer infraestrutura aos palestinos da região. Escolas, ruas, energia elétrica ou mesmo água potável são apenas um sonho distante: para obter esses serviços básicos eles precisam percorrer um duro caminho por uma estrada de cascalho até a próxima cidade palestina, Yatta.

Direitos obscuros

"Cerca de 1.800 pessoas tiram proveito de nossa iniciativa, que traz um pequeno, mas elementar conforto na vida cotidiana", explica Aya Shoshan, gerente de Organização e de Desenvolvimento da Comet-ME. A organização dos trabalhos começou em janeiro de 2012. Havia ameaças de demolição. "O status legal dessas pessoas é incerto e obviamente relatamos isso ao nosso doador", conta Shoshan.

O doador em questão é o governo da Alemanha. Os ministros alemães do Exterior, Guido Westerwelle, e da Cooperação e Desenvolvimento, Dirk Niebel, tinham conversado sobre a questão a portas fechadas com o ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, durante a passagem deles por Israel no início do ano e durante a visita de Barak a Berlim, em março deste ano. A embaixada alemã também mantém contatos estreitos com as autoridades israelenses sobre a questão, segundo uma porta-voz do Ministério alemão do Exterior.

Os geradores de energia em si não chegaram a ser destruídos, mas sim alguns estábulos e alojamentos de moradores de vilarejos, a quem as instalações deveriam ter trazido benefícios.

Tratamento desigual

Este é um ponto crucial no que diz respeito à ajuda para desenvolvimento da chamada "Área C" no oeste na Cisjordânia, na qual Israel tem soberania administrativa e controle militar. Os israelenses é quem concedem as permissões de construções, destinadas a palestinos ou a projetos de infraestrutura que sirvam a eles – mas a probabilidade de que vão recebê-las é pequena.

Já os assentamentos israelenses na "Área C" aparecem como oásis de progresso ocidental sobre o morro vizinho a vilarejos palestinos. "Na região onde atuamos há 18 assentamentos, dos quais alguns são considerados áreas marginais ilegais pelo governo de Israel, e por isso estão fora do abastecimento de energia e de água potável", afirma Shoshan, demonstrando revolta pelo tratamento desigual.

"Desde o início da ocupação israelense da Cisjordânia nenhuma nova cidade palestina foi criada", ressalta. A população das áreas palestinas, inclusive na Faixa de Gaza, porém, cresceu cerca de 25% nos últimos dez anos.

Futuro incerto

Já em outra região, na chamada "Área B", as autoridades palestinas têm a autonomia administrativa e Israel, o controle de fronteiras. Na "Área A", as duas responsabilidades competem aos palestinenses, e aqui eles podem ensaiar seu próprio Estado.

"De acordo com o plano de desenvolvimento das autoridades palestinenses, nós nos concentraremos nos grandes projetos de infraestrutura na 'Área A', ", explica Jan van der Ploeg, consultor para grandes projetos da Comissão Europeia em Ramallah.

Planejamentos na área de segurança são necessários: a construção do complexo do governo em Nablus custou 17 milhões de euros, e em Jenin, cerca de 20 milhões de euros. "As dificuldades em que tropeçamos aqui estão basicamente na conclusão agendada para as construções", continua Van der Ploeg.

Como as "Áreas A" se sobressaem das outras como ilhas, nem sempre o transporte de materiais de construção ou a presença de trabalhadores palestinos nos locais de trabalho é garantido, pois pode surgir de repente uma estação de controle isralense nas fronteiras.

Nos últimos cinco anos, a União Europeia disponibilizou entre 40 e 50 milhões de euros anualmente como auxílio para o desenvolvimento da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. "Na Faixa de Gaza encontramos problemas bem diversos, já que por conta do bloqueio israelense falta tudo. Mas as restrições de importação para a construção de infraestrutura, conduzida por lideranças internacionais, foram flexibilizadas", contou Van der Ploeg.

Ele enumera projetos importantes, como a rede de coleta de esgoto e a expansão de viadutos na fronteira Kerem Shalom (entre Israel, Egito e Faixa de Gaza), por onde futuramente devem transitar 700 carros por dia, garantindo serviços básicos a 1,6 milhão de moradores de Gaza.

Autor: Florian Mebes (msb)
Revisão: Carlos Albuquerque