Passando a borracha
14 de abril de 2003"Passar a borracha" é o lema inoficial da presidência grega da União Européia. Pretende-se assim fazer com que a questão da guerra no Iraque e as dissonâncias provocadas pelo conflito dentro do bloco não sejam acentuadas ainda mais. Por isso, optou-se por não falar da guerra diretamente. Os esforços diplomáticos limitam-se a evitar que as diferenças tornem-se ainda mais instransponíveis.
Frente ao estado catastrófico dos hospitais no Iraque, a primeira medida a ser tomada pelos ministros da UE reunidos em Luxemburgo refere-se à ajuda humanitária. Neste ponto, até mesmo os governos do bloco que se opuseram à guerra pretendem "passar por cima" da questão e oferecer apoio a organizações norte-americanas, caso necessário.
Reconstrução -
No quesito reconstrução, o quadro já é diferente: vários governos europeus já declararam que não estão dispostos a liberar verbas para o Iraque, caso esses recursos, gerenciados pelas forças dos EUA, venham a fluir na direção dos cofres de empresas norte-americanas. Exatamente por isso, a UE deve esclarecer que papel a organização irá exigir das Nações Unidas dentro do cenário do pós-guerra.Embora um "papel central" da ONU tenha sido mencionado durante a cúpula da UE no último mês, George W. Bush e Tony Blair modificaram a nomenclatura e apontaram a função das Nações Unidas como "vital". Saindo pela tangente, o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, tentou há pouco subestimar o conteúdo das divergências: "vital pode ser central e central poderia também ser vital", comentou o chefe de governo.
Além da discussão pelo adjetivo mais correto, esconde-se no entanto uma necessidade urgente: a UE precisa, o mais breve possível, definir qual o nível de influência que o bloco pretende exercer no cenário internacional em relação à guerra que se encerra. O comissário para assuntos de política externa, o britânico Chris Patten, afirmou há pouco que pretende definir o mais breve possível o papel da ONU no Iraque do pós-guerra.
Oriente Médio -
O Reino Unido já sinalizou aos membros da UE que pretende, exatamente na função de membro ativo da coalizão de guerra, manter-se presente, ao lado dos EUA, em solo iraquiano. Distanciando-se um pouco da questão que envolve o futuro imediato do Iraque, os ministros do Exterior da UE pretendem discutir ainda sobre possíveis soluções para o conflito no Oriente Médio. Neste contexto, serão analisados os relatórios das recentes negociações de Joschka Fischer em Israel.O que vem contribuindo para um clima de discórdia dentro da UE é a iniciativa da Bélgica, Luxemburgo, França e Alemanha de organizarem uma "cúpula dos quatro", agendada para fins de abril. O encontro, segundo informações oficiais, serviria para definir os fundamentos de uma política comum de defesa. Os ministros reunidos em Luxemburgo irão decidir se a UE permitirá esse tipo de iniciativa entre seus membros ou se o grupo dos quatro poderá em breve ser ampliado com a presença da Itália e da Holanda. E, quem sabe, um dia até do Reino Unido.