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Partidos pequenos têm dificuldades de chegar ao Parlamento alemão

Kay-Alexander Scholz (sv)26 de agosto de 2013

Na Alemanha, há dezenas de pequenos partidos voltados para grupos especiais de eleitores. Normalmente, eles não conseguem chegar ao Parlamento, mas nestas eleições pode ser que a situação mude para dois deles.

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Foto: picture-alliance/dpa

Embora para as eleições legislativas alemãs, marcadas para o próximo dia 22 de setembro, tenham sido aceitos os registros de 39 partidos, apenas poucos têm chances reais de ocupar cadeiras no Parlamento – cinco deles, inclusive, já desistiram. No país, só as legendas que conseguem um mínimo de 5% dos votos podem enviar deputados ao Bundestag.

O último partido tido como pequeno a conquistar tal percentual foi A Esquerda, remanescente da antiga Alemanha Oriental, em 1998. Antes disso, há 15 anos, foram os verdes que conseguiram chegar ao Parlamento. A relativa estabilidade do cenário político alemão não depende, contudo, apenas deste limite de 5%.

"Na Alemanha, há uma onipresença de centro. Os partidos estabelecidos não se distinguem mais, de fato, uns dos outros", afirma o cientista político Karl-Rudolf Korte. Em outros países, exemplifica, a situação é muito mais heterogênea e polarizada. Tal estabilidade política, na opinião de Korte, gera, por outro lado, certo tédio entre os eleitores. "Os pequenos partidos podem se beneficiar disso, atraindo assim maior atenção", completa o especialista.

Dois candidatos

Recentemente, dois novos partidos atraíram a atenção do eleitorado: de um lado, o Partido Pirata, de tendência liberal e de esquerda, auto-intitulado "partido da era da internet"; de outro, a Alternativa pela Alemanha (AfD, na sigla original), criada por uma ala conservadora como sinal de protesto à política da chanceler federal Angela Merkel, de resgatar os países em crise na zona do euro.

O Partido Pirata, fundado no ano de 2006 e hoje presente nas assembleias estaduais de quatro estados alemães, possui em torno de 31 mil filiados em toda a Alemanha. Já a AfD, fundada oficialmente somente em fevereiro deste ano, já reúne 15 mil filiados, entre eles vários dissidentes das conservadoras CDU/CSU (União Democrata Cristã/União Social Cristã) e do FDP (Partido Liberal Democrata).

Tanto o Partido Pirata quanto a Aliança pela Alemanha irão concorrer nas eleições nos 16 estados alemães com listas próprias de candidatos, estando, assim, pelo menos formalmente presentes em todo o país. Isso foi conseguido até hoje apenas pelos estabelecidos CDU/CSU, SPD (Partido Social Democrata), FDP, A Esquerda e os Verdes, e pelo pequeno partido de extrema direita FDP (Partido Nacional Democrático da Alemanha), pela comunista MLPD (Partido Marxista-Leninista da Alemanha) e pela associação civil dos Eleitores Livres.

Imprecisões nas pesquisas de intenção de voto

Tanto os piratas quanto a AfD aparecem nas enquetes dos grandes Institutos de Pesquisa de Opinião com percentuais que variam entre 2% e 4% de intenção de voto. Considerando uma margem estatística de erro de alguns pontos percentuais, é possível que ambos os partidos consigam chegar ao Bundestag.

Die Tierschutzpartei Plakat
Cartaz do Partido de Proteção dos Animais

Há também outras razões pelas quais isso pode realmente acontecer: o Partido Pirata, por exemplo, pode possivelmente se beneficiar do fato de que as pesquisas de intenção de voto são normalmente feitas através de telefones fixos.

Muitos jovens do país, no entanto, não têm mais linhas fixas de telefone, mas apenas celulares. E estariam, segundo os especialistas em pesquisas, sub-representados nas enquetes. No caso da AfD, estima-se que muita gente não tenha coragem de declarar, numa enquete telefônica, a preferência por um partido que ainda não está estabelecido no cenário político, mas que, na hora do voto, vai optar pela AfD.

Os partidos estabelecidos reagem, por sua vez, aos ventos dos novos. Eles já começaram cedo a observar as duas novas facções e a tomar as devidas providências contra as novas correntes. Afinal, uma presença da AfD e dos Piratas no Bundestag poderá colocar em risco as maiorias parlamentares, dificultando assim as já pretendidas coligações partidárias.

Por ocasião do auge das pesquisas de opinião em prol do Partido Pirata em meados de 2012, os partidos tradicionais do país tentaram, em clima de nervosismo, demonstrar a todo custo suas competências com relação a assuntos ligados à internet.

Por outro lado, a aliança CDU/CSU desprezou publicamente a AfD. Além disso, os conservadores procuram ignorar a crise do euro em suas campanhas – o tema principal da aspirante AfD. Assim, acreditam eles, tira-se o chão do protesto da nova facção.

Não a "partidos de um só tema"

Bernd Lucke, fundador e porta-voz da AfD, tentou, em meados deste ano, deixar claro durante uma entrevista coletiva para a imprensa, em Berlim, que a AfD, ao contrário do que se afirma, não é um partido de um só tema. Uma imagem como essa, afinal, não pega bem nem entre os eleitores nem junto à mídia, que está sempre cobrando uma plataforma política completa de todas as facções.

Bern Lucke Alternative für Deutschland Gründungsparteitag Berlin AFD
Bern Lucke, da conservadora AfDFoto: Reuters

Como reação, Lucke apresentou três comissões parlamentares especializadas sobre política energética, saúde e defesa. No entanto, suas declarações pareceram tão populistas quanto aquelas sobre a salvação do euro, de forma que a reação da mídia foi fraca. "Apenas 20% dos eleitores nos conhecem até agora", admite Lucke. Segundo ele, o partido pretende duplicar sua popularidade através de uma campanha eleitoral ativa nas ruas do país.

Não se sabe, porém, se o número de eleitores do partido irá, por isso, aumentar. Na Alemanha, ao contrário do que ocorre nas vizinhas França e Holanda, os partidos populistas de direita costumam ter dificuldades de se estabelecer em nível nacional no cenário político. E ao contrário do que ocorre nos países anglo-saxões, até mesmo a mídia conservadora alemã costuma manter uma postura crítica ao noticiar sobre os partidos que se mantêm à margem dos tradicionais.

Desperdício de atenção

Após um ápice nas enquetes, o Partido Pirata acabou sofrendo uma queda vertiginosa nas pesquisas de intenção de voto no segundo semestre de 2012. A nova liderança do partido passou à opinião pública uma imagem ruim e de desavenças internas. "Isso destruiu muita coisa", diz Sasha Lobo, colunista de internet. Segundo ele, a confiança dos eleitores foi nesse momento abalada. Diante disso, pouca gente percebeu que os piratas haviam conseguido deixar o rótulo de "partido de um só tema" para elaborarem uma plataforma política completa.

Segundo Lobo, os recentes escândalos de espionagem pela norte-americana NSA (Agência de Segurança Nacional) trazem chances à facção de angariar a confiança de novos eleitores para além de seus admiradores tradicionais. A liderança do Partido Pirata também espera um aumento decisivo no número de votos como reação ao atual debate a respeito da segurança de dados e dos direitos civis na internet.

O cientista político Kort mantém, porém, uma postura cética neste sentido. "O escândalo vem, na verdade, tarde demais, quando a mídia já perdeu o interesse pelo Partido Pirata", diz ele. Mas, na realidade, o escândalo envolvendo a NSA seria realmente "o" assunto para os Piratas, salienta o especialista. "Eles poderiam contar o que aconteceu de fato, do ponto de vista da tecnologia, uma vez que têm uma competência nata para tratar deste tema", completa.

Caso o Partido Pirata ou a AfD consigam chegar ao Bundestag, eles ocupariam em torno de 40 cadeiras cada um. Ou seja, de uma hora para outra, eles deixariam de ser partidos realmente pequenos.