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"Paralimpíada começa em clima de crise política"

Fernando Caulyt/Jean-Philip Struck7 de setembro de 2016

Imprensa alemã destaca crise política no Brasil e dificuldades no financiamento dos Jogos Paralímpicos do Rio. Menor importância dada ao evento em relação à edição anterior, em Londres, e à Olimpíada também é tema.

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Jogos Paralímpicos do Rio 2016
Foto: Reuters/S. Moraes

A poucas horas da abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, os jornais alemães destacaram nesta quarta-feira (07/09) as dificuldades econômicas enfrentadas pela cidade para financiar a competição e a sensação de que os para-atletas não recebem a atenção que merecem.

Süddeutsche Zeitung: Crise política e financiamento de última hora

"O esporte nunca foi apolítico, mas esta Paralimpíada do Rio começa num clima de crise política sem precedentes", afirma o Süddeutsche Zeitung. "Nas duas semanas entre os dois eventos esportivos [Olimpíada e Paralimpíada] uma mudança de governo teve lugar no anfitrião Brasil, a qual não apenas a presidente deposta, Dilma Rousseff, classifica de 'golpe parlamentar'", diz o jornal.

"Nas últimas semanas, centenas de milhares foram às ruas para protestar contra a posse pseudolegal de Temer. Voaram pedras, a polícia usou gás lacrimogêneo", prossegue, apontando que a aparição na abertura da Paralimpíada deve ser uma grande oportunidade para Temer.

O jornal destacou também o fato de que muitos recursos para garantir as competições tiveram de ser arranjados no último momento. "Uma frase muito citada de Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional [IPC], diz tudo o que você precisa saber sobre o modelo de financiamento de última hora no Brasil: 'Nunca, na história de 56 anos dos Jogos Paralímpicos, vivenciamos condições tão difíceis como aqui'", cita o jornal.

O veículo também apontou a gravidade da situação usando como um exemplo uma visita que o presidente Michel Temer fez ao Parque Olímpico. "Menos de três semanas se passaram desde que os primeiros Jogos para portadores de deficiência em solo sul-americano estavam seriamente comprometidos. Apenas o fato de o ex-presidente interino Michel Temer aparecer pessoalmente no Parque Olímpico para desmentir rumores ilustra o quão dramática estava a situação. Temer não aparece em nenhum lugar onde ele não precisa realmente estar."

Die Zeit: Desigualdade entre Olimpíada e Paralimpíada

O semanário Die Zeit apontou como a contenção de despesas afetou a organização. "Um centro de eventos inteiro foi fechado, um centro de esportes foi adiado. Festas foram canceladas. Telões foram reduzidos e funcionários, dispensados. Por muito tempo houve não estava claro se o IPC seria capaz de pagar pelas despesas de viagens das delegações."

O jornal também lamentou o fato de as competições envolvendo deficientes não receberem a mesma atenção dos Jogos Olímpicos, sendo vistos ainda como um evento secundário. "Talvez no Brasil a desigualdade entre jogos seja mais aparente do que em qualquer outro lugar. Para as Olimpíadas não faltou o dinheiro. Já para as Paraolimpíadas, ele foi cortado."

O semanário ainda diz que os jogos estão ganhando mais espaço na mídia, mas que uma comparação com os Jogos Olímpicos ainda mostra diferenças gritantes. "Os Jogos Paralímpicos têm sido cada vez maiores (...), mas uma análise mais apurada revela que ainda se trata de um universo à parte. [As emissoras alemãs] ARD e ZDF vão transmitir cerca de 60 horas de cobertura ao vivo e 85 horas de streaming ao vivo. Isso é bastante e bom, mas nem se compara às 280 horas ao vivo dos Jogos Olímpicos e às 1.000 horas de streaming."

Die Welt: Relacionamento amoroso conturbado

O diário Die Welt também chama a atenção para as dificuldades de orçamento enfrentadas pelos organizadores. "Os Jogos Olímpicos e o Rio já não foram como um relacionamento amoroso clássico. Problemas com os alojamentos, o transporte de atletas e o aproveitamento das instalações esportivas [arquibancadas vazias] se prolongaram por todos os dias de competição. Os brasileiros só tinham olhos e simpatia para seus próprios atletas e, à luz dos problemas econômicos do país, também outras preocupações", diz o jornal.

"No final dos Jogos remendados provisoriamente, pouco surpreendeu que os fundos do Comitê Organizador estivessem vazios. O orçamento, que originalmente também deveria ser suficiente para os Jogos Paralímpicos, estava esgotado", prossegue a publicação.

Berliner Zeitung: Jogos Paralímpicos não estão realmente presentes

O Berliner Zeitung fez uma comparação com a atenção que os Jogos Paralímpicos de 2012, em Londres, receberam e o atual momento no Rio de Janeiro. Após descrever cenas do centro da cidade brasileira, o jornal concluiu que "os Jogos Paralímpicos não estão realmente presentes".

"Alguns pôsteres podem ser vistos nas ruas [...] Quatro anos atrás, em Londres, foi diferente. O canal britânico Channel 4 transmitiu comerciais com imagens aceleradas e música contagiante", considera o jornal. "O que ainda está sendo construído no Brasil, tem tradição no Reino Unido."