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Parada gay de São Paulo reúne milhares e pede criminalização da homofobia

Marina Estarque, de São Paulo5 de maio de 2014

Público variado participa da 18ª edição do evento, que toma conta da Avenida Paulista. Prefeito e governador dizem valorizar diversidade e defender combate à intolerância.

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Foto: DW/M. Estarque

O recalque passou longe da Avenida Paulista neste domingo (04/05), durante a 18ª Parada do Orgulho LGBT, considerada uma das maiores do mundo. Ao som de músicas como Beijinho no Ombro, hino gay da cantora Valesca Popozuda, milhares de pessoas – num amplo espectro de gêneros, sexos, classes sociais e idades – reuniram-se em São Paulo para lutar por direitos e festejar.

Com o lema "País vencedor é país sem homolesbotransfobia. Chega de mortes! Pela aprovação da lei de identidade de gêneros!", militantes cobraram a criminalização da homofobia e mais direitos para os transgêneros.

"No ano passado o Senado enterrou o PLC 122 [projeto de lei que criminaliza a homofobia]. Foi tirado da pauta de votação sem explicações aceitáveis para a comunidade LGBT", disse, sobre a escolha do tema, o presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, Fernando Quaresma.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, defendeu mais poder para a comunidade LGBT no Congresso. "Vocês colocam 3 milhões de pessoas nas ruas. Nós precisamos transformar isso em votos no Congresso Nacional para a gente poder aprovar as leis", disse.

Segundo a Secretaria Municipal de Direitos Humanos, cerca de 10 mil pessoas foram vítimas de agressões e preconceitos por motivo de orientação sexual no Brasil em 2012. Em 2013, 312 foram assassinadas, de acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia.

Gay Parade in Sao Paulo 04.05.2014
"Eu me vestiria assim todos os dias, mas não me deixariam trabalhar desse jeito", diz DudettyFoto: DW/M. Estarque

Transgêneros em busca de reconhecimento

Além da criminalização da homofobia, a parada deste ano pediu a aprovação da lei conhecida como João Nery, em homenagem ao primeiro transexual brasileiro. A lei permite alterar os nomes registrados em documentos e entende o gênero como "vivência interna e individual", que pode ou não corresponder ao sexo atribuído após o nascimento.

Dudetty Dodonny, transformista de 27 anos que participou da parada gay, diz que aprovou o tema deste ano. "É muito bom porque há muito preconceito contra a pessoa trans. Eu me vestiria assim todos os dias, mas não me deixariam trabalhar desse jeito", afirma, enquanto abana o rosto maquiado com um grande leque.

Já Yara Li Borges, transexual de 21 anos, adotou o visual em tempo integral. De cabelos tingidos de loiro, top e short curto, ela diz que está "básica". Yara trabalha como publicitária e assegura que os colegas de escritório a chamam pelo nome feminino. "No início, estranharam as roupas e o nome, mas depois se acostumaram. Temos que mostrar como realmente somos", afirma, lembrando que o vestuário no trabalho é "mais formal" que o usado na parada.

Fabiano De Góis, psicólogo de 34 anos, é homossexual e elogiou a escolha do lema deste ano. "Achei interessante, porque há um estigma grande contra os transexuais, isso mesmo entre os gays. Não há uma convivência, como deveria", afirma o mineiro, que veio a São Paulo para a sua oitava parada.

Gay Parade in Sao Paulo 04.05.2014
Fabiana compareceu à parada com a filha e a esposaFoto: DW/M. Estarque

Famílias também apóiam

Além de casais e solteiros, a parada também atrai muitas famílias. Niels Celeghin, de 54 anos, veio com a esposa e o filho de três anos. "Quero que ele veja o mundo, sem discriminação", defende, enquanto empurra o carrinho de bebê entre a multidão.

Frequentador assíduo da parada, ele reclama que a manifestação é "pouco política". "Fui muitas vezes ao Canadá, e lá cada trio tinha um tema. Aqui é só festa", afirma. Niels elogia, entretanto, a celebração: "os gays fazem as melhores festas do mundo".

Outro participante a levar a família foi Fabiana Pires, que compareceu ao lado da esposa e da filha Gabriele, de dez anos. "Ela sempre quis vir, mas era novinha e tínhamos medo das brigas e furtos", conta Fabiana. As duas carregavam bandeiras e usavam roupas coloridas. Gabriele não parava de sorrir: "estou achando tudo muito legal".

Íris, de apenas um ano e sete meses, assistiu à parada batendo palmas e com curiosidade. "Você gostou?", pergunta a mãe, Ana Cristina, de 40 anos. Íris responde com um polegar erguido em sinal de positivo, com um arco de gatinha na cabeça.

Menos politizada

O pai, Gustavo Ribeiro, de 36 anos, também costuma frequentar o evento. Ele acredita que a parada perdeu "a sua essência". "Antes era mais engajada. Ao mesmo tempo em que ficou popular, deixou de ser politizada", argumenta.

Assim como ele, diversos frequentadores da parada gay julgam que a manifestação assumiu, ao longo dos anos, um caráter cada vez mais de celebração e menos de luta.

Já para Luiz Antônio Rodrigues, de 62 anos, e Antônio Jailson de Sales, de 48, o simples fato de poder andar de mãos dadas justifica a viagem de Pernambuco a São Paulo. Os dois moram em Exu, uma cidade com pouco mais de 30 mil habitantes.

"Lá não podemos demonstrar afeto em público, apesar de toda a cidade saber sobre nós. Mas aos poucos está melhorando. Fomos os primeiros homens da cidade a morar juntos. Agora já há outros dois casais", contam.

Os empresários, juntos há 15 anos, estiveram presentes em todas as 18 edições da parada. "Não acho que ficou menos politizada. Ainda é uma forma de lutar pelos nossos direitos. Temos que ter pelo menos esse dia. E é muito pouco", afirma Luiz.

Gay Parade in Sao Paulo 04.05.2014
Luiz e Antônio vieram de Pernambuco para defender seus direitosFoto: DW/M. Estarque

Programação vasta

A abertura da parada gay foi realizada durante a manhã, com a presença da ministra Ideli Salvatti, do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do prefeito Fernando Haddad (PT), além de militantes da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, organizadora do evento.

"Cumprimos uma obrigação de defender todos aqueles que se mobilizam contra a intolerância em uma cidade que é marcada pela diversidade", afirmou Haddad. A prefeitura investiu R$ 2 milhões na parada deste ano.

"A injustiça cometida contra um cidadão é uma ameaça para toda a sociedade, e vamos sempre lutar contra a intolerância", disse Alckmin. O governador aproveitou a ocasião para anunciar a futura instalação do Museu da Diversidade em um imóvel na Avenida Paulista, que passa por processo de desapropriação indireta.

O desfile começou por volta do meio-dia na Avenida Paulista. Os 14 trios elétricos seguiram até a Rua da Consolação, terminando por volta das 18h. Em seguida, na Praça da República, foi realizado o show de encerramento, com Pedro Lima, do programa The Voice Brasil, e a cantora Wanessa Camargo. A Policia Militar e a organização do evento não informaram o numero oficial de participantes.