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Palestinos resgatam antiga tática de defesa

Kersten Knipp (mp)8 de setembro de 2015

Habitantes da Cisjordânia fazem vigílias para se proteger de ataques de colonos radicais, que são alvos de críticas também dentro de Israel. Em dez anos, segundo palestinos, foram mais de 11 mil atentados.

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Proteste gegen israelische Siedlungspolitik in der West Bank 19.12.2014
Foto: Abbas Momani/AFP/Getty Images

Celulares, lanternas e alto-falantes das mesquitas – são instrumentos modestos, mas fazem parte da estratégia utilizada pelos palestinos para se protegerem de eventuais ataques de colonos judeus radicais. Durante horas, moradores, em sua maioria jovens, estão em vigília para alertar a vizinhança sobre possíveis ataques.

Os vigias usam o telefone celular para alertar outras aldeias e, dentro da própria vila, usam alto-falantes das mesquitas para avisar os moradores. Nos últimos dias, 25 vilarejos palestinos revitalizaram as vigílias, um método de autodefesa que foi primeiramente usado no final dos anos 1980, durante a Primeira Intifada – insurreição palestina na Cisjordânia.

Após o incêndio criminoso na casa de uma família na cidade de Duma, no sul de Nablus, os palestinos voltaram no tempo e ensaiam as medidas de precaução. Um bebê de poucos meses e seu pai morreram no ataque. A mãe, após cinco semanas no hospital, não resistiu às queimaduras graves e morreu nesta segunda-feira (07/09).

Palästina Baby stirbt nach Brandanschlag durch israelische Siedler
Incêndio criminoso matou um bebê em DumaFoto: Reuters/A. Awad

Defesa limitada

Os palestinos dependem uns dos outros para evitar os ataques. Mas a proteção deve ser criativa, uma vez que as comunidades não têm permissão para o porte de armas – ao contrário dos colonos israelenses.

A Cisjordânia está dividida em três zonas: A, B e C. A Zona A está sob a administração da Autoridade Nacional Palestina (ANP), sendo permitido o uso das forças de segurança locais. A Zona B é administrada em conjunto por palestinos e israelenses. Já a C está sob o controle exclusivo de Israel. Por isso, as vigílias se concentram principalmente nesta última.

"Os ataques de colonos aumentaram nos últimos tempos", constata Abdullah Abu Rahme, responsável pela organização das vigílias no comitê popular da cidade de Blin. "Precisamos impedi-los. Não havia vigilantes em Duma, por isso o ataque aconteceu. É chegada a hora de nós instalarmos novamente os vigias."

Os organizadores garantem que os vigias são eficientes. No início de janeiro de 2014, eles conseguiram prender 18 colonos que atacaram a pequena aldeia de Qusrah, perto de Nablus, durante a noite. Só os libertaram quando militares israelenses chegaram.

Palästina - Israelischer Siedler in Qusra
Colono israelense é contido em QusraFoto: Getty Images/AFP/J. Ashtiyeh

Milhares de ataques

O emprego de sentinelas é um sinal de como os palestinos teme os radicais judeus. O negociador-chefe Saeb Erekat diz que, desde 2004, colonos extremistas realizaram 11 mil ataques a palestinos e suas propriedades. Assassinaram civis, queimaram mesquitas e destruíram áreas agrícolas.

Erekat levanta graves acusações contra o governo Benjamin Netanyahu. "Os ataques aconteceram sob a proteção do governo, sem que os autores fossem levados à Justiça", diz. Ao invés disso, segundo Erekat, as autoridades instigaram os colonos a atacarem mais.

"Nós não podemos fazer qualquer distinção entre grupos terroristas e os colonos porque ambos servem ao mesmo objetivo: limpeza étnica da Cisjordânia", afirma.

Netanyahu condenou o ataque de Duma, assim como o presidente Reuven Rivlin: "No meu povo, há alguns que escolheram o caminho do terrorismo e perderam o seu lado humano".

Na sua página no Facebook, o ex-direitor do serviço de contra-espionagem israelense Shin Bet, Yuval Diskin, condena os ataques dos extremistas. Ele acredita que os fundamentalistas se baseiam na origem histórica da região e tentam implementar assentamentos ilegais. "Qualquer um que acredite que se trata somente de alguns adolescentes alucinados esta cometendo um erro grave", argumenta Diskin.

Bewaffnete israelische Siedler in Hebron Archiv
Colono israelense armado em HebronFoto: picture-alliance/dpa

Críticas em Israel

Os extremistas judeus não são somente uma ameaça para os palestinos. A maior parte da sociedade israelense acredita que a continuação destas ações desenfreadas pode prejudicar a imagem do país.

"As críticas à ocupação são cada vez mais frequentes", escreve o jornalista Akiva Eldar, antigo colunista do jornal Ha´aretz. Os extremistas, continua ele, afetam até mesmo a política interna do país. "As tensões na sociedade israelense crescem, especialmente entre a direita e a esquerda, assim como entre judeus e árabes."

A nova estratégia de defesa dos palestinos e mesmo a condenação da sociedade e das próprias autoridades do país parecem representar muito pouco para o poder dos colonos até o momento.

Um dos indícios disso é que a justiça israelense determinou a libertação dos suspeitos do ataque de Duma que estavam em prisão preventiva.