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Pacifismo encostado na parede

Estelina Farias31 de janeiro de 2003

Apelo para a Europa apoiar uma guerra no Iraque gerou grande excitação na Alemanha e um debate duro sobre o pacifismo alemão. Oposição acusa o governo de isolamento e juristas discutem se ele pode evitar uma guerra.

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Os casais Schröder (dir.) e Blair nos velhos tempos de paz e amizadeFoto: AP

Alemanha e França nem foram consultados pelos chefes de Estado e de governo da Grã-Bretanha, Itália, Espanha, Portugal, Polônia, Dinamarca, Hungria e República Tcheca, antes de divulgarem uma carta comum em vários jornais europeus apoiando o curso belicista do presidente americano, George W. Bush.

A iniciativa do premiê britânico Tony Blair foi considerada por parte da imprensa alemã como uma afronta a Berlim e Paris. Ambos haviam se posicionado contra uma ação militar dos Estados Unidos para desarmar o Iraque e destituir o seu presidente Saddam Hussein, sem aprovação da ONU.

O governo alemão reagiu com outro apelo por uma posição comum dos 15 países-membros da União Européia, dos quais cinco assinaram o manifesto. "O conflito do Iraque mostra a importância de uma política externa e de segurança comum da UE", disse o porta-voz do governo em Berlim, Bela Anda. Ele usou o mesmo argumento dos oito que apóiam a conduta de Bush. "O forte da UE situa-se numa posição comum", disse a voz da coalizão de governo social-democrata e verde.

Isolamento internacional?

Maior partido de oposição, a CDU acusou o chefe de governo, Gerhard Schröder, de empurrar a Alemanha cada vez mais para o isolamento, com o seu categórico não a uma guerra. O Partido Verde rechaçou a acusação, lembrando que ainda na segunda-feira (27) uma clara maioria dos 15 membros do Conselho de Segurança em Nova York defendeu o prosseguimento das inspeções de armas no Iraque pela equipe da ONU. No mesmo dia, os ministros de Relações Exteriores da UE se pronunciaram por unanimidade no mesmo sentido.

O líder do Partido Verde, Reinhard Bütikofer, disse concordar com quase todo o conteúdo da carta comum dos oito líderes europeus, no que diz respeito à necessidade de desarmar o Iraque e de manter a aliança transatlântica, mas destacou que a questão decisiva é: "Por que guerra? E por que agora?" Bütikofer entendeu o documento também como uma advertência. Para ele, os oito também deixaram claro que a solução do conflito tem de passar pelas Nações Unidas.

Não à guerra também na ONU

A Alemanha, que assumirá a presidência do Conselho de Segurança neste sábado, também acha que o caminho é a ONU, mas exige meios pacíficos e adiantou seu voto contra uma eventual resolução que legitime uma guerra. O chanceler federal lamenta a apresentação tardia das novas provas contra o Iraque, que o secretário de Estado americano Colin Powell prometeu exibir ao Conselho da ONU no próximo dia 5. "Se já tivessem colocado essas informações secretas sobre a mesa no início do processo, teriam facilitado o trabalho dos inspetores", disse Schröder. Na véspera do apelo dos oito, ele já havia mostrado ceticismo com as chances de uma solução pacífica do conflito.

Alemanha pode evitar uma guerra?

A Alemanha poderia evitar um ataque militar contra o Iraque, no caso de uma ação isolada dos EUA. Bastaria que o governo alemão proibisse aos americanos o uso de suas bases militares na Alemanha e do espaço aéreo alemão, se quiserem atacar sem a aprovação da ONU. Pelo menos é o que diz um parecer dos Serviços Científicos do Parlamento em Berlim (Bundestag), solicitado pelo deputado da CDU, Hans-Peter Uhl. As bases militares dos EUA em solo alemão são importantes para uma possível intervenção no Iraque.

O governo alemão é terminantemente contra um ataque militar ao Iraque. Schröder nega uma participação direta da Alemanha numa guerra. Mas, na cúpula da OTAN, em novembro de 2002, ele prometeu aos americanos liberdade para usarem suas bases. O secretário-geral do SPD, Olaf Scholz, justificou tal liberação como obrigação da Alemanha na condição de membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Juristas do Bundestag contradizem essa opinião em seu parecer. Argumentam que os estatutos da OTAN e os acordos adicionais só admitem o direito automático de uso das bases e de sobrevôos para operações normais ou no caso da aliança militar lançar mão da cláusula que prevê a defesa de um aliado quando ele é agredido por terceiros. Quer dizer, se um aliado é agredido todos os outros aliados devem cair de pau em cima do agressor. Status e acordos não prevêem guerra preventiva, como seria o caso agora, pois o Iraque não atacou os Estados Unidos.