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País sem filhos

(sv)17 de maio de 2005

A baixa taxa de natalidade é um dos grandes problemas da Alemanha no momento. Entre as razões estão poucas creches, uma sociedade avessa a crianças e a imagem do jovem bem-sucedido e sem filhos.

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Creche antes dos três anos de idade: luxo puroFoto: BilderBox

Embora não atinja apenas a Alemanha, mas praticamente todos os países industrializados, o baixo índice de reprodução no país vem preocupando cada vez mais as autoridades. As taxas de natalidade diminuem a cada ano e levam a crer que a tendência dos alemães é querer ter cada vez menos filhos. Hoje, 15% das mulheres do país se dizem avessas à idéia, ao lado de 26% dos homens.

Análises superficiais apontam uma supremacia do pensamento econômico como a razão deste tipo de comportamento. Um argumento que, tomando o "resto do mundo" como parâmetro, chega a ser irônico. Visto que a Alemanha é um dos países mais ricos do planeta.

De quem é a culpa?

Kinderbetreuung in Deutschland Kinder-PISA
Foto: dpa

Fato é que o número de crianças no país parece inversamente proporcional à riqueza da sociedade. E por existirem cada vez menos crianças que pulam no lugar errado e gritam no momento inadequado, a sociedade vai se tornando cada vez mais avessa a elas.

Segundo o Instituto de Pesquisa Populacional, sediado em Wiesbaden, cada alemã em idade reprodutiva possui apenas 1,3 criança. O que representa a taxa de natalidade mais baixa de toda a União Européia. E com o seguinte detalhe: 20% destas poucas crianças que vivem hoje na Alemanha têm um ou dois pais estrangeiros.

O modelo "papai-mamãe" parece fadado definitivamente ao esquecimento. Diante da gravidade da situação – para manter a população como ela está seriam necessárias duas crianças por mulher – o governo e a mídia vão em busca da "culpa" pela situação.

"Mães desnaturadas"

Kindergartenkinder
Foto: AP

A discussão vai da falta concreta e óbvia de creches para crianças abaixo de três anos até a análise dos modelos sociais, veiculados pela sociedade no decorrer das últimas décadas. Ou seja, além do fato de as mulheres que têm filhos serem obrigadas a fazer de tudo quando querem trabalhar, são ainda chamadas de mães desnaturadas, que entregam seus filhos "como fazem os corvos" – uma alusão aos animais que expulsam cedo suas crias do ninho.

Só para se ater ao primeiro problema: as creches do país (Kitas) só têm capacidade para abrigar 3% do número de crianças abaixo de três anos. Uma situação que muito difere de outros países europeus como a França ou a Suécia, onde jardins de infância e creches não são raros e costumam ficar abertos em tempo integral. E, acima de tudo, países onde mães de crianças abaixo de três anos, que trabalham normalmente, não são vistas quase como criminosas.

Política familiar sustentável

Literaturfestival Familienminister Renate Schmidt in der Grundschule
Ministra Renate Schmidt lê histórias para crianças de escola primáriaFoto: AP

Diante da dicotomia Hausfrau (dona de casa) ou mulher de negócios sem filhos – uma vez que o meio-termo é dificilmente possível – boa parte das mulheres do país com curso superior completo abdica da maternidade. Entre as que têm até 35 anos, 60% não têm filhos.

Uma pesquisa encomendada pela ministra alemã da Família, Renate Schmidt, revela que o país necessita urgentemente de uma "política familiar sustentável". Uma política que permita "a diversidade do comportamento feminino", como analisa o semanário Die Zeit.

O pontapé inicial em direção a uma mudança de comportamento na sociedade deve ser dado, de início, na reforma do discurso social. Um discurso que ainda traz como ideal o modelo do yuppie bem-sucedido, livre para viajar quando quer, sempre de posse de seu notebook. E, claro, sem filhos.