País dos lobbies
7 de agosto de 2003A lista de associações de classes registradas junto ao Bundestag, o parlamento alemão, inclui 1781 representantes, desde a poderosa Federação dos Agricultores Alemães até a menos significativa Associação dos Petshops. Ao todo, há pelo menos cinco mil pessoas em Berlim ocupadas em despertar a atenção e a adesão de políticos e funcionários dos altos escalões ministeriais para os interesses que defendem. Com a mudança da capital de Bonn para Berlim, o lobbyismo adquiriu uma nova dimensão na Alemanha.
O peso dos lobbies ficou patente nos recentes debates sobre a reforma do sistema de saúde. Desprezando todas as advertências, os representantes dos médicos, das caixas de saúde e da indústria farmacêutica fizeram de tudo para impor seus interesses. Afinal, o setor movimenta ao ano 220 bilhões de euros e emprega mais de quatro milhões de pessoas.
"A Alemanha tornou-se um país dos lobbyistas", lamenta Christine Scheel, do Partido Verde, presidente da Comissão de Finanças do parlamento. "Quem grita mais alto consegue se impor mais cedo. Assim não dá." Segundo a catedrática berlinense de política Barbara Riedmüller, que há alguns anos compôs o governo municipal social-democrata, "falta à elite política a coragem de enfrentar as representações de classes".
Problema antigo
Não é de hoje que se ouvem reclamações sobre a "Alemanha, república dos lobbies". Tampouco são novas as tentativas de impor um limite ao poder dos lobbyistas. Na década de 70 tentou-se em vão criar uma lei que regulamentasse a atuação das representações de classe. O que agrava o problema hoje em dia é que o trabalho de associações e sindicatos se reforça por meio de um sem-número de agências de relações públicas, escritórios de advocacia especializados e assessores políticos autodesignados.
Nem mesmo os grandes conglomerados não confiam seus interesses apenas às representações de classe. Das 30 empresas que compõem o DAX, o mais importante índice da Bolsa de Valores de Frankfurt, 20 já têm uma representação própria em Berlim. "As inter-relações entre a política e o empresariado se tornaram tão estreitas que dificilmente alguém pode renunciar a ter um escritório em Berlim", afirma Wolf-Dieter Zumpfort, que representa na capital a maior operadora de turismo do mundo, a TUI.
Troca de posição
Zumpfort, que já foi deputado federal pelo Partido Liberal, é um dos exemplos não mais raros de políticos que mudam de lado: o ex-deputado social-democrata Dieter Spöri cuida hoje da imagem da DaimlerChrysler; o social-cristão Hansgerog Hauser trabalha para o Commerzbank; o ex-ministro da Economia Günter Rexrodt compõe a diretoria da WMP Eurocom, uma consultoria em RP.
O bairro em que se concentram os órgãos governamentais é o local de trabalho ideal para lobbyistas. É lá também que ficam alguns dos melhores restaurantes berlinenses, bem como o luxuoso Hotel Adlon, que promove muitos eventos proveitosos aos contatos.
O cientista político Ulrich von Alemann é generoso em sua avaliação: "O Estado continua governando a todo vapor. O lobbyismo governa um pouquinho junto. E isto até que não é mau".
Mesmo os opositores já se conformaram que lobbyistas façam parte do aparato democrático. A Transparência Internacional, organização que porta em sua bandeira o combate à corrupção, também inscreveu-se na lista de associações do parlamento — sob o número 1386 e o verbete "crimes financeiros".