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Os efeitos do terrorismo para o turismo internacional

Frederike Müller (sv)16 de dezembro de 2015

A representante da Organização Mundial do Turismo (OMT), Sandra Carvão, fala em entrevista sobre desafios, alertas e efeitos de longo prazo do terrorismo para a indústria do turismo no mundo.

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Foto: picture-alliance/dpa

O aumento no número de atentados terroristas no mundo tem abalado o setor do turismo. Ataques em destinos tradicionais como Egito, Tunísia, Marrocos ou Paris deixam os turistas apreensivos. A porta-voz da Organização Mundial do Turismo (OMT), Sandra Carvão, fala sobre os efeitos de longo prazo do terrorismo para a indústria.

DW: A OMT condenou os atentados na Tunísia, no Monte Sinái, no Quênia e em Paris. Por que os terroristas têm cada vez mais turistas como alvo?

Sandra Carvão: Vivenciamos no momento uma ameaça global, com atentados acontecendo em lugares diversos do mundo. Os turistas são vítimas da mesma forma que os residentes – lembremos por exemplo de Paris. Os terroristas atacam os lugares dos quais esperam os maiores efeitos de seus atos. Na Tunísia, por exemplo, o turismo é um dos principais setores da economia nacional, o que faz com que o país seja vulnerável aos ataques.

Como os turistas reagem? Eles viajam agora para Maiorca em vez de irem para o Monte Sinai? Preferem Portugal ao Norte da África?

Sandra Carvão: "Não devemos parar de viajar"
Sandra Carvão: "Não devemos parar de viajar"Foto: UNWTO

Vamos ficar no exemplo da Tunísia. Quando a Revolução de Jasmin, em 2011, abalou o país, com grandes tumultos em todas as regiões, foi perceptível uma redução imediata das reservas turísticas. No entanto, até 2014, a Tunísia acabou se recuperando. Observamos que, em situações como essa, outros destinos turísticos tornam-se mais atraentes. Em muitos casos, contudo, os mercados se recuperam de maneira admiravelmente rápida. É claro que tudo depende do destino de viagem em questão.

A situação em 2015 é outra?

Não podemos, no momento, dizer como os atentados recentes irão surtir efeito sobre o turismo global. Sempre há acontecimentos trágicos, isso é infelizmente um fato – de catástrofes naturais a ataques terroristas. Se nos detivermos aos números, vamos detectar, porém, que os únicos anos nos quais houve um recuo sensível no turismo internacional foram os de 2001 e 2003. No primeiro em função dos atentados do 11 de setembro em Nova York; no outro caso, por causa da pandemia de Sars em 2003. E tivemos também, é claro, a crise dos bancos em 2009. Em todos os outros anos, o turismo internacional permaneceu em constante crescimento.

A OMT empenha-se seriamente por um turismo ético, sustentável e em prol da paz. Há um turismo pela paz?

O turismo pode incentivar o conhecimento e a compreensão mútuos, contribuindo, assim, para a paz. Ele, pode, portanto, dar impulsos positivos, especialmente em países nos quais a economia se encontra destruída após guerras ou catástrofes naturais. Depois de conflitos e crises, o turismo pode dar uma contribuição importante para o desenvolvimento social e econômico de um país, contribuindo assim também para a reconstrução. Penso em países como a Croácia, o Cambodja e o Sri Lanka, para citar apenas alguns exemplos.

Às vezes, algumas regiões só voltam a ser acessíveis em função do turismo. Isso acaba oferecendo benefícios às pessoas que vivem em regiões rurais, longe das grandes cidades. Vendo sob essa perspectiva, o turismo pode ter efeitos estabilizadores em prol da paz em uma região. O turismo pode também incentivar a compreensão cultural, ou seja, viajar promove a convivência entre as pessoas. Essa é uma tarefa importante.

Os pacotes fechados de viagem, com "tudo incluído", não são bem assim.

O "all inclusive" é um modelo de negócios do turismo global. Em algumas regiões, esta é a única possibilidade de se posicionar no mercado. Nós acentuamos, porém, que os turistas podem sair sozinhos, entrar em contato com a população local, experimentar a comida do lugar e, assim, contribuir para fomentar a economia local. Verificamos que cada vez mais turistas querem fazer exatamente esse tipo de experiência. Percebemos isso, por exemplo, no crescimento da procura pelo agroturismo ou por viagens de aventura, bem como por viagens temáticas, como, por exemplo, a regiões vinícolas. E há cada vez mais ofertas neste setor. Essas viagens não só possibilitam conhecer os nativos, como surge daí também uma cooperação estreita em termos de trabalho com as pessoas do lugar.

O turismo individual também é criticado. Especialmente quando começam a aparecer turistas demais. Quando o turismo começa a ter um efeito de provocação? Ele pode ser um elemento desencadeador do terrorismo?

Guiar as massas de turistas em todo o mundo é um dos grandes desafios do setor. Um setor que cresceu enormemente nos últimos anos e é um dos fatores econômicos mais importantes internacionalmente. Isso tem efeitos muito positivos sobre o desenvolvimento socioeconômico dos lugares de destino das viagens: cria-se empregos, e a cultura é preservada. É comum que grande parte das receitas sejam reinvestidas na proteção e preservação de bens culturais e espaços naturais. A sustentabilidade precisa se tornar parte das estratégias de crescimento. Muitos lugares que recebem turistas já desenvolveram mecanismos para isso, como por exemplo anúncios públicitários convidando para viagens fora das altas temporadas, no decorrer de todo o ano, e também ofertas de regionalização.

Em Amsterdã, por exemplo, existe um projeto interessante. A ideia é deixar claro para o viajante que não vale a pena conhecer somente o centro da cidade, mas também os subúrbios. As regiões periféricas em torno da cidade são anunciadas como "Praia de Amsterdã" ou "Castelo de Amsterdã". Esse é um exemplo de gerenciamento construtivo de visitantes. Turista em excesso não é problema. Gerenciar as correntes de turistas é que é um desafio.

A OMT é uma organização especial das Nações Unidas, com sede em Madri, que congrega 157 Estados e mais de 480 membros do setor privado. A meta da OMT é incentivar um turismo que apoie a ética e a sustentabilidade, bem como os interesses de países em desenvolvimento no setor do turismo.