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Opinião: É hora de as mesquitas ajudarem contra o terrorismo

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
15 de julho de 2016

Governo francês precisa da ajuda das comunidades muçulmanas, que têm o dever de agir para acabar com o ódio. O terrorismo não é uma luta "nós contra eles", mas uma ameaça a todos, afirma a correspondente Barbara Wesel.

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Barbara Wesel é jornalista da DW
Barbara Wesel é correspondente da DW para assuntos europeus em Bruxelas

O atentado desta quinta-feira (14/07) em Nice foi tirado diretamente do manual do "Estado Islâmico" (EI): "Tornem-se lobos solitários e cometam ataques onde vocês moram", aconselhava a organização terrorista aos seguidores na Europa, já dois anos atrás. Para tal podiam ser empregados como armas também automóveis ou outros artefatos do dia a dia.

Agora se vê na cidade francesa de Nice a eficácia mortal desse método: investir com um caminhão contra uma multidão em festa é uma forma de assassinato em massa difícil de ser impedida. Ainda assim, o governo de François Hollande se encontra agora sob forte pressão por as forças de segurança não terem identificado o criminoso mais cedo e por obviamente continuarem carecendo de uma visão aprofundada dos meios fundamentalistas islâmicos.

Este é o terceiro atentado grave na França em um ano e meio, além de diversos assassinatos isolados, por exemplo de policiais. Até agora os franceses reagiram à ameaça terrorista com compostura e determinação admiráveis. O espírito de resistência era forte, mesmo após a série de ataques ao clube Bataclan e a restaurantes em Paris.

"Não deixaremos que destruam nosso modo de vida" era a mensagem da maioria no país. Mas por quanto tempo essa corajosa serenidade resistirá, diante do atual banho de sangue em Nice? O espírito republicano dos franceses, sua lealdade ao Estado e sua firmeza de propósitos na crise estão sendo submetidos a uma árdua prova.

Para o presidente Hollande, porém, este novo atentado significa o fim político. No início do ano, de fato, ele reagiu com dureza, procurando coibir a ameaça com o endurecimento de leis e o estado de emergência. Ao mesmo tempo, contudo, perdeu a oportunidade de reformar o caos dos diferentes serviços secretos no país e criar um único e poderoso departamento antiterrorismo.

No contexto dos ataques em Paris, ficou demonstrado que, apesar de todas as advertências, cometeram-se erros, denúncias se perderam e suspeitos não foram detidos a tempo. As famílias das vítimas do Bataclan estão agora processando o Estado por possível negligência.

Entre a gendarmeria, a polícia, o Ministério do Interior e os serviços secretos parece haver um buraco negro. Hollande deveria ter passado por cima das ciumeiras burocráticas e submetido as forças de segurança a um comando central.

Talvez o chefe de Estado ainda consiga aproveitar a nova crise para impor reformas. Mas é melhor ele desistir da ideia de se candidatar à reeleição no próximo ano. Agora o perigo político parte da ultradireitista Frente Nacional. Não é injustificado o temor de que mais este atentado possa impelir os eleitores inseguros para ela.

Mas, para o que quer que resolva empreender agora, o governo francês precisa da ajuda das comunidades muçulmanas. Não é a questão de apontar o dedo para elas e responsabilizá-las. Mas também o assassino de Nice tinha uma família, amigos, vizinhos. Ninguém notou nada nem teve suspeitas? Nesse ponto precisa urgentemente haver uma mudança de mentalidade, pois também esse agressor era francês. A ameaça vem de dentro, não de fora.

Está mais do que na hora de suspender toda falsa solidariedade com os "irmãos de fé". O terrorismo ameaça toda a França, ele não tem nada a ver com uma luta "nós contra eles", pois também ameaça o futuro e a segurança dos muçulmanos nas sociedades ocidentais.

O pior que pode acontecer agora seria a direita incitar os franceses não religiosos, os cristãos e os islâmicos uns contra os outros. Os líderes e imames das comunidades precisam finalmente usar de todos os meios para acabar com os pregadores do ódio em suas mesquitas e na internet. Eles têm o dever de agir, tanto quanto o Estado francês.