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Opinião: Sim ao crucifixo

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Felix Steiner
1 de maio de 2018

Por sua tradição e poder histórico, a cruz cristã é muito mais do que um pertence da Igreja Católica e de seus clérigos. Onde está de fato o escândalo que tem sido encenado há dias na Baviera, questiona Felix Steiner.

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Syrien Krieg - Evakuierungen in Aleppo
Foto: Internationales Komitee vom Roten Kreuz/Foto: Pawel Krzysiek

De novo o crucifixo – o que está acontecendo neste país? Estava claro que haveria críticas à decisão do governador da Baviera, Markus Söder, de mandar pendurar um crucifixo na área de entrada de repartições públicas em seu estado.

Certas associações islâmicas gostam de enfatizar o quanto se sentem marginalizadas em tudo que é possível. E até mesmo o número crescente de ateus reivindica de forma cada vez mais clara seu suposto direito de, por favor, nunca e em nenhum lugar serem incomodados pela religião – seja pelo sino da missa de domingo ou pela proibição de dançar na Sexta-feira Santa.

Mas à frente do coro dos críticos estão as principais mentes das igrejas cristãs, particularmente as da Igreja Católica. À frente de todos, o arcebispo de Munique, o cardeal Reinhard Marx. Segundo ele, o crucifixo foi expropriado em nome do Estado – e este não tem o direito de explicar o significado do crucifixo.

O cardeal deveria ficar feliz por ser o presidente da Conferência Episcopal na Alemanha, porque ele dificilmente poderia ocupar este cargo na Suíça, na Escandinávia, na Grécia, na Sérvia, na Eslováquia, na Geórgia ou no Reino Unido.

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Felix Steiner é editorialista da DW

Por quê? Cruzes decoram as respectivas bandeiras nacionais – os símbolos do poder do Estado, par excellence! "Escândalo" e "parem o ladrão", estariam gritando por lá o cardeal e seus aliados. E há quem fique surpreso com o fato de todos eles ficarem em silêncio diante de cruzes de ferro em qualquer tanque, caça ou navio de guerra da Bundeswehr – embora várias centenas de muçulmanos sirvam às Forças Armadas da Alemanha há bastante tempo. E a Bundeswehr certamente não executa guerras santas.

Não, a Igreja Católica não tem o monopólio sobre o crucifixo. A cruz é uma expressão de identidade cristã que moldou a Europa durante séculos. A Baviera, a Alemanha e, de fato, toda a Europa certamente não teriam sua forma atual sem essa característica cristã. Especialmente porque muitos direitos e liberdades foram conquistados em confrontações com a Igreja. Quem não sabe ou não quer admitir pode simplesmente ler um livro sobre a história cultural da Europa.

É mais do que irônico quando é deixado justamente para Ahmad Mansour, um muçulmano de origem palestina, elucidar a situação em horário nobre na televisão alemã: "Nós não mostramos às pessoas que vêm a nós valores claros. Isso é um grande déficit. A frase 'nós vamos conseguir' [slogan usado pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, no auge da crise migratória] não é suficiente"!

E é exatamente sobre isso que se trata na Baviera – não sobre marginalização, mas sobre qual espírito e com quais valores se deve trabalhar nas repartições públicas do estado. Valores que evoluíram ao longo de séculos e que abrangem o espaço cultural da Sicília à Lapônia. Valores que ninguém quer deixar de ter aqui – e passaram a ser atraentes a mais e mais pessoas de outras partes do mundo.

Sim, claro que um crucifixo no saguão não define uma boa administração ou escola. Para tal, precisa-se de pessoas que carregam esses valores, que façam com que outros os sintam. Mas certamente serve como lembrete, missão e advertência.

E não, cardeal: o crucifixo e sua mensagem não pertencem à Igreja e aos clérigos. A cruz representa muito mais. Ela serve – veja o início deste texto – até como uma maldição. Mas já que o Deus cristão é um Deus gracioso, ele certamente me perdoará por isso.

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