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Opinião: Resultado da cúpula do G20 poderia ter sido pior

Dagmar Engel
8 de julho de 2017

Entre excessos de violência e conflitos de interesses gritantes, não há como considerar a conferência das 20 principais economias um sucesso. Nem simbolicamente, opina a jornalista da DW Dagmar Engel.

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Donald Trump (esq.) e Angela Merkel na conferência de cúpula em Hamburgo
Donald Trump (esq.) e Angela Merkel na conferência de cúpula em HamburgoFoto: Getty Images/U. Michael

Podia ter sido pior na cúpula do G20. Não no tocante às brutais arruaças em Hamburgo, que dificilmente poderiam ter sido piores. Violência, destruição, saques numa dimensão como, na verdade, não se vê na Alemanha. Poderia ter sido pior no que concerne o resultado do encontro desses 19 Estados mais a União Europeia. Só a configuração dessa roda já bastaria para fazer suar quem quer que pretendesse produzir um documento final unânime.

Dagmar Engel é chefe da sucursal de Berlim da DW
Dagmar Engel é chefe da sucursal de Berlim da DW

Lado a lado, encontravam-se verdadeiros democratas, autocratas juramentados e violadores contumazes dos direitos humanos, alguns de veste branca, outros respondendo a processos por corrupção. E, entre eles, um chamado Donald Trump, que se encarrega de aumentar a tensão com sua descarada e maciça política de "America first".

Sob tais condições, talvez fosse o caso de se dar por satisfeito com o resultado da cúpula. Espantosamente, todos concordaram no rechaço ao protecionismo. Quem achar que está sendo tratado injustamente, deve respeitar as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) ao se defender: esse é um comprometimento com o multilateralismo, como desejado pela chanceler federal alemã e atual presidente do G20, Angela Merkel. E é também uma vitória dela, elogiada tanto pelo presidente francês quanto pelo russo.

Em relação ao clima, porém, só mesmo sendo um expert absoluto em declarações finais políticas para poder detectar um êxito nesse ponto. Os Estados Unidos se desligarão do Acordo de Paris – é o que consta do comunicado, preto no branco. Esta é a primeira vez, na história do G20, que se registra uma dissensão. Mas pelo menos os demais 19 se mantiveram coesos quanto ao acordo internacional do clima. Como dito: poderia ter sido pior.

Em tempos como os atuais, contudo, isso não basta. Boas ideias, como fortalecer a participação feminina, um novo acordo com a África – planos de ação para cadeias de abastecimento aqui, iniciativas de educação digital ali – não são suficientes. O G20 não conseguiu dar um novo rosto à globalização.

Por todo o mundo, muitos estão seguros de que a economia mundial não visa o bem de todos, mas sim, apenas, de alguns poucos. Ao fim, Merkel declarou que as ações da sociedade civil, antes da cúpula e nas manifestações pacíficas, teriam dado sua contribuição e tido uma influência. Esta não se fez sentir. O G20 não progrediu, não se aproximou mais dos cidadãos.

Antes da conferência, acusou-se Merkel de querer, neste ano eleitoral na Alemanha, gerar imagens simbólicas de si como bem-sucedida protagonista internacional. As imagens simbólicas de Hamburgo são bem outra coisa.