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Resgate da Opel

1 de junho de 2009

Pacote para salvar Opel fortalece a empresa e ajuda seus empregados. Mas por ser uma intervenção estatal na economia de mercado, empréstimo de 1,5 bilhão de euros é também mau exemplo, opina Karl Zawadzky.

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O salvamento da Opel teve um preço alto, em vários aspectos. O governo federal e os governos dos estados onde a montadora mantém unidades de produção colocarão à disposição, a curto prazo, um empréstimo-ponte de 1,5 bilhão de euros e, mais tarde, o reposicionamento da Opel, com garantias bancárias no valor de vários bilhões de euros.

O resgate da Opel também é caro por ser um gesto para outras empresas em dificuldades devido à recessão. E, finalmente, também é preciso considerar preocupações em relação à política pública, pois não combina com a economia de mercado o fato de durante várias décadas os ganhos terem sido privatizados e que agora os prejuízos sejam repassados à coletividade.

Outros que enfrentam dificuldades já estão a caminho de Berlim, a fim de garantir sua sobrevivência com o dinheiro do contribuinte. E, como no caso da Opel, a ameaça de desemprego é usada como argumento.

No caso da Opel, tradicional fabricante de automóveis há 80 anos nas mãos do gigante norte-americano General Motors, correm perigo quatro unidades de produção, com um total de mais de 25 mil postos de trabalho.

Os motivos para isso não são apenas a falência da matriz, mas também décadas de má gestão. Por causa da política de modelos ditada por Detroit, a Opel foi forçada a oferecer modelos dificilmente aceitos no mercado europeu. Há muito tempo seus negócios não iam bem. Também no mercado doméstico a General Motors cometeu erros e mais erros, ficando sua existência ameaçada.

A subsistência da General Motors depende da ajuda da Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos e, segundo o desejo do presidente Barack Obama, ela deve ser saneada através de concordata, da mesma forma como sua concorrente Chrysler.

O objetivo do governo alemão é preservar a Opel dos efeitos da insolvência da matriz. Isso parece dar certo com a entrada do fabricante de autopeças austríaco-canadense Magna e de outros investidores da Rússia.

Foram cortados assim os fluxos de caixa entre a sede da Opel em Rüsselsheim, próximo a Frankfurt, e a sede da General Motors em Detroit. A GM transferiu as patentes dos modelos da Opel à subsidiária alemã e abriu o caminho legal para sua independência da matriz.

Até a assinatura definitiva do contrato, o capital da Opel será repassado a um administrador fiduciário. Isso evita que a Opel seja atingida pela insolvência da empresa-mãe. Além disso, segundo o acordo entre a General Motors e o consórcio liderado pela Magna, a GM passará a ter participação minoritária na Opel. Um argumento a favor da Magna é que a empresa, além de ser um dos maiores fornecedores automotivos do mundo, há muito tempo também desenvolve e constrói automóveis, por exemplo, para fabricantes renomados como a Daimler e a BMW.

Magna dispõe não só de uma boa situação financeira, como também tem experiência na construção de veículos. A participação de investidores russos abre uma nova perspectiva à Opel, uma vez que a Rússia é, para a indústria automobilística, um dos principais mercados em crescimento. Ao investir neste mercado, a Opel pode garantir uma longa sobrevida, ao produzir grandes quantidades a baixos custos.

Da forma como está, separada do conglomerado GM, a Opel é muito pequena para ter chances de sobreviver à forte concorrência e ao excesso de capacidade produtiva do setor automotivo mundial. Para garantir uma existência de longo prazo, o crescimento rentável é condição essencial.

Neste sentido, naturalmente que o resgate da Opel se dá em detrimento da concorrência e por isso é acompanhado com preocupação e comentários críticos pelos executivos de outros fabricantes. Também os contribuintes têm motivo para preocupação. Se falhar o regate, o Estado terá de amortizar o empréstimo e pagar aos bancos as garantias de vários bilhões de euros.

Não só por isso o ministro alemão das Finanças, Karl-Theodor zu Guttenberg, havia apelado para que a Opel fosse saneada através de uma insolvência, semelhante ao caso da matriz norte-americana, mas também porque o ministro sente que deve zelar pela ordem política no governo federal.

É difícil de harmonizar o resgate por parte do Estado com princípios de economia de mercado. Além disso, o resgate da Opel abriu um precedente para muitas outras empresas ameaçadas, que exigem ajuda do Estado da mesma forma como este ajudou a Opel.

Autor: Karl Zawadzky
Revisão: Augusto Valente