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Opinião: Renzi leva novos ares à política italiana

Bernd Riegert (ca)25 de fevereiro de 2014

Novo premiê italiano teve grande início de mandato. Se mantiver o dinamismo, o país pode realmente vir a mudar. E isso também seria bom para a Europa, opina o articulista da DW Bernd Riegert.

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A mudança de geração no primeiro escalão da política italiana aconteceu numa velocidade estonteante. Parabéns, Matteo Renzi! Até agora, o ex-prefeito de Florença fez jus ao apelido que ganhou em alusão a um personagem de desenho animado: o "Ligeirinho" da política italiana. Renzi, que acabou de completar 39 anos, assumiu somente em dezembro a presidência do Partido Democrático, de orientação socialista, obrigando o antigo primeiro-ministro a renunciar e montando em tempo recorde um novo gabinete de governo.

Sua subida ao poder também traz consigo uma novidade. Foi a primeira vez que uma mudança de governo aconteceu na Itália através de um golpe interno do partido. Renzi pretende governar por quatro anos, sem ter que pedir votos aos eleitores. Muitos italianos questionam sua legitimidade.

O social-democrata, que se vê como um pragmático em vez de um ideólogo, logo formou uma coalizão com o pequeno partido conservador de Angelino Alfano, ministro do Interior italiano. Isso também se desenrolou incrivelmente bem. Após ganhar a moção de confiança nas duas câmaras do Parlamento em Roma, Renzi pode iniciar o seu governo.

Deutsche Welle Bernd Riegert
Bernd Riegert, articulista da Deutsche Welle

A cada mês, o político, que gosta de ser comparado com o ex-premiê britânico Tony Blair e o Novo Trabalhismo de centro da década de 1990, pretende levar à frente uma reforma radical no enferrujado sistema italiano: mercado de trabalho, administração, sistema fiscal, Judiciário. Nos últimos três anos, três primeiros-ministros fracassaram em implantar essas reformas. Se Matteo Renzi conseguir esse feito, seria um avanço inesperado.

Digna de menção é a estratégia de Matteo Renzi de incluir uma figura ainda muito importante no bloco conservador, o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, no cenário da mudança de governo. Renzi encontrou-se várias vezes com o chefe do partido Força Itália, que mesmo sem cargo político ainda possui grande influência.

Berlusconi elogiou o adversário político Renzi, por ser jovem e dinâmico e por fazer o velho Silvio lembrar um pouco do jovem Silvio, que um dia também quis virar o sistema na Itália de cabeça para baixo. Ainda não se sabe exatamente o que Renzi prometeu a Berlusconi para conseguir o seu apoio. Ambos combinaram uma reforma de um sistema eleitoral complexo e injusto, que Berlusconi introduziu no país há alguns anos.

Matteo Renzi reduziu e rejuvenesceu radicalmente o seu gabinete de governo – uma amostra da reforma administrativa no aparato estatal italiano, demasiadamente grande e dispendioso. Os ministros são, em parte, inexperientes, em parte tecnocratas sem vivência política. O próprio Renzi nunca exerceu um cargo político ou parlamentar em nível nacional.

Isso pode ser uma vantagem, já que ele pretende limpar, remover os destroços, como ele mesmo diz. Ele não precisa se preocupar com panelinhas existentes. O resto da Europa só pode esperar que ele consiga conduzir a Itália de forma estável para fora da crise. Pois a recuperação da Itália é decisiva para a sobrevivência da união monetária do euro.

O futuro curso político, econômico e financeiro deverá estar a cargo do ministro Carlo Padoan. O atual economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington e assessor do governo italiano. O economista tem experiência em gestão, mas nunca exerceu cargo político. Padoan pretende aumentar a pressão sobre o Grupo do Euro e o Banco Central Europeu, para que aceitem um maior endividamento estatal e uma política monetária mais expansiva.

No OCDE, ele defendeu a receita americana para combater a crise financeira: Quantative Easing. Ou em português: imprimir dinheiro. Ele defende o contrário do que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, tem imposto em Bruxelas até agora. As reuniões do Grupo do Euro deverão ser bem interessantes nos próximos meses. A princípio, o novo dinamismo deverá agradar aos mercados financeiros. Eles ainda não deverão punir o governo Renzi com custos mais elevados para os títulos do governo.

No final de maio, o jovem governo de Renzi terá de superar o seu primeiro teste de resistência. Nas eleições para o Parlamento Europeu, os italianos poderão dar uma confirmação ou uma lição a Renzi. Caso ele venha a impor as anunciadas reformas em regime de emergência, pode fazer com que sindicalistas, funcionários públicos e aposentados se voltem contra ele. Pois eles terão que se sacrificar.

Por outro lado, ele poderia ganhar para os socialistas os votos dos muitos jovens acadêmicos desempregados e sem esperança. Ele poderia retirá-los do movimento dos frustrados e decepcionados, o Movimento 5 Estrelas, liderado pelo ex-comediante Beppe Grillo. O eurocético Grillo poderia, assim, sair decepcionado das eleições europeias.

A Itália está diante de uma era emocionante. A Europa almeja uma Itália estável, que consiga sair da crise com suas próprias forças. Coragem, vigor e energia não faltam ao novo chefe de governo italiano. Agora ele só precisa de uma boa dose de habilidade e sorte.