1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Opinião: Quando querem, Merkel e SPD sabem se acertar

12 de janeiro de 2018

Documento final da sondagem mais parece o rascunho de um acordo de coalizão do que meras linhas gerais de governo. Ainda assim, obstáculos para que se chegue lá permanecem, opina o jornalista Christoph Strack.

https://p.dw.com/p/2qlPd
Horst Seehofer (CSU), a chanceler alemã Angela Merkel e o líder social-democrata Martin Schulz
Horst Seehofer (CSU), a chanceler alemã Angela Merkel e o líder social-democrata Martin SchulzFoto: picture alliance/dpa/abaca/M. Gambarini

Eles só precisavam entrar em acordo. E entraram. Agora, a União Democrata Cristã (CDU), o Partido Social-Democrata (SPD) e a União Social Cristã (CSU) querem iniciar negociações para formar uma coalizão de governo na Alemanha – contanto que, em nove dias, o congresso nacional dos social-democratas dê seu aval.

Depois de quatro dias com sinais de "clima positivo" pelos negociadores, ainda foi necessária uma maratona de negociações que durou 23 horas e que não tem precedentes na formação de governos na Alemanha. Pois é.

Christoph Strack, jornalista da DW
Christoph Strack é jornalista da DWFoto: DW

Agora, há um pacote, e ele parece mais o rascunho de um acordo de coalizão do que um acerto sobre as linhas gerais de um programa de governo, o que era o objetivo dessas sondagens preliminares. "Queremos renovar a coesão", diz Martin Schulz, líder do SPD. E a chanceler Angela Merkel coloca o acerto como pré-condição para que, "em 10 ou 15 anos, ainda se possa viver bem na Alemanha".

O documento é nitidamente mais abrangente do que se esperava. Vê-se claramente onde qual partido abriu mão do quê. E, parcialmente, ele surpreende: "Europa" – e isso é um sinal muito importante – não é mais um tema nas últimas páginas do documento, mas compõe a introdução em três páginas fundamentais para uma "arrancada da política europeia". Em comparação, a política externa ficou mais para trás. Mas, pelo menos, esse ponto finalmente exclui exportações de armamentos a países envolvidos na guerra no Iêmen.

Das iniciativas da política interna, fazem parte um "pacto para o Estado de Direito", "pela Justiça". No fim, não haverá aumento de impostos (pleiteado pelos social-democratas). Em troca, os planos de saúde estatais (uma briga aberta há muitos anos) deverão novamente ser pagos em partes iguais por empregados e empregadores. E deverá haver uma aposentadoria solidária [que deverá garantir um valor mínimo de aposentadoria para quem contribuiu menos]. E o imposto chamado Solidaritätszuschlag deverá ser eliminado de forma gradual.

Também há uma margem de manobra notoriamente apertada no âmbito dos temas relacionados a refugiados. Isso já começa com o fato de que "refúgio" estar incluído no tópico "imigração". E a reunião familiar de refugiados, a princípio, está prevista: em algum momento, sim, mas com limites estreitos.

É de se destacar o papel do presidente alemão até o fim das negociações. O acordo desta sexta-feira (12/01) é resultado da pressão que o chefe de Estado exerceu em tempos políticos graves. Isso fortalece a importância desse cargo, que costuma ser ridicularizado como sem poder. Esta semana, Frank-Walter Steinmeier aproveitou a oportunidade oferecida por duas recepções de Ano Novo para enviar palavras de advertência aos negociadores. "Todos os olhares estão voltados para os partidos e seus líderes", disse na terça-feira. "Todos se perguntam como as coisas vão ou devem continuar – e com todo o direito", continuou. Nesse momento, a líder da CDU, Angela Merkel, e muitos membros de seu gabinete estavam escutando, assim como o líder social-democrata Martin Schulz.

Na quinta, Steinmeier reiterou, diante do corpo diplomático, que CDU, CSU e SPD não têm obrigações apenas para com os próprios partidos e com o próprio futuro político, mas que também grande responsabilidade perante a Europa e a política internacional. Nesse discurso soou a clara advertência de que Steinmeier apostaria no Parlamento alemão – custasse o que custasse. "Quem se candidata a assumir uma responsabilidade política não pode se eximir dela", havia dito o presidente há quase dois meses, quando fracassaram as sondagens para a formação de uma coalizão "Jamaica" [negociada por CDU, CSU, Partido Verde e Partido Liberal].

A declaração valia também para esta semana. Para Merkel, Schulz e Horst Seehofer [CSU] isso significava: eles precisavam entrar em acordo.

Esta noite em Berlim não trouxe mais do que apenas uma nova etapa intermediária. Se a formação de um governo, iniciada no fim de setembro, for vista como corrida de obstáculos, este acerto dos negociadores foi apenas uma pequena barreira diante do obstáculo do dia 21 de janeiro em Bonn, durante o congresso nacional dos social-democratas. E quando essa barreira for ultrapassada, ainda haverá a das negociações formais.

Continua valendo: a Lei Fundamental (Constituição) não prevê nem negociações de coalizão nem sondagens. O drama atual não pode se repetir após o congresso do SPD, nas negociações formais para a formação de governo. Pois, quase quatro meses depois das eleições legislativas, a Alemanha precisa de uma virada, de um sinal. A população espera por isso há mais de cem dias. Esta sexta-feira envia um sinal, surpreendente em muitos aspectos. Eles só precisavam entrar em acordo.

Christoph Strack Repórter, escritor e correspondente sênior para assuntos religiosos@Strack_C