Opinião: Pouco avanço em Bratislava
Quem esperava que o encontro dos líderes europeus, realizado na Eslováquia nesta sexta-feira (16/09), viesse a chacoalhar a Europa, sacudindo tudo de cabeça para baixo e terminando num renascimento da comunidade de países, vai ficar decepcionado. Em Bratislava, ninguém falou de um grande passo à frente. Em vez disso, houve planos para a proteção conjunta de fronteiras, para mais cooperação na área de defesa e, além disso, alguns novos projetos contra o desemprego juvenil.
Na capital da Eslováquia, os chefes de Estado e governo da União Europeia (UE) tomaram decisões pequenas.
Nos dias que antecederam à cúpula, ninguém se preocupou em esconder o seu desânimo com a Europa. Dizia-se que a situação da UE é crítica, que a união sofre ameaças, até mesmo existenciais. O encontro dos líderes europeus ameaçava afundar em clima de apocalipse. Mas a UE é resiliente e já superou muitas crises. Além disso, a maioria de seus políticos ainda a considera insubstituível.
Num ponto, eles estiveram completamente de acordo: para grandes discursos e visões, não há mais espectadores. Bratislava significou o fim do pathos na Europa. E ninguém vai sentir falta, a não ser nas cerimônias de entrega do Prêmio Carlos Magno. Em vez disso, os líderes europeus pretendem fazer algo quase revolucionário: oferecer pequenas soluções para problemas concretos. Será que vão conseguir?
Chefes de governo, como a chanceler alemã Angela Merkel, tendem facilmente à fragmentação. Que cidadão com medo de perder o seu emprego se importa com o propagado futuro digital ou com o uso da tecnologia 5G em celulares? Algumas regiões da Europa necessitam de grandes programas estruturais para que essas áreas esquecidas possam se equiparar ao bem-estar de regiões ricas. Nesse ponto, não se pode esperar por planos de investimento da União Europeia baseados na multiplicação milagrosa de recursos financeiros. A estabilidade do euro importa, mas o futuro da Europa é ainda mais importante: é preciso afrouxar, temporariamente, a política de austeridade econômica, pois sem dinheiro, a conversa de "ações para os cidadãos" continua vazia.
Em Bratislava, ele voltou gago e cambaleante ao cenário europeu: mas o motor franco-alemão só avança a velocidade de caminhada. Mesmo assim, não é algo destoante. Para Merkel e o presidente francês, François Hollande, um pouco de movimento é melhor do que nada. Os dois líderes querem cooperar mais nas áreas de defesa e segurança interna. A proposta, no entanto, tem prazo de validade: em maio do próximo ano, os franceses vão escolher um novo presidente. Basicamente, todas as tentativas de reforma não têm sentido – de alguma forma, a UE precisa sobreviver o ano de 2017. Porque vai haver eleição na Holanda, na França e na Alemanha. Só depois será possível pensar em algo com uma reorganização europeia.
No final do encontro, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, afirmou que a cúpula teria sido um fracasso porque a política de refugiados de Bruxelas permaneceu inalterada. Com sua retórica populista de direita, o líder húngaro é, atualmente, o maior agitador. Com ele, não há acordo: na UE, Orbán é uma força de destruição.
Mas também o premiê italiano, Matteo Renzi, voltou amuado para casa. Ele está descontente porque não conseguiu nenhuma concessão com vista a investimentos na Itália, obtendo também pouca ajuda na crise dos refugiados. Ambos os temas foram largamente encobertos. Por trás da aparente harmonia, permaneceram profundas divergências. A trégua de Bratislava vai durar só temporariamente. Pois nada foi resolvido de verdade.