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Opinião: Otan deu resposta correta à Rússia

10 de julho de 2016

O que a Aliança Atlântica decidiu em Varsóvia não tem nada de Guerra Fria. Pelo contrário: é uma política inteligente, que firmou as bases para diálogos futuros, opina o jornalista Bernd Riegert.

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Riegert Bernd

A Otan está agitando seu sabre, mas de forma bem suave. Em termos militares, os quatro batalhões que serão destacados na fronteira leste não são uma ameaça para as tropas russas, muito mais fortes. É improvável que Moscou se deixe impressionar – e ninguém na Aliança Atlântica esperaria tal reação.

Para a Otan, se trata muito mais de demonstrar unidade – e de mostrar para os Estados bálticos, antes ocupados pela União Soviética, e outras ex-repúblicas soviéticas, antes sob o Pacto de Varsóvia, que a Aliança Atlântica entende suas preocupações.

Ninguém na Otan acredita que a Rússia pretende atacar um membro da aliança ou lançar ataques híbridos como o perpetrado pelos "homenzinhos verdes" russos no leste da Ucrânia. Para a Otan, o presidente russo, Vladimir Putin, busca outra coisa: assegurar a influência russa em Ucrânia, Belarus, Geórgia, Moldávia, Azerbaijão e Armênia.

E isso ele conseguiu. Belarus é um aliado. Os outros países estão envolvidos em conflitos inflamados, em parte, pela própria Rússia. Nenhum desses Estados pode se tornar membro da Otan com esses "conflitos congelados". E assim deve ser por anos, talvez décadas.

É assim também que a recente visita de Putin à Finlândia deve ser entendida. Moscou deixou claro para os finlandeses, que volta e meia acenam com uma aproximação com a Otan, que a Finlândia tem uma fronteira longa e potencialmente vulnerável com a Rússia.

A Otan, por sua vez, deixou claro para a Rússia, com sua reunião em Varsóvia, que Moscou não pode ir adiante. Foi essa também a mensagem de membros ocidentais da Otan não necessariamente ameaçados. Até aqui, Putin falhou em tentar dividir a Aliança Atlântica.

O sistema de defesa antimísseis na Polônia, em parte já em operação, também não é uma ameaça. Tecnicamente, é incapaz de parar os ICBM russos. Está ali, no melhor dos casos, contra ameaças vindas do Irã. E o Kremlin sabe disso, é claro – mesmo que, publicamente, repita o contrário.

Com isso agora resolvido, não há obstáculo para um novo diálogo. O Conselho Otan-Rússia pode ressuscitar. Putin falou ao telefone com Obama, Hollande e Merkel. Houve diálogo no mais alto nível. E assim deve ser, dado que Rússia e países da Otan têm os mesmos interesses políticos: a guerra na Síria, a defesa contra o terrorismo islâmico, a situação no Afeganistão e no Irã – sem falar nos interesses econômicos comuns.

A cúpula de Varsóvia estabeleceu o tom para as interações entre as duas partes, que deverão ser firmemente baseadas na realpolitik. Mas há perdedores nessa dupla estratégia da Otan de diálogo e ameaça: Ucrânia e Geórgia. Elas terão que se acostumar com o fato de que a Rússia será por muito tempo uma pedra em seu sapato, e que não há nada que a Otan possa – ou queira – fazer.

Putin deve ficar cercado onde está. Mas uma saída da Crimeia – ou um recuo na Abecásia ou na Transnístria – continua uma ilusão. E isso tem pouco a ver com a Guerra Fria. Naquela época, dois blocos ideologicamente hostis, armados até os dentes, colocaram centenas de milhares de soldados frente a frente na Europa Central.

Hoje, o número de forças convencionais é menor. Democracias estão diante de um regime, chefiado por Putin, que não segue nenhuma ideologia, mas é com frequência mais errático e menos previsível que a liderança soviética em sua busca por riqueza e poder. A resposta que a Otan deu ao Kremlin é a correta.

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.