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Opinião: O pacote de ajuda que não ajuda ninguém

19 de agosto de 2015

Assim como os pacotes de resgate anteriores, também o atual não vai resolver o problema da Grécia. É hora de uma solução mais radical, como um corte da dívida, opina o jornalista econômico Henrik Böhme.

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Deutsche Welle Henrik Böhme Chefredaktion GLOBAL Wirtschaft
Henrik Böhme é jornalista da redação de economia da DWFoto: DW

Não haviam dito que o contribuinte nunca mais deveria pagar a conta se em algum lugar algum banco viesse a enfrentar problemas? Essa havia sido a promessa dos políticos após a falência do Lehman Brothers e a crise internacional que se seguiu.

Bilhões e mais bilhões de dinheiro de impostos foram utilizados para salvar bancos que agonizavam. Agora bancos europeus balançam novamente e são mais uma vez socorridos com dinheiro de impostos. Pois é exatamente isso que vai acontecer quando os principais bancos da Grécia receberem os 25 bilhões de euros previstos no pacote de ajuda que os europeus prepararam para seu membro problemático.

Os bancos gregos enfrentam problemas porque seus clientes retiraram dinheiro em larga escala. Estes agiram assim porque perderam totalmente a confiança nos políticos de seu país, que haviam prometido resolver os problemas.

Ou porque acreditam que o ministro das Finanças da Alemanha é uma pessoa malvada que queria roubar suas poupanças. Ou porque eles viram o que ninguém poderia deixar de ver: como esse terceiro pacote de ajuda vai surtir algum efeito se os dois anteriores não contribuíram para melhorar a situação da Grécia?

A situação está complicada. A Grécia é um poço sem fundo, e o único efeito que o novo pacote de ajuda financeira pode ter é, mais uma vez, acalmar a situação por um certo tempo. Já foi assim após o primeiro e o segundo pacotes, que injetaram 240 bilhões de euros em créditos de emergência nos caixas de Atenas ao longo de cinco anos. E o mesmo ocorreu após a redução da dívida, em 2012, quando houve um corte de 170 bilhões de euros da montanha de débitos.

É de se apostar que em dois, três anos, a dança começará de novo, só que sem Zorba, o Grego. Mas com europeus irritados, que por sinal precisam resolver problemas completamente diferentes.

Só que: quais são as opções? Expulsar os gregos da zona do euro e devolver a eles o dracma, como um renomado economista de Munique declara sempre que há um microfone na sua frente? Nossa formidável ideia de uma Europa unida vale tão pouco? Quem não consegue que se mande? É claro que o projeto europeu tem erros dramáticos em sua construção. A crise grega nos permite identificar esses erros e adotar correções. Mas a Europa também deve significar solidariedade, deve ser capaz de encontrar uma maneira de resolver coletivamente o problema na Grécia.

É possível entender as razões de cada membro do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) que votou contra um novo pacote de ajuda para a Grécia. Mas não basta simplesmente dizer não. Deve-se também propôr ideias, sugestões e alternativas para manter os gregos na zona do euro.

É preciso virar o jogo de verdade. E isso só pode acontecer com um corte radical nas dívidas, o que também tem o apoio do Fundo Monetário Internacional. Em Washington, por sinal, muitas pessoas estão cansadas de toda hora ter que lidar com um país economicamente insignificante na periferia da Europa, enquanto tantos outros membros paupérrimos do FMI têm problemas bem diferentes.

Sugerir corte de dívida para a Grécia não é algo bem-vindo em Berlim, mas mesmo lá se sabe há muito tempo que não há outra saída. Só o nome é que terá que ser outro. Mas esticar o prazo de vencimento para 60 anos é a solução errada: ninguém que está hoje lidando com esse problema vai vivenciar isso. É preciso ter coragem – coragem para dizer a verdade, o que, no pior dos casos, pode pôr em risco o próprio cargo.

A Grécia precisa ter a oportunidade de construir um sistema econômico que produza renda, um sistema tributário que arrecade impostos. Deve poder dar perspectiva a seus cidadãos para que eles não pensem em transferir seus recursos para o exterior.

Se isso será possível durante o mandato do primeiro-ministro Alexis Tsipras, cujo governo até agora tem antes de tudo custado dinheiro ao país, é difícil de acreditar. Mas isso os gregos devem decidir. Do jeito que a coisa anda, novas eleições serão convocadas em breve.

A Europa, por sua vez, precisa mostrar a sua melhor faceta e ajudar com uma espécie de Plano Marshall. Essa seria também a melhor resposta às várias forças antieuropeias que vêm se formando há muito tempo. Não só em Atenas, mas também em várias outras capitais.