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Opinião: Nunca é tarde para EUA se desculparem por Hiroshima

11 de maio de 2016

Passadas sete décadas desde a bomba atômica, Obama será primeiro presidente americano a visitar a cidade japonesa. Um pedido de perdão não está previsto, mas seria um sinal de força, opina o jornalista Alexander Freund.

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Alexander Freund, chefe do Departamento Ásia da DW
Alexander Freund é chefe do Departamento Ásia da DWFoto: DW/Christel Becker-Rau

Seria mesmo preciso passarem-se 71 anos até um presidente dos Estados Unidos em exercício se declarar disposto a visitar Hiroshima? Não para se desculpar em nome da última superpotência restante – isso, a Casa Branca excluiu de antemão –, mas apenas para visitar o local onde são recordadas as vítimas do primeiro lançamento de uma bomba atômica.

Ainda assim, o gesto tem grande peso simbólico. Mas também é só. Barack Obama nem mesmo viaja especialmente para fazer tal gesto, ele já está no Japão para participar da cúpula do G7. Em vez de se desculpar, consta que o chefe de Estado americano pretende, juntamente como o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, se engajar "pela paz e segurança num mundo sem armas atômicas".

O secretário de Estado John Kerry já dera o exemplo a Obama no início de abril, ao participar do evento memorial anual em Hiroshima, como primeiro chefe da diplomacia dos EUA. Tampouco dele partiram palavras de desculpas, mas somente olhares sérios.

E, aliás, como o Vietnã fica praticamente no caminho, antes da breve passagem pelo Japão Obama igualmente visita o antigo adversário de guerra dos EUA. Também lá o assunto não são os ônus do passado comum, mas sim o futuro, isto é, a ampliação das relações bilaterais.

Setenta e um anos, duas visitas, nenhum pedido de desculpas: eu acho isso vergonhoso. Cada país precisa saber como lida com seu passado, mas fico feliz por nós, alemães, termos encarado a nossa culpa. Essa confissão de culpa era a pré-condição para um perdão, e só assim foi possível uma reconciliação.

Há quem descarte isso como fraqueza ou excesso de processamento do passado, mas sempre considerei um sinal de força o então chanceler federal alemão Willy Brand ter ficado de joelhos em Varsóvia.

Bem, ninguém espera que Obama se ponha de joelhos diante das vítimas da bomba atômica. E a dimensão das atrocidades nacional-socialistas não é comparável com os lançamentos das bombas, por mais condenáveis que tenham sido.

Mas, em sua visita a Hiroshima, o presidente americano deveria se desculpar pelo sofrimento causado. Pois o emprego de armas atômicas foi um crime que não se justifica nem mesmo pelo fato de que, sem ele, a guerra no Pacífico possivelmente teria durado muito mais, e que uma invasão teria causado a morte de numerosos inocentes.

Isso talvez até proceda, mas, mesmo assim, a utilização de armas atômicas foi uma transgressão. Todos sabiam disso, o mais tardar depois de Hiroshima; o lançamento sobre Nagasaki só serviu para os EUA testarem uma nova arma e demonstrarem poder – diante dos japoneses, mas sobretudo diante da Rússia. Lá a superpotência norte-americana mostrou pela primeira vez seus músculos nucleares, colocando em movimento a espiral do armamento atômico cujos efeitos se sentem até hoje.

É louvável Obama querer se pronunciar "pela paz e segurança num mundo sem armas atômicas", ao lado do premiê Abe; mas foi exatamente essa maldição que os EUA colocaram no mundo com o lançamento de duas bombas, 71 anos atrás.

Obama deveria assumir essa culpa histórica em Hiroshima. Perto do fim de seu mandato, o portador do Prêmio Nobel da Paz – quase nos esquecemos disso – não tem mesmo mais nada a perder. E ele ganharia reconhecimento, pois um pedido de perdão pode muito bem ser um sinal de força.

O mesmo se aplica, aliás, ao premiê japonês, igualmente incapaz de se desculpar junto aos países vizinhos pelos crimes de guerra imperiais. Uma admissão de culpa, entretanto, seria a condição para um perdão sem o qual não é possível uma conciliação verdadeira com os vizinhos Coreia e China.