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Mudança de tom do Irã traz esperança ao debate nuclear

Jamsheed Faroughi (av)10 de novembro de 2013

Apesar de aiatolá Khamenei, responsável por anos de estagnação nas negociações, manter papel decisivo na política iraniana, sanções ocidentais forçam Teerã a mudar discurso. Jamsheed Faroughi comenta.

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Não é inédito uma conferência sobre o programa nuclear do Irã encerrar-se sem resultados, como foi o caso da segunda rodada de negociações, neste sábado (09/11). Novo foi o fato de, desta vez, Teerã não ter jogado para ganhar tempo e de não ter feito o papel de estraga-prazeres. Pelo contrário: o país estava bastante disposto a fazer concessões, não sendo o culpado pelo fracasso das negociações.

Como interpretar essa guinada do Irã no conflito nuclear, da teimosia irredutível a uma política externa aberta ao consenso? Não é este o mesmo país que, durante décadas, protagonizou exclusivamente manchetes negativas? Não é o país que, sob a presidência de Mahmud Ahmadinejad, com sua retórica agressiva e política externa provocadora, estava praticamente isolado?

Tudo começou com as eleições presidenciais. Desde sua posse, há pouco mais de três meses, o novo presidente iraniano, Hassan Rohani, vem emitindo sinais positivos em direção à comunidade internacional. Esse já era motivo suficiente para que se antecipasse com otimismo a nova rodada de conversações com Teerã. Só que essa é apenas a metade da verdade.

Deutsche Welle Persische Redaktion Jamsheed Faroughi
Jamsheed Faroughi, chefe da redação iraniana da DWFoto: DW/P. Henriksen

Não há dúvida de que o líder religioso supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, segue tendo a última palavra nos assuntos nacionais. Assim, é impensável uma mudança de curso em tema tão importante quanto o programa nuclear sem a aquiescência dele.

Foi Khamenei o responsável pelos anos de estagnação nas conversas, e não sua marionete, Ahmadinejad. O que o levou a se desviar da velha política atômica, trilhando um caminho inteiramente diverso, juntamente como o novo presidente?

No tocante ao Irã, a resposta é relativamente simples: tiveram efeito tanto as sanções contra as exportações de óleo bruto e gás, quanto a exclusão do país do sistema financeiro internacional. Sanções só são eficazes quando doem – e essas doeram, sem sombra de dúvida.

Os negócios petroleiros reduziram-se drasticamente, com uma queda de faturamento de, no mínimo, 50%. O fundo do poço foi atingido em 2012, e custou ao Irã quase o equivalente a 30 bilhões de euros. Em 2013, a situação financeira é ainda mais crítica do que um ano antes.

Obviamente são graves as consequências econômicas das sanções sobre os combustíveis fósseis para o Irã, país cuja receita depende até 70% diretamente das exportações de petróleo e gás natural. Entre esses efeitos estão a radical desvalorização da moeda nacional, a inflação galopante, a escalada do desemprego em todo o país, a falta de perspectivas para a sociedade jovem, a insatisfação generalizada.

Juntos, todos esses fatores obrigaram os detentores de poder a dar uma guinada política. Em relação ao conflito nuclear, durante anos o Irã procurou ganhar tempo. Agora, os conservadores são forçados a ver que o tempo corre contra eles. Porém, mesmo para uma solução diplomática, o prazo não é infinito.

Todos precisam entender que um acordo com Teerã na questão atômica é vital para a solução pacífica do conflito. Essa conquista se constituiria numa genuína conclusão do tipo win-win, na qual as duas partes do conflito ganham, trazendo vantagens para todos os envolvidos.

É certo que nem todos estão satisfeitos com uma aproximação entre o Irã e o Ocidente. Pelo contrário: os opositores do acordo são numerosos e estão por toda a parte, também no próprio país – um fato que não se pode esquecer.

Desde as eleições presidenciais, sopra sobre o país o wind of change – vento da mudança. Entretanto não se pode ignorar a força do vento contrário. Não se deve interpretar o atual silêncio dos ultraconservadores como um sinal de anuência. Todo adiamento desnecessário proporcionará o fortalecimento dos linhas-duras, e não só no Irã. Não há dúvidas: o verdadeiro trabalho começa agora.