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Tiro de advertência

3 de julho de 2008

A decisão do Banco Central Europeu de elevar a taxa de juros a 4,25% tem seus riscos. Porém é a estratégia correta, para evitar uma recessão mundial como na década de 1970. Karl Zawadzky dá sua opinião.

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O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, e os demais membros do conselho do BCE deixaram claro seu compromisso com a estabilidade de preços na zona do euro, segundo rezam os estatutos da instituição. No entanto, não deixa de ser problemático elevar as taxas de juros, ao final deste ciclo conjuntural. Naturalmente trata-se de um freio para a economia, que não se fará sentir imediatamente, mas sim com uma defasagem de seis meses.

DW Experte Karl Zawadzky
Karl ZawadzkyFoto: DW

Ficarão mais caros os créditos com que as empresas financiam seus investimentos e com que a população financia seu consumo. Tal fato pesará sobre a demanda, e é justamente esta a intenção. Trata-se de reduzir a demanda através do encarecimento do dinheiro, o que, por sua vez, dificultará a imposição de preços cada vez mais altos no mercado.

Contudo, a conjuntura pode suportar a elevação da taxa de juros em 25 pontos-base até os atuais 4,25%. Mais importante é o sinal de que os guardiões da estabilidade querem romper a mentalidade de inflação, antes mesmo que entrem em ação os temidos "efeitos da segunda rodada". Isto é, antes que os sindicatos reajam aos preços ascendentes com maiores exigências salariais e que em seguida as empresas elevem ainda mais seus preços, devido ao encarecimento da mão-de-obra.

Num prazo de poucos meses, a taxa de inflação na zona do euro chegou a 4%, na Alemanha ela circula em torno de 3,3%. Assim o limite de 2% estipulado pelo BCE foi claramente extrapolado; a Alemanha registra a maior alta dos últimos 15 anos.

Como agravante, há o fato de que a cabeça do fantasma da inflação não se levantou apenas na Europa: os preços explodem em todo o mundo, em muitos países ainda mais do que no Velho Continente. A era da conjuntura favorável, com preços relativamente estáveis, ficou ultrapassada em curto espaço de tempo, devido ao impulso inflacionário internacional.

O motivo é a explosão dos preços das matérias-primas, sobretudo do petróleo e gás natural, assim como a dramática alta dos gêneros alimentícios. Tal explosão se deve em parte à especulação galopante nos mercados de matérias-primas, mas, sobretudo, ao aumento da demanda nos países emergentes, em especial na China e na Índia. Nestes, a expansão da indústria exige energia e materiais, enquanto a classe média cresce e se aproxima dos padrões ocidentais de alimentação.

Não há uma oferta que responda ao grande acréscimo da demanda. Tal fato impulsiona os preços para o alto – e isto em tempos de globalização total. Neste contexto, a elevação das taxas de juro da zona do euro faz sentido, sobretudo se outros bancos centrais – precisamente os dos países emergentes – também seguirem a iniciativa.

Está claro que é problemático impor mais um freio à conjuntura – em si, já debilitada – através da alta dos juros. Mas a meta é romper com a mentalidade inflacionária, antes que ela se expanda ainda mais. Pois quanto mais os bancos centrais demorarem a reagir, mais alto será o preço do combate à inflação. Na década de 70, quando a alta dos preços decorrente do choque do petróleo também ameaçava sair do controle, o caminho de volta à estabilidade de preços teve que passar pelo longo e profundo vale de uma recessão global.

Esta situação não precisa se repetir, caso o sinal do banco central seja compreendido e acatado, ainda mais considerando que inflação ainda é relativamente moderada – excetuadas as matérias-primas e os alimentos. O tiro de advertência para os potenciais especuladores de preços veio na hora certa. (av)

Karl Zawadzky é chefe da editoria de Economia do programa em alemão da DW-RADIO.