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Medidas concretas

3 de abril de 2009

Os céticos não se viram confirmados: a cúpula do G20 definiu uma série de medidas concretas. Sarkozy e Merkel retornaram de Londres muito satisfeitos. Karl Zawadzky comenta.

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A cúpula dos vinte principais países industrializados e emergentes não resolveu todos os problemas relativos ao combate à crise financeira global e à recessão mundial, mas fez avanços consideráveis.

O resultado do encontro realizado em Londres está longe de ser um consenso mínimo. Pelo contrário, houve um avanço no sentido de estabilizar os mercados financeiros e reforçar a esperança de conter a tendência mundial de baixa. Isso deu certo sobretudo por dois motivos.

Por um lado, a crise financeira global e a recessão mundial não permitiram aos chefes de Estado e de governo do G20 se perder na falta de compromisso. Por outro lado, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, conseguiram impor sua exigência de uma maior regulamentação do setor financeiro. Seu êxito se deve ao fato de isso corresponder às intenções do novo presidente norte-americano Barack Obama.

Em Londres, Obama não expressou mais seu desejo por maiores estímulos à conjuntura. Antes os Estados Unidos estão reconhecendo o empenho considerável dos países europeus.

Se a função estabilizadora dos sistemas sociais for contada como parte dos programas conjunturais, por exemplo, a Alemanha está à frente dos EUA em suas despesas com o combate à crise, calculadas com base no Produto Interno Bruto.

Os participantes da cúpula sobre a situação financeira mundial se concentraram no combate às causas da crise. Estas residem claramente no fracasso do Estado ou do próprio mercado em controlar o setor financeiro. Por praticar uma regulamentação frouxa e fechar os olhos, as autoridades de controle permitiram exageros e excessos que acabaram afetando o mundo inteiro.

O escândalo pode ser localizado. Os responsáveis por esta má conduta são a Wall Street, em Nova York, e a City of London. Lá se desenvolveram produtos financeiros duvidosos para embelezar os balanços dos bancos e elevar o faturamento dos banqueiros a níveis escandalosos.

O que teve um efeito não menos significativo foi o fato de outros bancos terem comprado e negociado esses produtos e de as autoridades de controle terem assistido a essas transações. Em consequência disso, todos os mercados, produtos e agentes financeiros deverão ser submetidos a um controle mais rigoroso no futuro.

O sinal da cúpula é claro: será feita uma reforma profunda do sistema financeiro global, a fim de se poder reconhecer tendências errôneas e excessos antes que estes se tornem perigosos e a fim de impedir que colapsos de grandes bancos e outros institutos financeiros repercutam no resto da economia. Nesse sentido, as autoridades de controle deverão cooperar mais com o Fundo Monetário Internacional, identificar riscos de mercado e propor medidas para prevenção da crise.

Isso também significa que o poder financeiro do Fundo Monetário Internacional será duplicado e a até triplicado a médio prazo, a fim de que a instituição possa respaldar melhor os países-membros em turbulências financeiras. Tanto os grandes fundos de hedge, como as agências de rating serão submetidos a regulamentação; paraísos fiscais não serão mais tolerados.

O G20 quer resistir às tentações do protecionismo, o que inclui a promessa de que os grandes países industrializados e emergentes não vão desvalorizar suas moedas por razões de competitividade. Por fim, os países em desenvolvimento receberão apoio durante a crise, razão pela qual as condições financeiras do Banco Mundial serão melhoradas.

A estratégia de Merkel e Sarkozy deu certo: diante da assustadora proporção da crise, este era um momento oportuno de conciliar instrumentos e procedimentos que permitem prevenir má conduta e excessos dos mercados financeiros. Quando a conjuntura reaquecer, o ímpeto de reforma vai esmorecer.

A recusa de outros estímulos à conjuntura por parte de Merkel e Sarkozy também é sensata. Segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional, as medidas tomadas até agora vão ocasionar um crescimento global de 2% até o fim do próximo ano. Seria o caso de já pensar no tempo após a crise, quando se deverá amortizar o monte de dívidas que cresce enormemente. Após o combate e a prevenção da crise, este será o próximo grande esforço.

Autor: Karl Zawadzky

Revisão: Rodrigo Rimon Abdelmalack