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Opinião: CDU de Merkel parte "de volta para o futuro"

7 de dezembro de 2016

"Antigamente tudo era melhor" poderia ser um bom resumo do que se viu em Essen. Democrata-cristãos mostram cansaço e falta de empolgação com a dura campanha eleitoral que se inicia, opina o jornalista Christoph Strack.

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Christoph Strack é jornalista da DW
Christoph Strack é jornalista da DWFoto: DW

O congresso da União Democrata Cristã (CDU) na cidade de Essen era para ser o da arrancada para uma campanha certamente dura – há quem prefira suja – para as eleições parlamentares de 2017. Em vez disso, virou um atestado da difícil situação do partido.

"Orientação em tempos difíceis" é o título da moção aprovada por unanimidade pelos delegados, no encerramento do congresso. O aplauso durou de dois a três segundos – não exatamente o que se costuma chamar de euforia.

Os números da reeleição de Angela Merkel como presidente democrata-cristã, após seu monótono discurso, foram só o começo. Alguns classificaram benevolamente os 89,5% dos votos obtidos de "realistas", para outros eles foram "decepcionantes". Afinal de contas, os delegados também castigaram os vice-presidentes partidários, deixando todos abaixo do resultado da chanceler federal alemã.

Em termos de conteúdo, a legenda fez repetidamente uma curva em direção ao "de volta". A própria Merkel expressou o desejo de uma assim chamada proibição da burca (fato que recebeu pelo menos tanta atenção no exterior – quer na Inglaterra ou Turquia, quer em Israel ou nos Estados Unidos – quanto na Alemanha). Ainda em setembro, evocando a liberdade de religião, a chefe de governo rechaçara uma interdição generalizada, defendendo "diretrizes de ação precisas" em casos individuais.

Nesta quarta-feira (07/12), segundo dia do congresso, a frustração com a coalizão governamental com o Partido Social-Democrata (SPD) ficou explícita. Por exemplo, nos pontos nevrálgicos aposentadoria, casamento de menores ou no combate às campanhas de ódio na internet. Ou, especialmente, ao se propor o fim da dupla cidadania para os filhos de imigrantes.

No entanto, essa pretendida abolição do passaporte duplo foi também um exemplo da exaustão das bases da CDU: 319 exigiram esse passo, 300 queriam manter o modelo vigente. Entre estes, o ministro do Interior, Thomas de Maizière, e o secretário-geral Peter Tauber, como deixaram claro em seus discursos.

No fim, quem decidiu mesmo a questão foram os 382 (!) democrata-cristãos que sequer participaram da votação. O mais tardar nesse momento, o orgulhoso número de 1.001 delegados se revelou um mero conto das 1.001 noites.

O congresso de Essen não foi nenhuma arrancada para a CDU – ao contrário dos congressos na mesma cidade em 1985 (com corajosas resoluções políticas relativas à família) e 2000 (com a primeira eleição de uma líder do sexo feminino, Angela Merkel). Não, esse congresso não representa uma mudança de curso com nova orientação, mas com retro-orientação.

Isso se fez sentir, por um lado, entre alguns delegados, particularmente dos estados onde a União Democrata Cristã sofreu derrotas eleitorais no primeiro semestre do ano. O partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) foi raramente mencionado, mas estava no ar.

Além disso, foi justamente a ala jovem da CDU a, com perceptível prazer, agitar os ânimos políticos: contra a dupla cidadania, contra as reivindicações das mulheres, a favor do serviço militar obrigatório (nesse ponto não conseguiram se impor).

É muito significativo quando a assim chamada juventude partidária marca pontos com temas desse gênero. Exausta ao fim de um ano difícil, a CDU trabalha para o lançamento, no próximo ano difícil, da quarta parte de um grande filme: De volta para o futuro.

Christoph Strack Repórter, escritor e correspondente sênior para assuntos religiosos@Strack_C