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Crise na Opel

Karl Zawadzky (ca)18 de novembro de 2008

Após encontro com a diretoria da construtora de automóveis Opel, o governo alemão disse que anunciará, até o Natal, se atenderá ao pedido de garantias feito pela subsidiária alemã da GM. Karl Zawadzky comenta.

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Diferentemente do governador do estado alemão de Hessen, Roland Koch, que, em reação ao pedido de socorro da montadora Opel, pediu logo proteção para toda a indústria automotiva alemã e pretende disponibilizar 500 milhões de euros do orçamento estadual para ajuda imediata, os líderes da coalizão de governo em Berlim começaram por analisar a situação da empresa afetada.

Essa postura só merece elogios, pois a subsidiária alemã da fabricante norte-americana de automóveis General Motors não está agudamente ameaçada de falência. Também sob o ponto de vista da neutralidade da concorrência é problemático o fato de um Estado ajudar empresas que, seja lá por qual razão, encontram-se ameaçadas.

DW Experte Karl Zawadzky
Karl ZawadzkyFoto: DW

A diretoria e o conselho de empresa da subsidiária alemã da General Motors (GM) pediram auxílio ao governo federal e aos governos dos estados em que mantém unidades de produção para o caso de a matriz pedir insolvência e não mais saldar os créditos que tem com a subsidiária alemã. Mas isso é ainda somente um cenário de horror, porque, nos EUA, está sendo elaborado um pacote de ajuda de 25 bilhões de dólares para as três grandes empresas automotivas – General Motors, Ford e Chrysler.

É a hora e a ocasião de refletir em vez de agir precipitadamente. Não faz nenhum sentido, por exemplo, empregar dinheiro do contribuinte alemão se há o risco de que os recursos sejam transferidos para a matriz norte-americana. Foi para ter maior controle sobre a filial alemã que a General Motors transformou, há anos, a Opel de sociedade anônima em sociedade limitada.

Após a reunião de consulta na chancelaria federal ficou claro que o governo federal alemão e os estados com fábricas da Opel não deixarão a empresa sucumbir. Também não haverá garantias sem condições. E, de nenhuma forma, governo e estados estenderão a proteção para toda a indústria automotiva alemã. Pois algumas empresas, como Daimler, BMW, VW e Porsche, estão, após excelentes anos de negócios, com os caixas cheios. Elas não sentem uma falta aguda de dinheiro, mas de clientes. Em parte, isso advém de uma oferta de produtos que não combina com a crise conjuntural nem com uma consciência ambiental mais elevada.

Produzindo automóveis com alto consumo de combustível e alta emissão de gases tóxicos, as empresas não sairão da crise, mesmo com a ajuda estatal. Nesse ponto não ajudam garantias nem empréstimos, tampouco programas conjunturais. Pois os consumidores não querem mais tais carros. Até mesmo nos EUA, onde o combustível foi por muito tempo barato e a consciência sobre a nocividade das emissões dos automóveis ainda era pouco desenvolvida, houve uma revisão de atitude.

Os fabricantes de automóveis devem aprender com isso. O desenvolvimento de modelos que correspondam à mudança de gosto dos clientes custa tempo e dinheiro, mas a ausência deste desenvolvimento pode custar a existência de empresas e empregos. A existência de algumas fornecedoras automotivas já está em perigo. Isso também poderá valer para a Opel em caso de quebra da matriz.

No entanto, iniciativas imprudentes de ajuda estatal não fazem sentido. Garantias só devem existir em casos específicos e após avaliação criteriosa. Porque, independentemente de o Estado ter, na pior das hipóteses, que entrar com dinheiro do contribuinte, a garantia já leva a uma vantagem sobre a concorrência, pois a empresa afetada tem acesso a financiamentos em condições mais favoráveis devido à proteção estatal.

A conseqüência é lógica: as empresas sólidas, que podem enfrentar a crise com as próprias forças, também iriam se esforçar para conseguir garantias. Trata-se assim de evitar um efeito dominó. O Estado também tem que prestar atenção para que, ao final, o dinheiro não caia nos caixas errados. Principalmente empresas multinacionais são, no tocante ao fluxo interno de dinheiro, muito flexíveis e criativas.

O ramo automotivo é importante, mas não tem de nenhuma forma a mesma importância dos bancos na economia nacional. Mesmo assim, o Estado não vai observar de braços cruzados se os fabricantes de automóveis estiverem ameaçados. Pois trata-se de muitos postos de trabalho. Na Alemanha, a Opel emprega em torno de 25 mil pessoas e as fornecedoras ocupam outras 50 mil.

Ainda não há ameaça existencial para a Opel, tudo depende do destino da matriz norte-americana. Por isso, é correto que o governo alemão se ocupe da crise da indústria automotiva – e especialmente do caso Opel. Mas, por atrás do ramo automotivo, estão outros setores da economia que foram afetados pela crise da mesma forma. O Estado pode ajudar com garantias em casos isolados; proteções para setores inteiros iriam sobrecarregá-lo.

Karl Zawadzky é editor de economia do programa alemão da DW-RADIO