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Catar faz jogo sujo com comunidade LGBTQ

Joscha Weber
10 de novembro de 2022

Para embaixador do Catar na Copa, homossexualidade é "dano mental". Uma prova de que muitas das promessas sobre a suposta "abertura e tolerância" no Mundial foram apenas da boca para fora, opina Joscha Weber.

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Vista aérea de estádio da Copa no Catar iluminado à noite
Estádios coloridos no Mundial do Catar, mas sua sociedade será também?Foto: Qatar's Supreme Committee for Delivery and Legacy/AFP

Recentemente circulou nas redes sociais um poster mostrando condutas proibidas no Catar. Segundo ele, são proibidos no país, entre outros, álcool, namoro e homossexualidade. Logo ficou claro que a mensagem não vinha do governo do Catar, mas de um movimento de cidadãos locais que comunica aos estrangeiros as regras de etiqueta do país.

Os organizadores da Copa do Mundo do Catar se distanciaram às pressas: a imagem não veio de uma fonte oficial e contém "informações factualmente incorretas", afirmou em comunicado. "O Catar sempre foi uma nação aberta, tolerante e amigável." Sério?

Não. Factualmente correto é: o Catar criminaliza a homossexualidade manifestada em público. "Não menos de um ano" de prisão está previsto para "homossexualidade entre homens e devassidão sexual", no o Artigo 296 do Código Penal do Catar, referente a "Incitação à imoralidade, depravação e prostituição".

Nem todos os torcedores são bem-vindos

Se descobertos, homossexuais podem ser processados, os hotéis catarianos em parte rejeitam casais homossexuais, e os apresentadores da televisão nacional fazem declarações homofóbicas, até mesmo ameaçando homossexuais com a pena de morte. Então é realmente de espantar se as autoridades também fazem declarações homofóbicas? Na verdade, não.

E, no entanto, o clamor internacional é grande após as declarações do embaixador do Catar na Copa do Mundo e ex-jogador nacional Khalid Salman, que disse, em entrevista à emissora alemã ZDF, que ser gay é "haram", ou seja, proibido, e "dano mental". Tolerante? Não, nem todos os torcedores são bem-vindos no Catar.

Na verdade, todo mundo sabem disso, seja a FIFA, os políticos, a mídia. E, mesmo assim, todos agora se mostram chocados. Organizações não governamentais há muito apontam violações maciças dos direitos humanos no Catar: a Human Rights Watch (HRW) relatou recentemente sobre maus tratos contra LGBTQs detidas/os no Catar sofreram maus tratos.

Quando o emir Tamim bin Hamad Al Thani diz, como fez há pouco tempo numa reunião com o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, que "todas as pessoas são bem-vindas" no Catar e depois acrescenta: "Esperamos respeito por nossa cultura", isso não significa outra coisa senão que nem todos podem vir como são. E o fato de o governo federal alemão poupar críticas provavelmente também se deve ao fato de que as importações de gás estão se tornando uma nova dependência, que o Catar já está usando como meio de pressão.

Mulheres como "doces embrulhados"?

O Catar está jogando sujo. Para fora, gosta de se apresentar como um moderno Estado emergente, que certamente pode ostentar um processo de transformação nos últimos anos. Mas ele ainda discrimina indivíduos com base em sua orientação sexual. E, a propósito, também por razões de gênero.

Isso se depreende de outra cena do documentário apresentado no início de novembro pela ZDF, em que um confidente do embaixador da Copa do Mundo do Catar compara mulheres com "doces", que se deve saborear antes "empacotados" – ou seja, com véu islâmico – do que desembrulhados.

Esta Copa do Mundo realmente melhorará a situação dos direitos humanos no Catar? Quando a bola rolar, alguém vai mesmo falar do assunto, além de alguns meios de comunicação ocidentais? E será que depois da Copa do Mundo algo sequer será feito pela comunidade LGBTQ, as mulheres ou os trabalhadores estrangeiros no país? É de se duvidar.

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Joscha Weber é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.