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Opinião: A Europa espera pela Alemanha

7 de fevereiro de 2018

Nunca formar um governo demorou tanto no país. As arrastadas negociações, enfim, resultaram num acordo. Mas ele representa apenas mais uma etapa rumo ao fim do bloqueio político, opina Christoph Strack.

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A chanceler alemã Angela Merkel, o líder social-democrata Martin Schulz (e., de gravata verde) e o líder da CSU, Horst Seehofer (atrás de Merkel)
Merkel, o líder social-democrata Martin Schulz (e., de gravata verde) e o líder da CSU, Horst Seehofer (atrás de Merkel)Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka

Eles conseguiram. Até que enfim. E estão exaustos. Exatos 135 dias depois das eleições legislativas alemãs e após uma luta aparentemente interminável, os partidos conservadores CDU e CSU, liderados pela chanceler alemã Angela Merkel, e os social-democratas apresentaram um acordo para formar uma coalizão de governo.

A grande negociação, porém, será seguida de um período de apreensão. É que, para as próximas semanas, o programa acordado é apenas um documento de boas intenções. Eles ainda não chegaram ao objetivo. Mas, pelo menos, a Alemanha conseguiu se aproximar mais da formação de um governo.

A importância desse avanço fica evidente quando se olha para a agenda de quinta-feira (08/02) da chanceler: ao meio-dia, ela recebe o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e à noite o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

A Europa espera pela Alemanha, esta forte potência na União Europeia ao lado da França de Emmanuel Macron. E faz tempo que o bloco espera. A janela para reformas na UE, que também consta do programa de governo estabelecido na Alemanha, já está diminuindo.

A Europa é um dos pontos mais importantes desse contrato de coalizão – e, dependendo de como se lê, até pode ser visto como a questão central do programa. É que ele também inclui temas relacionados à política externa, que voltaram a ser abertos na reta final das negociações.

Na política interna, até o momento, está difícil identificar um conceito orientador. É notável que, diante de um debate sobre identidade e globalização na sociedade alemã – um assunto que não é apenas populista –, o conceito "pátria" apareça no título do Ministério do Interior (na Baviera, isso já existe há mais tempo).

Christoph Strack é jornalista da DW em Berlim
Christoph Strack é jornalista da DW em BerlimFoto: DW

A dimensão e a riqueza de detalhes do consenso de mais de 150 páginas demonstram cuidado na regulamentação, mas também representam a falta de confiança dos parceiros de negociação. O Parlamento alemão vai receber um calhamaço para processar durante os três anos e meio que restam para o fim da atual legislatura. Os impulsos vêm das cúpulas dos três partidos que integram a coalizão e não, em primeiro lugar, dos parlamentares alemães.

Ainda assim, o acordo ainda deverá enfrentar um teste decisivo: no Partido Social-Democrata (SPD), ainda precisa superar o obstáculo do aval dos membros da legenda. Em 2013, isso não foi problema – mais de três quartos da base aprovaram o contrato.

Em 2018, vai ser diferente. No congresso nacional do partido, apenas 56% dos delegados se disseram a favor da participação em negociações de governo. E os opositores a uma nova "grande coalizão", especialmente entre a ala jovem social-democrata, lutam há tempos por um "não" na decisão dos 464 mil membros do partido –24 mil dos quais aderiram nas últimas quatro semanas.

Mas a lista de ministros que começou a vazar na imprensa mostra a tenacidade com que os social-democratas lutaram noite adentro. Os ministérios que o SPD deverá assumir surpreendem. Na verdade, o partido não poderia mesmo ter alcançado mais do que isso.

E chama a atenção especialmente o fato de que o ministério do Exterior e o das Finanças deverão ser social-democratas. Até hoje, pastas que controlam umas às outras sempre foram para as mãos de partidos diferentes.

Fica a imponderabilidade da decisão dos membros do SPD. Mas, do lado dos partidos conservadores, não será menos emocionante, já que o sucesso das negociações de um lado significa ceder do outro lado. Angela Merkel, presidente da CDU, falou em "concessões dolorosas" quando chegou à última rodada de negociações, na terça-feira (06/02). O acordo agora mostra o que ela quis dizer com isso.

Merkel terá que administrar essa dor entre a sua base. A CDU não precisa do aval dos membros do partido, nem enfrentará um congresso. Mas os resmungos sobre sua a presidente no interior da legenda não vão silenciar.

Este novo passo rumo à coalizão de governo é bom e, ao mesmo tempo, tardio. A Alemanha já está há tempo demais (135 dias) funcionando com um governo interino, com capacidade restrita de ação. Apesar de todo o alívio atual, os últimos obstáculos só serão superados em março. Já será hora.

Christoph Strack Repórter, escritor e correspondente sênior para assuntos religiosos@Strack_C