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Opinião: A direita veio para ficar no Chile

Diego Zúñiga ca
18 de dezembro de 2017

Após uma campanha de baixíssimo nível e que chegou às vezes à vulgaridade, o Chile se junta, com a vitória de Piñera, à guinada à direita que a América do Sul vivenciou nos últimos anos.

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Sebastián Piñera terá de enfrentar ganância de correligionários inimigosFoto: Getty Images/M.Bernetti

Muito mais do que avaliar os números, que são claros e decisivos a favor do candidato da direita e agora presidente eleito Sebastián Piñera (54,57% dos votos), os chilenos deveriam estar preocupados com algo muito mais importante: o baixíssimo nível de uma campanha que chegou às vezes à vulgaridade e o baixo perfil dos aspirantes a governar o país, ambos carentes de conteúdo, meros repetidores de slogans e, muitas vezes, autores de frases infelizes, de mentiras comprováveis – e comprovadas – e citações nunca antes vistas numa eleição presidencial.

Não vamos nos aprofundar em piadas como a de Patch Adams, famoso médico americano que teve que negar um suposto apoio propagado por Piñera, nem em lapsos infantis como o de Alejandro Guillier dizendo que queria meter a mão no bolso de empresários, um expressão mais ligada ao roubo do que a uma distribuição de renda mais equitativa.

O que deve ser tirado dessa eleição presidencial não é apenas o retorno da direita ao poder com uma votação histórica, mas o desmantelamento da ala de centro-esquerda e o que podemos chamar de grande fracasso de Michelle Bachelet.

Reformadora, ela certamente aparecerá nos livros de história pelas inegáveis ​​transformações que introduziu no Chile em seus dois mandatos. E também será lembrada como a única mandatária que nunca entregou a faixa presidencial a um correligionário: depois de dois governos, a direita assumiu o poder, e em ambas as ocasiões Piñera foi o sucessor (no Chile não há reeleição). Um presidente que é incapaz de motivar suas fileiras para garantir a continuação de suas políticas reformistas dificilmente pode voltar para casa satisfeito.

Podemos constatar que Guillier era um candidato ruim: conhecido por seu amor pelas sestas, nas últimas semanas de campanha, o país pôde ver uma enorme presença de Piñera e, em contrapartida, uma aparição esporádica e cansativa do homem que deveria liderar um bloco de centro-esquerda dividido e que mostrava a intenção, ao menos formalmente, de não se unir em torno de Guillier, mas contra Piñera. Nem mesmo a enorme rejeição do empresário por parte de grandes setores da população foi suficiente para derrotá-lo.

É difícil entender como um homem que deixou o poder com baixos níveis de aprovação, cujos colaboradores são investigados por acusações de corrupção, cuja estratégia de negócios sempre foi ganhar dinheiro movendo-se nas fronteiras da legalidade e cuja frase mais famosa é "a educação é um bem de consumo" pôde convencer tantas pessoas de que ele era o único candidato apto a governar o Chile. Isso já será uma tarefa para analistas que, com o tempo, terão que cruzar dados e buscar respostas nas profundezas da idiossincrasia do chileno.

"Levantem a cabeça, tempos melhores virão" foi o slogan de Piñera na campanha. Para qualquer pergunta, essa era a resposta. Teremos que ver como ele vai cumprir sua promessa. Por enquanto, podemos dizer que o Chile se junta à guinada para a direita que a América do Sul vivenciou nos últimos anos, quase sempre com governos encabeçados por empresários e cujos desempenhos nem sempre foram muito satisfatórios.

Como o Paraguai e sua recente crise institucional com Horacio Cartes; o Peru com Pedro Pablo Kuczynski à beira do impeachment; a Argentina com Maurício Macri enfrentando fortes protestos por tentar reduzir as aposentadorias; e Michel Temer, que ninguém sabe como ele ainda está no poder no Brasil. Tempos melhores.

Outra conclusão que se tira dessa eleição é que, definitivamente, as pesquisas não conseguem prever nada. Com a credibilidade lá embaixo, foram poucos os institutos que ousavam fazer previsões, e todos falavam de uma corrida apertada e de uma diferença milimétrica. Lorotas – o triunfo de Piñera foi claro, contundente e rapidamente reconhecido pelos governistas. Sem falar dos especialistas políticos, que insistiam como um mantra que quanto mais pessoas votassem, mas chances de ganhar tinha Guillier. No segundo turno, votaram 500 mil pessoas a mais que no primeiro, e quanto mais se contavam os votos, mais se afundava o bloco de centro-esquerda.

E teria isso tudo a ver com a atitude adolescente da Frente Ampla, a menina bonita do primeiro turno que não quis dar seu apoio a Guillier, até que fosse tarde demais? Culpar-lhes pelo desastre do governo seria mesquinho e injusto, mas se eles queriam lançar as bases para se tornar um governo alternativo, ficou claro que deram um enorme passo em falso.

Piñera, por outro lado, tem seus próprios desafios. Apesar de sua grande votação, e ao contrário do seu primeiro mandato, ele não é o líder incontestável de seu bloco político. Grande parte do seu triunfo se deve ao apoio do deputado pinochetista José Antonio Kast e do senador Manuel José Ossandón, dois de seus principais inimigos e que, sem dúvida, vão de agora em diante desenvolver a sua agenda para se tornar líderes de uma direita que anseia governar o Chile por mais de um período legislativo.

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