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Opinião: A catástrofe iemenita

Rainer Hermann
10 de novembro de 2017

A tragédia no Iêmen, onde milhões estão sob ameaça de passar fome, mostra o quão desastrosa pode ser a rivalidade entre Arábia Saudita e Irã no Oriente Médio.

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Jemen Kind Unterernährung
Foto: picture-alliance/AP Photo/H. Mohammed

Por tempo demais o mundo desviou o olhar e não fez nada. Afinal, o Iêmen fica longe – e seus habitantes são pobres demais para chegar até nós como refugiados. O alerta das organizações de ajuda humanitária não foi ouvido por ninguém. O mundo também não olhou para lá, pois quase não há fotos da guerra civil no país.

Mas o último apelo das Nações Unidas é tremendamente inquietante: pode-se estar diante da maior catástrofe de fome em décadas, com milhões de vítimas. Um quarto dos 28 milhões de iemenitas, de acordo com a ONU, está sob ameaça de passar fome – a não ser que a Arábia Saudita abra imediatamente o espaço aéreo para voos humanitários e os portos marítimos para navios de carga.

A Arábia Saudita impôs um embargo abrangente ao Iêmen, e o intensificou ainda mais no último fim de semana. A justificativa é um míssil iraniano, supostamente disparado pelos rebeldes iemenitas houthi contra a capital saudita, Riad.

Autor Rainer Hermann
Rainer Hermann é redator do Frankfurter Allgemeine ZeitungFoto: picture-alliance/dpa

Desde março de 2015, quando a Arábia Saudita iniciou a guerra contra os rebeldes houthi, mísseis iranianos de curto alcance atingiram cidades sauditas repetidas vezes. Mas o míssil em Riad foi a gota d'água, até porque o governo saudita afirma que foram os combatentes da milícia do Hisbolá, também apoiados pelo Irã, que os dispararam.

A destruição dos foguetes lançados contra a Arábia Saudita, contudo, não é nada se comparada à destruição causada pelos bombardeios sauditas contra o Iêmen nos últimos dois anos. Os sauditas querem impedir que a milícia houthi, na fronteira sul, se torne uma ameaça constante. Mas o país não está pronto para uma ofensiva terrestre. Sozinha, a guerra aérea não expulsou os houthis: mergulhou o país e seu povo num abismo.

Arábia Saudita e Irã conduzem sua luta pela supremacia no Oriente Médio às custas dos iemenitas - uma rivalidade que no momento se revela desastrosa para toda a região. Inicialmente, porém, os iemenitas mergulharam sozinhos numa guerra civil. A Arábia Saudita tomou partido do presidente pró-ocidental Hadi, enquanto o Irã apoiou o partido das milícias houthi e lhes forneceu armas.

A questão saudita é justificada, no sentido de que o Irã não tem nada a ver com esta parte do mundo árabe. Mas isso não justifica o sofrimento que a política saudita, acima de tudo, inflige na população iemenita.

Rainer Hermann é jornalista do diário alemão Frankfurter Allgemeinen Zeitung.

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