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Opinião: Hashtag #MeToo não basta

Sarah Judith Hofmann
18 de outubro de 2017

Cada vez mais mulheres aderem nas redes sociais à campanha contra o assédio sexual motivada por escândalo em Hollywood. Para a jornalista Sarah Hofmann, nada vai mudar enquanto não houver coragem de nomear agressores.

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A atriz Alyssa Milano durante protesto em Nova York em julho; ela iniciou a hashtag #MeToo (#EuTambém)
A atriz Alyssa Milano lançou a hashtag #MeToo (#EuTambém)Foto: Reuters/C. Allegri

Eu também mudei o meu status no Facebook. Agora, está escrito #MeToo (#EuTambém) lá – exatamente como nas páginas de várias de minhas amigas e de milhares de mulheres no mundo todo.

É um sinal de solidariedade com todas aquelas que, nas últimas semanas, tornaram público o fato de terem sido assediadas sexualmente, pressionadas ou até mesmo estupradas pelo produtor de Hollywood Harvey Weinstein. É uma forma de encorajar aquelas que ainda não falaram sobre o que vivenciaram – por vergonha ou por medo das consequências.

A ideia [da iniciativa da atriz americana Alyssa Milano] é: se toda mulher que foi assediada sexualmente ou atacada postar a hashtag #MeToo, isso mostrará a dimensão do problema. Nesse sentido, a campanha nas redes sociais é um sucesso.

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Segundo as estatísticas, uma em cada três mulheres na Alemanha é afetada por violência sexual e/ou física. Se dermos uma olhada no Twitter e no Facebook nestes dias, fica claro que praticamente toda mulher já vivenciou agressões sexuais – mesmo que sejam "apenas" verbais.

Ainda assim, eu vejo um problema nessa campanha: ela não vai mudar nada. Enquanto nós, mulheres (até agora, pouquíssimos homens aderiram à hashtag) não tivermos coragem de falar concretamente sobre o assunto, os agressores podem se esquivar da culpa. #MeToo pode significar tudo: do acossamento sexual até o estupro. Da agressão no metrô até a chantagem sexual pelo chefe. Mas, sobretudo, a #MeToo não cita nomes. Quem agarrou, ameaçou, estuprou?

A jornalista freelancer Sarah Hofmann vive em Tel Aviv
A jornalista freelancer Sarah Hofmann vive em Tel Aviv

Há anos, estava passeando com uma colega pelo centro histórico de Jerusalém, quando um jovem de uns 12, 13 anos se ofereceu para nos mostrar um atalho até a famosa Via Dolorosa. Concordamos, brincamos um pouco no caminho, ficamos felizes por ele falar bem inglês.

Até que eu percebi que estávamos indo na direção errada. Quando o questionei, ele me empurrou contra a parede mais próxima e me apalpou brutalmente entre as pernas. Tudo aconteceu tão rápido que minha única reação foi jogar a água da garrafa que eu tinha na mão na cara dele. Ele saiu correndo. No final do beco, normalmente vazio, havia três rapazes – obviamente o destino do nosso "atalho". Por isso, também saímos correndo.

Eu tive sorte. Eu não fui estuprada. E, até hoje, nunca sofri chantagem sexual no trabalho. Mesmo assim, até hoje me sinto incomodada pelos becos do centro histórico de Jerusalém. Eles me lembram da raiva que senti, tanto do agressor quanto de mim mesma. Porque fui burra ao segui-lo. Até hoje, contei esse episódio a pouquíssimas pessoas.

Eu consigo imaginar pelo que passam as mulheres que, após uma agressão, ainda têm que temer por suas carreiras – por tudo o que construíram no âmbito profissional. Em muitas partes do mundo, as mulheres também temem pela perda do reconhecimento social, da "honra da família". É compreensível que elas prefiram se calar.

Se, agora, elas postarem #MeToo, esse pode ser um primeiro passo para tornar suas histórias públicas. E, quanto mais mulheres relatarem concretamente o que lhes aconteceu, mais fácil será se livrar da vergonha. Vocês não são as culpadas, queridas mulheres. Os culpados são os agressores!

Portanto, contem suas histórias: no Twitter, no Facebook e à polícia. Relatem detalhadamente o que aconteceu com vocês. E, se souberem os nomes dos agressores, digam. Apenas a partir daí algo vai mudar.