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Seleção multiculti

12 de julho de 2010

Empolgação despertada pela atuação do time de Joaquim Löw poderia, também, ser aplicada em outros segmentos da sociedade, opina Volker Wagener.

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Nenhuma agência de publicidade contratado pelo governo alemão conseguiria polir melhor a imagem da Alemanha no exterior como fizeram Müller, Özil, Schweinsteiger e Khedira. No exterior, a Alemanha sempre foi reconhecida por sua alta motivação, moral e disciplina, e agora também pela leveza e beleza. Tudo isso se deve ao novo estilo do futebol, que celebra um time cuja metade dos jogadores é fruto da imigração.

Isso surpreende devido ao fato de muitos alemães continuarem negando que a Alemanha seja um país de imigração. A entrada no país de pessoas com outra crença, pele escura e nomes impronunciáveis é vista como problema, e não como oportunidade. O futebol, que para muitos é a futilidade mais bonita do mundo, ensina o setor político e outros setores da sociedade como fazer uma integração bem-sucedida.

Falar sobre futebol é sempre também falar sobre o país que o time representa. O futebol alemão teve sucesso por décadas. Combatividade, disciplina tática e absoluta vontade de vencer foram as virtudes que se sobressaíram nos triunfos do passado: "Futebol é um jogo de onze contra onze e no fim vencem os alemães", disse uma vez Gerry Linneker, goleador da seleção inglesa da década de 1980. E ele descreveu nada mais do que a grande eficácia do futebol made in Germany. Isso se aplicava ao sucesso econômico do país: o futebol alemão era a imagem da economia alemã.

Quem garantia as vitórias de antigamente eram, frequentemente, os jogadores que usavam a força. Fritz Walter, Uwe Seeler ou Franz Beckenbauer tinham status de heróis. Agora, Mesut Özil se prepara para ser modelo para a geração mais jovem. Ele é o homem dos detalhes no time multicultural do técnico Löw.

Como muçulmano, ele evita carne de porco e álcool e, a cada jogo, reza para Alá. Mesut Özil é cultuado entre os torcedores. Fica claro que sua alteridade não desempenha aí nenhum papel. Ele e o jogador de origem bávara Thomas Müller – ambos muito jovens, muito habilidosos e muito bem-sucedidos – são o reflexo de uma naturalidade sem precedentes na relação entre a maioria da sociedade alemã e os filhos de migrantes.

Isso também pode ser expresso da seguinte maneira: "Thosud Müsil", mistura de Thomas Müller com Mesut Özul, que parece ser uma combinação ideal para um futebol atrativo, que não aposta exclusivamente nas antigas virtudes alemãs. E mais: também o entusiasmo desse novo futebol alemão faz efeito em toda a sociedade.

Se não, como explicar a legião de torcedores de origem migratória que se declarou adepta do preto-vermelho-dourado e protegeu a bandeira alemã literalmente dos vândalos da esquerda? Sem dúvida: os sete jogos da seleção alemã no Mundial mudaram alguma coisa. E deram continuidade a algo que há quatro anos já era visível.

A Copa do Mundo de 2006 no próprio país foi a descoberta do patriotismo futebolístico preto-vermelho-dourado, um patriotismo que durante décadas foi desconhecido para muito alemães. Ele tinha com frequência algo angustiante. Em 2006, ele se libertou com o empolgante jovem futebol ofensivo, e o apoio dos alemães à sua seleção foi ininterrupto em 2010.

Nas últimas semanas, eles aclamaram uma equipe que algumas vezes jogou ainda mais bonito do que há quatro anos. Mas, agora, eles aclamam uma seleção multicultural. Se a empolgação pelo preto-vermelho-dourado em 2006 já foi uma forma de patriotismo esclarecido, em 2010 isso foi mais forte. Porque aqueles que simpatizam com os alemães vêm da Turquia, ou do Brasil, falam polonês em casa ou têm pai tunisiano ou espanhol.

O futebol vive agora uma integração bem-sucedida – e no mais alto nível. Além disso, hoje, um turco é presidente de um partido e temos no país um ministro com raízes vietnamitas. Essas e muitas outras personalidades não tocam emocionalmente uma sociedade. O time de "Jogi" Löw, no entanto, inflamou milhares.

Não apenas porque jogou um futebol bonito e que trouxe resultados. Pode-se dizer também: se a integração dos filhos dos imigrantes já é bem-sucedida no futebol, que oportunidades teria então a Alemanha, se os pontos fortes dos imigrantes pudessem ser aproveitados em outros setores da vida social?

Autor: Volker Wagener (np)

Revisão: Roselaine Wandscheer