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Opinião: Merkel acerta em discurso sobre migração

Dagmar Engel
31 de agosto de 2015

Quem atacar refugiados será punido; nada justifica o extremismo de direita. Ao se pronunciar sobre questão migratória, chanceler federal alemã vai direto ao ponto, opina a jornalista da DW Dagmar Engel.

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Kommentarfoto Dagmar Engel Hauptstadtstudio
Foto: DW/S. Eichberg

Soa bastante lógica e quase inevitável a maneira como a chanceler federal alemã, Angela Merkel, se manifestou em sua grande coletiva de imprensa anual, diante de jornalistas do país e do exterior, sobre a questão dos migrantes e refugiados:

1. Aplica-se o direito fundamental a asilo político e proteção contra guerra e perseguição.

2. Aplica-se o direito fundamental à dignidade humana para todos, não importa de onde vêm e se têm ou não em vista o asilo.

3. Quem fere esses direitos fundamentais, quem provoca e põe fogo nas acomodações das pessoas que vêm à Alemanha será perseguido pela dureza da lei. E fim de papo.

Ou melhor dizendo: sem papo algum. Nenhum sinal de compreensão perante extremistas de direita, nenhuma tentativa de explicação, pois nada justifica atos de ódio contra refugiados e migrantes. A chanceler federal não dirige a palavra aos xenófobos, e preferiria nem falar sobre os provocadores. Qualquer atenção dela só serve para valorizar o status deles.

A chanceler federal opta por destacar o que há de positivo: ela se diz orgulhosa e grata ao fato de o número de ajudantes [dos refugiados] superar o de xenófobos. Até mesmo a imprensa ganha um elogio por sua cobertura dos acontecimentos. Tudo bastante atípico.

Merkel até abre mão de distribuir o problema pela Europa. É claro que também se trata de uma solução europeia. Os valores fundamentais do continente, a universalidade dos direitos civis estarão em jogo se os europeus não superarem esse desafio. Mas a Alemanha também pertence à Europa. Não resta margem para interpretações quando a chanceler federal diz: a Alemanha é forte, nós vamos conseguir. Conseguimos na crise financeira, na crise grega e na eliminação progressiva do uso da energia nuclear. Em tempos de crise, a chanceler federal está presente – esta é a mensagem que transmite seu discurso.

Essas palavras teriam sido muito mais bem colocadas há uma semana. Ou mesmo antes. As primeiras manifestações contra um planejado abrigo de refugiados em Freital, na Saxônia, ocorreram há semanas. Talvez o mundo tivesse sido poupado dos incidentes em Heidenau.

É preciso promover um debate quando ele existe – também esta frase foi dita por Merkel na coletiva de imprensa. Mas quando se trata de direitos fundamentais que não estão em debate, os itens 1, 2 e 3 acima dizem tudo. Basta.