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Gauck foi longe demais na crítica a Moscou

Volker Wagener (av)2 de setembro de 2014

Nos 75 anos do início da Segunda Guerra, na Polônia, presidente alemão censurou duramente o procedimento de Putin na Ucrânia. E assim extrapolou sua função de "pai de família", opina o articulista da DW Volker Wagener.

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Ser presidente da Alemanha significa moderar, ser capaz de mediar, significa também sempre incitar dinâmicas e discussões, mas não julgar de forma definitiva. O papel do presidente federal é a de um bom pai de família: ele deve sempre estar acima dos fatos. Ele deve representar e, até onde for possível, deixar a prática da política para o chefe de governo, o gabinete e o parlamento.

Deutsche Welle Zentralredaktion Volker Wagener
Volker Wagener, articulista da DWFoto: DW

Joachim Gauck – ativista político desde os seus tempos de pastor luterano na Alemanha Oriental – extrapola ocasionalmente as constrições do cargo impostas pela Lei Fundamental. Sua fulminante crítica ao presidente russo, Vladimir Putin, aliada a uma quase apodíctica reivindicação de uma nova prontidão da Alemanha à defesa, é uma bomba política cujo estrondo e fumaça não se dissiparão tão rapidamente assim.

O primeiro deslize de Gauck foi a escolha do local e da ocasião para sua reprimenda à Rússia. Setenta e cinco anos atrás, o 1º de setembro foi o início da Segunda Guerra Mundial, ao fim da qual, calcula-se, entre 20 e 30 milhões de russos haviam perdido a vida. Mesmo que o ataque do presidente tenha ecoado os sentimentos mais íntimos de muitos poloneses, isso não é desculpa para tal falta de sensibilidade político-psicológica.

Sem dúvida, o procedimento militar da Rússia no leste da Ucrânia é tão ultrajante quanto contrário ao direito internacional. Contudo, numa fase tão politicamente dramática e humanamente trágica, a chamada às falas do presidente em Gdansk é pouco útil e muito menos diplomática. Que diabo terá mordido o pastor?

Há anos a política externa alemã se encontra numa espécie de renovação radical. Entre os numerosos oradores proeminentes e indicados que, no mínimo desde 2011, apelam por uma "nova política externa alemã", tem-se ouvido também o presidente reivindicar repetidamente, em declarações inequívocas, um papel mais ativo do país no mundo.

Foi o caso na Conferência de Segurança de Munique de 2014. Também no Dia da Unidade Alemã em 2013, Gauck firmou seu nome como primeiro representante da política externa do país com a mensagem: "Menos responsabilidade não é mais sustentável."

Isso não é mero acaso. É sempre em ocasiões extraordinárias – como agora, no 75º aniversário do início da Segunda Guerra – que o chefe de Estado conclama a mais força, mais presença da política externa alemã. E assim defende uma dissolução, de fato, de décadas de "cultura de abstinência militar".

Joachim Gauck não é, seguramente, um belicista. Mas, com sua demonstração em Gdansk, insinua-se a impressão de que, através dessa linha dura com a Rússia e com Putin, o número um do Estado alemão esteja querendo se desforrar de suas experiências com a ex-grande irmã, a União Soviética, na socialista Alemanha Oriental. Quem nos fala é, antes, Gauck, o alemão oriental, do que o presidente federal de todos os alemães. Isso é um certo excesso de liberdade pessoal para o primeiro servidor do Estado!

Outro aspecto leva a pensar: diante das relações de força em jogo, pouco conta a medalha de valentia para quem ruge mais alto, no que tange às demonstrações de poder de Moscou. O que é que Gauck quer dizer, por favor, com "adequar a prontidão para a defesa às novas circunstâncias"? É para tirarmos a poeira das centenas de tanques Leopard 2 desativados há anos, reintroduzirmos o serviço militar compulsório? Quem semeia vento tem que estar pronto a colher tempestade. Estamos prontos para isso?