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Brasil e Alemanha

29 de agosto de 2009

De 30 de agosto a 1º de setembro, políticos e empresários do Brasil e da Alemanha debatem meios de intensificar relações comerciais entre os países. Mas falta vontade política dos dois lados, comenta Johannes Beck.

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Já faz dez anos que a União Europeia negocia um acordo de livre comércio com o Mercosul. Até hoje, nada aconteceu. Nos últimos cinco anos, as negociações foram praticamente suspensas. A visão de exportações de São Paulo para Lisboa, Buenos Aires para Madri ou Santiago para Berlim, todas isentas de encargos aduaneiros, parece ter sido enterrada.

Assim, haveria um potencial muito maior para o comércio comum. Os europeus poderiam exportar mais produtos industrializados para a América do Sul, como máquinas, equipamentos médicos ou turbinas eólicas, que empresas alemãs, italianas ou espanholas produzem a um custo muito mais baixo que as concorrentes sul-americanas. Por outro lado, os europeus poderiam obter do Brasil carne bovina, açúcar e suco de laranja a preços mais baixos e de melhor qualidade.

Entretanto, tão grande quanto este potencial, é também a resistência ao fim das tarifas alfandegárias. Principalmente graças ao lobby agrário francês, os planos de livre comércio com a América do Sul foram congelados. Mas também na Alemanha há muitos obstáculos.

Não posso nem imaginar que continuasse valendo a pena produzir açúcar de beterraba na Alemanha, se fosse permitida a importação do açúcar de cana, mais barato, do Brasil. Também a indústria alemã de biocombustíveis teme uma invasão do etanol incomparavelmente barato, caso as fronteiras fossem completamente abertas para produtores brasileiros.

No fim das contas, pouco interessa o fato de os consumidores europeus poderem lucrar com a queda dos preços, se aprovado o livre comércio. Nem mesmo poderosas associações de indústria, como a Confederação da Indústria Alemã, organizadora do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, puderam fazer algo até hoje. Quando os agricultores europeus protestam, quase todos os políticos, até agora, baixaram a cabeça.

Bom seria se o ministro alemão da Economia, Karl-Theodor von und zu Guttenberg, aproveitasse sua viagem ao Brasil para reavivar as negociações comerciais entre os dois continentes. Na Europa, especialmente em tempos de crise financeira internacional, é urgentemente necessário um lobby a favor do livre comércio.

Em tempos difíceis, em que o populismo e o protecionismo se sobressaem, seria ainda mais importante enviar sinais de defesa ao livre comércio. Sinais de que se quer evitar os erros da crise econômica dos anos 1930, quando muitos governos aumentaram as tarifas alfandegárias, agravando ainda mais a situação. E ninguém melhor para isso do que o ministro da Economia do maior país exportador do mundo.

Mas também a América do Sul tem que fazer sua lição de casa. O Mercosul está praticamente paralisado desde o início do processo de ingresso da Venezuela no bloco. O processo de integração parou. Políticos latino-americanos concorrem numa disputa sem sentido, com cada vez mais projetos de integração, sem que os antigos tivessem sido completados: Comunidade Andina de Nações, Mercosul, Alba, Unasul...

Também o lobby agrário sul-americano – composto principalmente por latifundiários – precisa ser freado. Até agora, ele tem evitado no Brasil (e também na Argentina) uma proteção eficaz das florestas tropicais. Enquanto a pecuária for responsável pelas queimadas na Amazônia; enquanto novas plantações de soja continuarem destruindo as matas do cerrado, seria um desastre ecológico se os governos europeus suspendessem as barreiras comerciais à carne brasileira.

O governo brasileiro precisa finalmente mostrar que está disposto a conter o desmatamento. Quanto a isso, as típicas declarações da boca para fora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ajudam.

Esses são desafios difíceis para os políticos na Europa e na América do Sul. No entanto, se esses problemas não forem resolvidos, outros países irão tomar a frente dos negócios no futuro. O Brasil e seus vizinhos encontram cada vez mais alternativas aos Estados Unidos e à Europa, seus parceiros comerciais clássicos. Desde 2003, o comércio entre a América Latina e a China vem crescendo numa média de 40% ao ano. Um grito de alerta para os europeus.

Autor: Johannes Beck

Revisão: Augusto Valente