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Onde os EUA erraram com a Coreia do Norte?

Michael Knigge md
25 de agosto de 2017

Foi durante a "política de paciência estratégica" do governo Obama que o programa nuclear e de mísseis norte-coreano vivenciou um impulso. Um problema que cai agora no colo de Trump, que se mostra sem alternativas.

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Trump e Obama durante encontro na Casa Branca, logo após eleição do magnata
Trump e Obama durante encontro na Casa Branca, logo após eleição do magnataFoto: picture-alliance/abaca/O. Douliery

Pouco antes da posse, ao ser recebido pelo então presidente Barack Obama na Casa Branca, Donald Trump ouviu que a Coreia do Norte seria uma das questões mais prementes que enfrentaria.

E Obama estava certo. Sete meses depois, a Coreia do Norte ameaça abertamente atacar os Estados Unidos e, assim, sobe ao topo da lista de novas dores de cabeça da política externa americana.

O que aconteceu tem muito a ver – como disse Trump – com a política mal sucedida do governo Obama em relação à Coreia do Norte – geralmente descrita como "política de paciência estratégica". Obama oficialmente criou o rótulo em um documento de segurança nacional de 2015.

Embora o conceito de paciência estratégica não dissesse respeito somente à Coreia do Norte, mas à abordagem genérica de Obama em relação à política externa, a posição do governo perante Pyongyang certamente pode ser definida pela expressão.

Um passeio por Pyongyang

Tendo descartado opções militares desde o início, o governo Obama experimentou ao longo de oito anos pacientemente vários caminhos para tentar conter a Coreia do Norte e desacelerar ou interromper seus programas de desenvolvimento de armas e mísseis nucleares. Entre eles, estiveram a pressão diplomática e econômica, o diálogo e "envergonhar" o regime através de um relatório da ONU que destacou as graves violações dos direitos humanos no país.

"A abordagem de Obama para a Coreia do Norte foi um fracasso", opina Kelsey Davenport, diretora do departamento de política de não proliferação da ONG americana Arms Control Association (Associação para Controle de Armas). "No máximo, deu à Coreia do Norte mais tempo para continuar a avançar seus programas de mísseis nucleares", afirma.

"A paciência estratégica foi um fracasso, seja por quais medidas", concorda Celeste Arrington, especialista em Coreia na Universidade George Washington.

"O esforço do governo no diálogo com a Coreia do Norte falhou porque Washington exigia que Pyongyang tomasse medidas para a desnuclearização antes mesmo que o governo Obama se dispusesse a negociar com o regime”, explica Davenport.

"Esse  tipo de abordagem realmente colocava o carro na frente dos bois”, diz ela. "Isso exigia que a Coreia do Norte se comprometesse com a meta das negociações e tomasse medidas para isso, sem que os EUA se comprometessem com qualquer coisa. As condições prévias para negociações eram onerosas e excessivas."

Quanto aos seus esforços para aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte, o governo Obama normalmente respondia às provocações de Pyongyang com mais sanções, unilateralmente ou através da ONU. "Mas aqui também, vimos que a política foi realizada ao acaso”, observa Davenport.

"Essas medidas foram fracamente implementadas", diz, sublinhando que o governo dos EUA não gastou tempo suficiente na implementação adequada das sanções e não conseguiu complementar suas medidas punitivas com propostas realistas de cooperação com a Coreia do Norte. "Como consequência não havia incentivo para que Pyongyang tomasse medidas para aliviar a pressão das sanções”, explica Davenport.

Sinais mal interpretados em Washington

De forma mais geral, opinam analistas, a abordagem do governo Obama em relação à Coreia do Norte sofreu com uma má interpretação das intenções de Pyongyang.

"Apenas esperar que a Coreia do Norte responda é uma posição reativa e passiva", aponta Arrington. "Talvez o governo Obama pudesse ter forçado mais diálogo ou tentado voltar às negociações de 2005 e 2006."

"Em vez disso, Washington não conseguiu interpretar corretamente vários sinais da Coreia do Norte sobre uma disposição para negociar”, afirma Davenport, citando as oferta de Pyongyang em 2014 e 2015 para congelar testes de mísseis balísticos e nucleares, em troca de um congelamento de exercícios militares americanos e sul-coreanos.

Davenport culpa os EUA por não considerarem a oferta e não tentarem sondar o caminho para um possível diálogo.

"Quando a Coreia do Norte abriu a porta para negociações, os EUA rapidamente as fecharam novamente", diz ela. "Como no caso do acordo nuclear com o Irã, Obama deveria ter feito um esforço concentrado para desenvolver uma proposta diplomática própria, com condições prévias menos onerosas e seguir esse caminho com a mesma intensidade com a qual trabalhou para o acordo com Teerã.”

Como resultado da política fracassada, a Coreia do Norte reiniciou – durante o governo Obama – a produção de plutônio para armas nucleares, iniciou um programa de testes de mísseis mais ambicioso e avançou em seu desenvolvimento de mísseis balísticos.

"A abordagem de Obama deu tempo à Coreia do Norte para continuar avançando em seu programa", avalia Davenport. "Trump está certo quando diz que a paciência estratégica falhou", observa. "Mas o problema é que, além de criticar seu antecessor, o atual presidente não fez nada para melhorar a situação e oferecer uma alternativa melhor.”