Olimpíadas dos povos indígenas no Brasil
Representantes de etnias de mais de 20 países reúnem-se em Palmas para participar da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Entre as modalidades competidas estão arco e flecha e futebol.
Jogos indígenas
Entre a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o Brasil recebe em 2015 um evento desportivo inédito. A primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI) teve início nesta sexta-feira (23/10) em Palmas, Tocantins, e ocorrem até 1º de novembro. Os organizadores esperam um público de 10 mil a 30 mil pessoas por dia.
Participantes do mundo inteiro
Os quase 2 mil competidores vieram de mais de 20 países diferentes, como Etiópia, Mongólia e Nova Zelândia. "É a primeira vez fora do meu país, e eu peguei cinco aviões para chegar até aqui", revela Julius, da etnia igorot, das Filipinas. "Nunca pensei que veria tantos povos indígenas juntos. Somos muito semelhantes e muito diferentes ao mesmo tempo."
Cerimônia do Fogo Sagrado
Nesta quinta-feira (22/10), véspera da abertura dos Jogos, os povos indígenas se reuniram na Praça dos Girassóis, no centro de Palmas, para a cerimônia de acendimento do Fogo Sagrado. Segundo os organizadores, o local foi escolhido por deuses indígenas. O ritual, que marca o início da competição, contou com tribos do mundo inteiro se revezando em danças e cantorias ao redor do fogo.
Tocha olímpica
"O fogo, para todos os povos do mundo, é extremamente importante. É um conhecimento milenar", explica a indígena Joana Munduruku, integrante do Comitê Intertribal. "Em torno dele se unem todos os povos." O Fogo Sagrado, depois de aceso, foi levado à Arena Verde, local onde ocorre a maioria dos jogos, além da abertura.
Futebol, é claro
O esporte mais popular do mundo não poderia ficar de fora, já que é muito apreciado pelos indígenas. O futebol, que contará com as categorias feminina e masculina, é a única modalidade ocidental da competição. As regras são as mesmas da CBF, com uma diferença no tempo dos jogos. No futebol feminino, as partidas têm dois tempos de 15 minutos, e no masculino, dois tempos de 20 minutos.
Arco e flecha, corrida com tora...
Entre as outras modalidades estão os chamados jogos de integração, esportes praticados pela maioria dos povos indígenas brasileiros. São eles: arremesso de lança, arco e flecha, cabo de força, canoagem, corrida de 100 metros, corrida de fundo, corrida com tora e natação. Há ainda os jogos de demonstração – particulares de cada povo –, que serão disputados por integrantes da própria etnia.
Povos brasileiros
Na foto, indígenas assistem à apresentação dos Kuikuro, povo com a maior população no Alto Xingu, no Mato Grosso. São 24 etnias brasileiras participando da competição – entre elas, Guarani Kaiowá, Pataxó e Xavante. Os tradicionais Jogos dos Povos Indígenas acontecem no Brasil desde 1996, mas é a primeira vez que o país abre o evento para atletas de outros países.
Discriminação indígena
"Agora podemos mostrar ao mundo e ao país inteiro o que é o brasileiro: um guerreiro que luta até hoje para preservar sua cultura e sobreviver aos massacres, à discriminação e ao estupro de nossas mulheres", afirma Ubiranan, da tribo Pataxó. Além de lutar pela demarcação de suas terras, os índios no Brasil enfrentam uma batalha constante contra o preconceito e a pobreza.
Celebrar ou contestar?
"Esse é o momento de celebrar, mas também de fazer exigências para que o governo nos ouça e perceba o que está acontecendo com o nosso planeta, florestas e rios", completa Ubiranan. A indígena Werreria, da tribo Karajá, próxima a Palmas, é contra a realização dos Jogos: "O governo está usando o evento para cobrir nossos olhos e dizer que está tudo bem por aqui. Mas não está."