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O que pode minar o caminho de Merkel rumo à reeleição?

Jefferson Chase md
23 de julho de 2017

Com ataque de Martin Schulz às políticas do governo, questão migratória entra de vez na campanha alemã. Tema pode se tornar o calcanhar de Aquiles da atual chanceler na busca por um quarto mandato.

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Merkel faz seu gesto marcante durante cúpula do G20: chanceler lidera pesquisas
Merkel faz seu gesto marcante durante cúpula do G20: chanceler lidera pesquisasFoto: Reuters/M. Kappeler

Por meses, o candidato social-democrata a chanceler da Alemanha, Martin Schulz, tentou e não conseguiu encontrar um assunto para roubar alguns pontos da popularidade de sua rival, Angela Merkel. Em entrevista publicada neste domingo (23/07) pelo jornal alemão Bild am Sonntag, Schulz tocou, pela primeira vez de forma incisiva, no que talvez seja o calcanhar de Aquiles da atual chefe de governo: sua política em relação aos migrantes de países muçulmanos.

"Em 2015, mais de 1 milhão de refugiados vieram para a Alemanha, a maior parte deles, sem um monitoramento do governo", afirmou Schulz. "A chanceler abriu nossa fronteira com a Áustria por razões humanitárias, mas, infelizmente, o fez sem consultar nossos parceiros na Europa. Se não agirmos agora, essa situação pode se repetir."

Leia a cobertura completa sobre a eleição na Alemanha em 2017

Merkel prometeu aos eleitores alemães que não haverá uma repetição do que aconteceu há dois anos, quando centenas de milhares de pessoas chegaram à Alemanha, muitas fugindo da Síria devastada pela guerra. O fluxo diminuiu no ano passado, mas pode voltar a crescer, à medida que muitos tentam escapar da incerteza política e das dificuldades econômicas de lugares como Nigéria e Eritreia, através de países do norte da África, como a Líbia.

Aumento de chegadas

Mais de 70 mil migrantes realizaram a travessia extremamente perigosa do Mediterrâneo, chegando à Itália no primeiro semestre deste ano e provocando um aumento de chegadas de mais de 25% em relação a 2016. A Itália pediu ajuda a outros Estados da UE para lidar com os recém-chegados, mas até agora teve seu apelo ignorado.

Martin Schulz, candidato social-democrata a chanceler alemão
Schulz acusa Merkel de ignorar problema dos refugiadosFoto: Imago/ZUMA Press

Schulz, que vai à Itália nesta quinta-feira, diz que a Comissão Europeia deveria pagar outros Estados-membros para que eles aceitem migrantes e acusa Merkel de inação estratégica nas vésperas da eleição parlamentar de setembro na Alemanha. "Aqueles que tentam ganhar tempo, ignorando a questão até as eleições nacionais, estão apenas sendo cínicos", acusou o candidato.

No auge da crise dos refugiados em 2015 e no início de 2016, Merkel e seu partido amargaram baixas históricas nas pesquisas de opinião, com mais de 80% dizendo acreditar que o governo não tinha controle sobre a situação. Desde então, a chanceler se recuperou e lidera as sondagens, com cerca de 15 pontos percentuais à frente dos social-democratas de Schulz.

Embora Schulz tenha tentado ganhar pontos com o assunto, Merkel não tem grandes motivos para temer os ataques da esquerda. A maior ameaça pode vir da direita. Quanto mais o número de imigrantes cresce, maior a pressão para restringir o fluxo de pessoas que chega à Europa vindas do Oriente Médio e do norte da África.

Populistas capitalizam

O vínculo entre a política de refugiados e a popularidade do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) não pode ser negado. Eles deram um salto considerável nas pesquisas em 2016, conseguindo mais de 20% dos votos em algumas eleições regionais alemãs, à medida que os efeitos das chegadas de refugiados dos anos anteriores se tornavam evidentes.

Mas quando a rota migratória dos Bálcãs foi, em grande parte, fechada, o número de refugiados caiu, e a popularidade da AfD também. O partido atualmente atrai entre 7% e 9% das intenções de voto. A queda é atribuída a brigas internas da legenda, mas também ao sentimento comum entre a população de que a "crise" dos refugiados está se arrefecendo.

A perda de força da AfD coincide com a recuperação da popularidade dos conservadores de Merkel nas pesquisas de opinião. Mas essa tendência pode muito bem ser revertida, caso o crescente número de migrantes que chegam à Itália resulte em um aumento nas novas chegadas à Alemanha antes das eleições.

Um estudo publicado pela Fundação Bertelsmann em novembro passado revelou que o medo da globalização é o principal motor do apoio ao populismo de direita na Europa e que a questão dos refugiados desempenha um papel crucial na formação desse medo.

Tudo isso sugere que um aumento do número de migrantes que chegam à Alemanha nos próximos meses poderia beneficiar a AfD nas pesquisas e, possivelmente, afetar as pretensões de Angela Merkel de obter um quarto mandato como chanceler.