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O que os países esperam da cúpula do G20

Friedel Taube ca
5 de julho de 2017

Líderes das maiores economias do mundo se reúnem em Hamburgo, e cada um traz na bagagem as suas próprias expectativas. Veja as principais.

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Italien G7 Angela Merkel und Donald Trump
Angela Merkel e Donald Trump no G7 na Itália: muitos sorrisos, poucas soluções concretasFoto: Getty Images/S. Gallup

Na cúpula que reúne as 20 maiores economias do mundo em Hamburgo, no próximo fim de semana, os grandes atores também carregam consigo grandes expectativas.

Um resumo do que esperam os principais participantes da reunião de cúpula dos dias 7 e 8 de julho na cidade alemã.

EUA

O governo Trump espera pouco da cúpula do G20 - interessa mais a viagem a Varsóvia e Paris, onde vai ocupar sozinho o centro das atenções. Para o político republicano, o encontro em Hamburgo é antes uma tarefa obrigatória e, segundo seu desejo, tanto melhor se ali não for tomada nenhuma decisão importante e vinculatória. Com a retirada americana do Acordo do Clima de Paris, provavelmente já deve ter ficado claro qual importância ele atribui à política de proteção climática. 

Por outro lado, os parceiros do grupo do G7 já perceberam recentemente na Itália que é difícil chegar a soluções concretas com o governo Trump – mesmo que, em princípio, o presidente americano tenha garantido a Angela Merkel o seu apoio à cúpula. O encontro com Putin é um dos pontos mais esperados da reunião em Hamburgo: por um lado, diversos especialistas já atestaram semelhanças entre os dois chefes de Estado, pelo outro, Trump se encontra sob pressão política em seu país devido ao escândalo de ingerência russa na campanha eleitoral nos EUA. Será interessante observar o seu comportamento durante o encontro.

Rússia

Para os russos, as atenções se voltam para o encontro entre Putin e Trump. Nos últimos tempos, as expectativas antes de uma primeira reunião de cúpula entre os EUA e a Rússia foram raramente tão altas. Moscou gostaria de ter visto muito mais cedo um aperto de mão entre os dois presidentes. "Trata-se principalmente de uma normalização do diálogo", afirmou o chanceler russo, Serguei Lavrov.

A Rússia anseia um reinício para as tensas relações, que vêm se deteriorando desde a anexação da Crimeia por parte de Moscou. No entanto, especialistas russos disseram não esperar nenhum avanço em Hamburgo. Possíveis tópicos devem ser a luta conjunta contra o "Estado Islâmico" (EI) e o controle de armas nucleares. Nesse ponto, russos e americanos têm um interesse comum – especialmente em relação à Coreia do Norte.

Alemanha

Receber as principais economias do mundo em meio à campanha eleitoral: Angela Merkel não poderia ter tido melhor sorte poucas semanas antes das eleições legislativas alemãs, em 24 de setembro. Como anfitriã da cúpula, ela pode modelar a política mundial e fazer com que recentes controvérsias de política interna – como o "casamento entre pessoas do mesmo sexo" – sejam esquecidas.

Em sua declaração de governo na semana passada, ela deixou claro estar esperando negociações difíceis em Hamburgo e que vai representar uma clara posição política europeia – principalmente em relação aos EUA e a temas de política climática. As suas perspectivas frente à reunião com Trump são limitadas. Ao mesmo tempo, grandes expectativas pairam sobre a chanceler federal alemã – como principal representante dos países da União Europeia e como "a última defensora do mundo livre", como foi chamada pelo jornal The New York Times.

China

O G20 é a peça mais importante para as ambições geopolíticas da China. Pequim almeja mais influência internacional – numa cúpula como a de Hamburgo se pode falar de igual para a igual com outros grandes atores mundiais, como os EUA e a Rússia. Para Pequim, o encontro é o fórum ideal para continuar defendendo o livre-comércio mundial – algo de importância fundamental para a segunda maior economia do mundo, que vive principalmente de exportações.

Os chineses são orgulhosos de pertencer ao exclusivo clube do G20 e de ter organizado o encontro no ano passado. Portanto, para eles, o fórum das 20 principais economias do mundo deve ser reforçado como aliança.

Brasil

A princípio, o presidente Michel Temer havia cancelado, sem dar explicações, a sua viagem à Alemanha. Agora, ele voltou atrás e diz que virá. Em Hamburgo, ele pretende demonstrar normalidade e quer evitar a impressão de que seu governo está paralisado. Na semana passada, Temer se tornou o primeiro presidente brasileiro a ser processado durante o mandato, sob a acusação de corrupção.

Atualmente, a sua popularidade gira em torno de 5% e 7%, num país hoje com quase 14 milhões de desempregados. O governo quer atrair cada vez mais novos investidores e, além disso, fechar novas alianças comerciais – e também para isso a cúpula do G20 vem bem a calhar.

Índia

Para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a sua presença no grande palco mundial vem bem a calhar. Como a agenda da cúpula deverá ser dominada pelas mudanças climáticas, pela luta contra o terrorismo e pelas reformas econômicas, o premiê espera marcar pontos nesse encontro de titãs. Ele saberá vender bem as reformas econômicas de seu governo, esperando, sobretudo, beneficiar-se em termos de política interna.

Além disso, um compromisso importante será o planejado encontro com o presidente chinês, Xi Jinping. Modi espera chegar a propostas de soluções para as disputas de fronteira entre a Índia e a China, mas também aposta em sinais positivos para as relações comerciais entre os dois países mais populosos do planeta.

Turquia

Para o presidente turco, o combate ao terrorismo é prioridade na agenda – mais especificamente a luta contra aquilo que ele considera terrorismo. Em Hamburgo, ele deverá contar com concessões por parte de parceiros do G20. Erdogan deseja o fim do fornecimento de armas para rebeldes curdos no norte da Síria; ele exige dos americanos a deportação do pregador islâmico Fetullah Gülen, que vê como cérebro por trás da tentativa de golpe de 2016. A esperança de poder discursar para os seus apoiadores em Hamburgo deve ter esvanecido: o governo alemão pretende proibir tais eventos no futuro.

Arábia Saudita

Antes de cancelar a sua participação no G20, o rei Salman Abdullah reservara todos os quartos do hotel Vier Jahreszeiten, desejando ainda várias reformas. A razão da desistência é o conflito ainda não resolvido com o Catar. Também o seu filho, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, não virá ao encontro.

Apesar disso, é claro que uma delegação do país árabe participará da cúpula do G20, dirigida "apenas" por um ministro de Estado. Do ponto de vista saudita, na situação atual, o encontro em Hamburgo não é, aparentemente, tão importante para justificar a presença de políticos de primeiro escalão.

África do Sul

O único membro africano do G20 se encontra numa crise. O presidente Zuma está lutando contra a maior taxa de desemprego entre as 20 maiores economias do planeta. O rand, a moeda sul-africana, está sob pressão. O chefe de Estado deve ver como positivo que a África seja um dos grandes temas da reunião.

Entre outros, a iniciativa Compact with Africa deve ser muito de esperança para Zuma. Atuando como um adicional à ajuda ao desenvolvimento, o projeto deverá levar mais investidores privados e públicos ao continente africano. Também a Agenda 2030 das Nações Unidas com vista ao desenvolvimento sustentável e à política global de refugiados deverão ser abordados no encontro.