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O presidente Trump será como o candidato?

Michael Knigge ca
13 de novembro de 2016

Ao longo da campanha, magnata prometeu guinada em questões-chave de política externa e interna dos EUA. Congresso dominado por republicanos pode sugerir caminho aberto, mas realidade em Washington é mais complicada.

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USA Wahlkampf Republikaner Donald Trump in Sarasota, Florida
Foto: Getty Images/C. Somodevilla

Durante a campanha, Donald Trump prometeu, entre outras coisas, reverter o acordo nuclear com o Irã e não cumprir o tratado climático de Paris; ameaçou não seguir adiante com a reforma de saúde promovida por Barack Obama e expulsar imigrantes ilegais; e colocou em questão uma série de pactos bilaterais acertados por governos anteriores.

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Quem é quem no clã Trump

O fato de os republicanos terem o controle da Câmara e Senado pode sugerir que Trump não terá grandes problemas para pôr em prática suas promessas. Mas em Washington, a realidade política é diferente de uma campanha – e promulgar ou derrubar leis é um processo complicado.

Trump pode, de fato, tirar os Estados Unidos do acordo com o Irã e do tratado de Paris. Isso porque ambos não são pactos vinculativos, que precisariam do aval do Senado – algo que Obama, de qualquer forma, não conseguiria. Para o magnata, bastaria assinar uma ordem executiva.

"É incerto como isso vai se desenrolar", afirma o cientista político americano David Canon, da Universidade de Wisconsin-Madison.

Revogação de leis

Mesmo assim, analistas políticos são céticos de que o presidente Trump seguirá o caminho desenhado pelo candidato Trump. Sair dos dois tratados, por exemplo, teria consequências internacionais, que acabariam gerando instabilidade – um movimento de alto risco, segundo observadores.

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"Ações tão precipitadas e imprudentes causariam muita perturbação", analisa John Johannes, especialista em Congresso na Universidade Villanova. Segundo ele, Trump possui pouca compreensão da política e de seus processos, mas os assessores que terá ao seu redor "vão entender bem melhor do que ele a política em Washington".

O mesmo acontece com a reforma do sistema de saúde realizada por Obama, afirma Canon: "Revogar é fácil, substituir é muito mais difícil."

Derrogar a lei conhecida como Obamacare e odiada pelos republicanos cumpriria uma promessa de longa data do partido e daria à legenda uma importante vitória simbólica, mas afetaria duramente milhões de beneficiados pela lei.

"É improvável que eles retirem o seguro de saúde de 20 milhões de americanos sem nada para substituí-lo", diz Canon. O problema, acrescenta, é que nem Trump nem os republicanos possuem um plano de substituição do Obamacare.

"Seria um desastre nacional retirá-lo de repente", diz Johannes sobre as pessoas que contam com o programa de saúde assinado por Obama. "Os republicanos terão que ser muito mais cautelosos com o que Trump tem falado."

Resistência ao livre-comércio

Enquanto a revogação do acordo nuclear com o Irã, do Acordo de Paris sobre o clima e do Obamacare seria possível e politicamente popular junto à maioria dos republicanos, esse não é o caso de outro elemento central da campanha de Trump: livrar-se dos acordos comerciais existentes e substituí-los por pactos mais favoráveis aos EUA.

Collage - Donald Trump und Paul Ryan
Trump enfrentará provavelmente a oposição do presidente da Câmara dos Representantes, Paul RyanFoto: picture-alliance/AA/S. Corum&Getty Images/AFP/T. Katopodis

"Ele enfrentará resistência dentro de seu próprio partido", diz Canon. Enquanto alguns correligionários apoiaram a posição de Trump contra o livre-comércio, muitos não o fizeram, já que se trata de um dos pilares da ortodoxia republicana.

Além disso, uma vez que Trump precisaria do apoio do Congresso para desfazer acordos comerciais, como o Nafta, ele enfrentaria provavelmente a oposição do presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, um defensor do livre-comércio. No entanto, Ryan deverá concorrer à reeleição em janeiro, e alguns apoiadores de Trump no Congresso já sugerem derrubá-lo.

Ryan se recusou publicamente a fazer campanha junto ao candidato do Partido Republicano, após a divulgação de um vídeo em que Trump fazia comentários depreciativos sobre mulheres. Mas um substituto que possa unir a legenda melhor do que Ryan é difícil de encontrar. Isso faz com que Trump e seus apoiadores tenham que pensar duas vezes antes de se livrar dele.

Imigrantes ilegais

Mesmo a promessa de deportar imediatamente imigrantes ilegais – um das principais durante os comícios de campanha – vai ser difícil de ser cumprida por Trump. Neste domingo (13/11), elereiteroua intenção de deportar até três milhões de estrangeiros irregulares com antecedentes criminais.

"Se for realmente dar prosseguimento ao seu plano de deportar milhões de imigrantes ilegais, ele enfrentaria a resistência do Partido Republicano, porque a clientela da legenda ainda é o pequeno empresariado", explica Canon.

Embora Trump ainda não tenha recuado de sua promessa de começar as deportações por pessoas com antecedentes criminais, isso não deverá acontecer tão rápido quanto esperam seus apoiadores.

"Acho que ele deve se tornar um pouco mais cauteloso sobre isso", diz. "A última coisa que ele precisa é de uma grande explosão em suas primeiras semanas no cargo."

Para David Canon, o discurso de vitória de Trump pode ser uma indicação de que, como presidente, ele poderá ser mais contido do que como candidato. Isso porque, em seus comentários iniciais, diz Canon, Trump focou a reconstrução de infraestruturas, de cidades do interior e no apoio aos veteranos, mas não mencionou qualquer uma das questões mais controversas.

Embora existam claros obstáculos políticos para cumprir muitas das promessas centrais de campanha, se Donald Trump demonstrou alguma coisa durante a corrida presidencial, foi que ele é um mestre em superar obstáculos. Ele provou também que, no final, é ele, e não seus conselheiros, quem toma as decisões importantes.

"O problema de Trump é que ninguém o conhece realmente", diz Johannes. "E o cara é imprudente."