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Palácio de Berlim

Carlos Albuquerque8 de janeiro de 2009

O Palácio de Berlim será reconstruído no lugar do Palácio da República. Um novo edifício para o diálogo das culturas, o Fórum Humboldt, deverá surgir no local. A reconstrução do antigo palácio desencadeou grande debate.

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Maquete virtual do Palácio de BerlimFoto: AP

Muitas perguntas ficaram em aberto quando, em 19 de setembro de 1990, a Câmara Popular da ex-Alemanha Oriental (RDA) fechou o Palácio da República. O fechamento do palácio devido à contaminação por amianto desencadeou um acirrado debate sobre o futuro da antiga "Casa do Povo" e sua localização na ilha Spreeinsel, no centro de Berlim.

O objeto de prestígio da RDA deveria ser preservado, ou o palácio residencial dos reis prussianos deveria ser reconstruído? Que tipo de uso seria indicado para o local? Que legitimidade teria uma imitação do palácio barroco? Pró ou contra a reconstrução do Palácio de Berlim, essa era a questão.

Em 1992, Wilhelm von Boddien fundou a Associação de Fomento do Palácio de Berlim. Um ano mais tarde, Von Boddien ergueu uma maquete das fachadas barrocas em escala real como forma de promover o Palácio de Berlim. Com o projeto cenográfico, a polêmica sobre a reconstrução do palácio atingia seu primeiro apogeu entre 1993 e 1994.

Os favoráveis à reconstrução afirmaram que, somente após terem visto a maquete do palácio, puderam compreender o entorno: o prédio do antigo arsenal (Zeughaus), o Museu Antigo (Altes Museum) e a Catedral de Berlim (Berliner Dom). "As pessoas entenderam como o palácio marcava o espaço urbano", explica Goerd Peschken, autor do livro Das Berliner Schloss (O Palácio de Berlim, 1982).

Revitalização da Berlim histórica

Após a reunificação, o entorno da Spreeinsel desempenhou importante papel no conceito que o governo alemão tinha para a mudança da capital de Bonn para Berlim. Em busca de sugestões para o desenvolvimento urbano do centro histórico de Berlim, o governo alemão e o Senado de Berlim nomearam um grêmio de especialistas em outubro de 2000. A comissão tinha o encargo de elaborar pareceres sobre o uso, a configuração e o financiamento de um novo edifício na área do antigo Palácio de Berlim.

Em julho de 2002, o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, aprovou com grande maioria as sugestões da comissão de especialistas. No lugar do Palácio de Berlim, implodido em 1950, e do Palácio da República (demolição 2006–2008), deveria ser erguido um centro dedicado às culturas não-européias. O novo edifício deveria se orientar pela volumetria do antigo palácio e retomar as fachadas barrocas em cada um de três lados e no Pátio de Schlüter.

Para o projeto da fachada leste, na direção da torre de televisão, o arquiteto teria carta branca. A reconstrução da antiga cúpula do palácio, por outro lado, foi incluída mais tarde nas bases do concurso. O limite de custo ficou estabelecido em 552 milhões de euros pelo Bundestag. No final de 2007, os principais pontos das sugestões dos especialistas foram transformados em edital do concurso de arquitetura para a área do Palácio de Berlim.
























Concurso de arquitetura para área do Palácio de Berlim

Em 28 de novembro de 2008, o ministro alemão de Obras e Planejamento Urbano e também membro do júri, Wolfgang Tiefensee, anunciou juntamente com o presidente do júri do concurso de arquitetura, professor Vittorio Lampugnani, a decisão dos jurados. O vencedor do concurso em duas etapas para a área do Palácio de Berlim foi o escritório de arquitetura Francesco Stella, da cidade italiana de Vicenza.

"O desafio arquitetônico consistiu em incorporar um uso inovador e moderno a este lugar significativo, respeitando as especificações do Bundestag de reconstrução das fachadas barrocas do palácio que foi implodido em 1950", disse Tiefensee. Segundo o ministro, somente o projeto vencedor corresponde "ao elevado padrão que estabelecemos no concurso. Os demais projetos premiados oferecem soluções parciais interessantes para aspectos isolados".

Tiefensee e Lampugnani elogiaram, no projeto de Stella, principalmente o espaçoso pavilhão de entrada, a recuperação da Praça do Palácio, o belvedere na frente leste e a nova autenticidade urbana que surge através da ligação do jardim do Lustgarten com a cidade. Em contraste com as fachadas históricas, Stella projetou a fachada leste como uma sóbria fachada vazada. Desta forma, ele tornou visível o limite entre o novo e o velho.

Um fórum para o diálogo das culturas

O antigo palácio será transformado no Fórum Humboldt, um centro de intercâmbio cultural, científico e social. Denominado em homenagem aos irmãos Wilhelm e Alexander von Humboldt – respectivamente, um estadista intelectual e um naturalista – o Fórum Humboldt deverá fazer jus ao nome.

A área total de 40 mil m2 deverá ser ocupada pela Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, pela Universidade Humboldt e pela Biblioteca Central e Estadual de Berlim. A Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano abrigará, no Fórum Humboldt, suas coleções não-européias oriundas dos museus no bairro berlinense de Dahlem. Além disso, está prevista para o pavimento térreo e o subsolo uma assim chamada ágora, um espaço central de entrada e área de eventos para até 15 mil visitantes diários.

As obras do Fórum Humboldt deverão se iniciar em 2010 e estar encerradas até 2015. Após os trabalhos de demolição do Palácio da República, o terreno deverá ser transformado, primeiramente, em área verde. Um pavilhão de exposições temporárias dedicado à arte internacional já foi inaugurado no local em outubro de 2007.

Crítica ao projeto vencedor

Como único representante da oposição, o deputado federal do Partido Verde Wolfgang Wieland participou do júri com status de observador convidado. Em entrevista à Deutsche Welle, Wieland declarou que "as fachadas de fabricação convencional do projeto", com espaços internos flexíveis que proporcionam flexíveis possibilidades de uso, convenceram a muitos, inclusive aos simpatizantes do palácio que esperam, no final, resgatar os espaços internos históricos.

No projeto de Stella, Wieland declarou sentir a falta de destaque para a área da ágora, como também da "acessibilidade de oeste para leste e de leste para oeste". Para o deputado verde, o projeto vencedor é, no conjunto, uma complementação suave do antigo palácio que não o convence na divisão dos espaços interiores.
























O novo palácio: ser ou parecer?

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Berlim, o palácio nunca foi local relevante de decisões políticas da Prússia. O poder estava onde estava o soberano. Em Berlim e nos arredores de Berlim, uma série de palácios residenciais estava à disposição do monarca. Como espaço de encenação do poder real, no entanto, o Palácio de Berlim tinha alto valor simbólico.

Desde meados do século 15, o palácio se expandiu através de ampliações e reformas de interiores para um labirinto de 1.210 aposentos. Principalmente a ampliação barroca feita pelo arquiteto da corte Andreas Schlüter, por volta de 1700, marcou a fisionomia do palácio. A reforma de então tinha por objetivo a representação absolutista, afirmou o departamento berlinense.

A pretensão de reconstruir fielmente as três fachadas barrocas e o Pátio de Schlüter foi criticada pelos opositores da reconstrução como "mera arquitetura cenográfica".

Adrian von Buttlar, presidente do Conselho do Patrimônio Histórico de Berlim e professor de História da Arte na Universidade Técnica de Berlim, comentou que se trata de um "palácio clonado", usado para uma "versão depurada" da história prussiana com vista ao fomento de identidade. O pesquisador criticou a demolição do Palácio da República e defendeu a preservação dos vestígios da história recente na capital alemã.