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O palácio da esperança de Madgeburg

Jabeen Bhatti (fs)10 de setembro de 2005

Cidades do Leste alemão, que sofrem com alto desemprego e poucas perspectivas de melhoria, usam a criatividade para sair da crise que enfrentam desde a reunificação do país.

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Rosa-bebê: lançando modaFoto: Magdeburg Tourismus GmbH

No horizonte da capital do Estado de Saxônia-Anhalt, aparece um edifício cor-de-rosa com telhado dourado. É o Palácio de Madgeburg, uma construção de 11 mil metros quadrados que está para ser concluída e é o novo investimento da cidade para atrair visitantes – e, por conseqüência, trabalho e renda.

Instalado na esquina da praça principal, cercado por um projeto paisagístico cuidadoso e marcado por colunas multicoloridas e detalhes que jamais se repetem, o edifício já está sendo chamado por alguns de "o palácio da esperança".

Para os administradores de Magdeburg, a suntuosa mais nova construção, a Grüne Zitadelle (Cidadela Verde), o último projeto do artista e ambientalista austríaco Friedensreich Hundertwasser, representa o futuro da cidade. Eles esperam que o investimento de 27 milhões de euros, que inclui não somente o palácio, mas também 55 apartamentos, um hotel, lojas e espaços para escritórios, vá atrair não apenas turistas, mas também empresários interessados em investir na cidade fundada há 1200 anos.

"É um projeto muito importante para nós", disse Ralf Steinmann, do Departamento Municipal de Turismo. "Ele nos ajuda a construir a imagem de uma cidade a ser visitada."

A luta para ser diferente

Friedensreich Hundertwasser Modell Grüne Zitadelle
O projeto: sem linhas retasFoto: Gruener Janura AG 2004

Depois da queda do Muro de Berlim e da reunificação da Alemanha, políticos alemães disseram que o lado oriental se recuperaria economicamente. E investimentos não faltaram. Desde 1989, foram gastos cerca de 1 trilhão de euros em renovação de prédios, construção e restauração de estradas e modernização de fábricas. A maior parte do dinheiro empregado no projeto de reestruturação da economia da Alemanha Oriental veio do Oeste.

Mas, mesmo com prédios e estradas revitalizadas, a taxa de desemprego no Leste é o dobro do índice da Alemanha Ocidental: 20% das pessoas não têm emprego – e as perspectivas de encontrar trabalho na região são escassas. Os moradores mais jovens estão abandonando as cidades menores em busca de novas oportunidades, geralmente no Oeste. A renda per capita da Alemanha Ocidental é três vezes superior à dos habitantes do lado oriental.

E Madgeburg não é exceção. O desemprego no município é de 20%. A cidade perdeu cerca de um quinto de sua população de 230 mil habitantes nos últimos 15 anos. A renda per capita do Estado de Saxônia-Anhalt, do qual Madgeburg é capital, é de 17,5 mil euros por ano. Berlim, a cidade mais rica na região Leste do país, tem renda per capita anual de 22,8 mil euros. Na Alemanha, a renda média é de 36 mil euros, segundo o Banco Mundial.

Entretanto, o Leste não é feito somente de más notícias. Cidades como Leipzig e Dresden conseguiram atrair investidores do lado ocidental e estão criando empregos: a BMW abriu uma fábrica em Leipzig, o que criou milhares de postos de trabalho para o município. Uma fábrica de semicondutores vai ser aberta no ano que vem em Dresden, trazendo mais empregos à única cidade da ex-Alemanha Oriental em que a população está crescendo. São os exemplos que Madgeburg pretende seguir.

Uma jóia redescoberta

Friedensreich Hundertwasser mit Modell 1999
Hundertwasser: criador e criaturaFoto: Gruener Janura AG 2004

Madgeburg abriga a mais antiga catedral gótica do país, erguida pelo imperador Otto I, no ano 955. Seis séculos mais tarde, o protestante Martinho Lutero começou suas pregrações pela cidade. Mas, apesar de uma longa e distinta história, muitas das riquezas da cidade foram destruídas na Segunda Guerra Mundial. Mais de 90% da região central do município, incluindo a maioria dos edifícios históricos, foram arrasados pelas bombas dos Aliados.

Leia na página seguinte como a cidade se livrou do típico estereótipo comunista e veja mais detalhes do polêmico projeto de Hundertwasser.

Durante a era comunista, a cidade se tornou um importante centro de indústria pesada, especialmente na área de máquinas. Mas os prédios construídos após a Segunda Guerra Mundial na cidade antes considerada um símbolo alemão reduziram o cenário de Madgeburg ao típico estereótipo comunista: grandes e taciturnas estruturas de concreto intercaladas a algumas semidestruídas construções em estilo gótico e barroco.

Depois da reunificação, o governo começou a desativar as fábricas e a renovar e reconstruir a cidade, destruindo alguns dos prédios da era comunista, erguendo edifícios novos e revitalizando marcos históricos remanescentes. Um depósito russo de armas e munições foi transformado em parque municipal, o que motivou a criação de um festival nacional. A Universidade Otto von Guericke foi fundada em 1993, com a intenção de incentivar os jovens a permanecer em Madgeburg.

Atualmente, os administradores da cidade esperam que o crescimento dos setores de biotecnologia e da produção de máquinas, bem como o novo prédio erguido no centro da cidade, ajudem Madgeburg a encontrar o caminho de desenvolvimento que procura há mais de 15 anos.

Um ousado (e polêmico) projeto

O projeto do "palácio da esperança" começou por acaso. O artista austríaco Friedensreich Hundertwasser foi convidado a redesenhar um prédio de apartamentos que seguia o "estilo comunista" no início dos anos 90.

Porém, após visitar a área, Hundertwasser preferiu derrubar o edifício inteiro e erguer um suntuoso palácio cor-de-rosa. A proposta deixou os moradores de cabelo em pé. Afinal, um edifício moderno não combinaria com a praça principal de Madgeburg, marcada pelos prédios barrocos e pela histórica catedral gótica.

Friedensreich Hundertwassers Grüne Zitadelle
No horizonte, bolas douradasFoto: Magdeburg Tourismus GmbH

Entretanto, apesar dos protestos iniciais, a cidade acabou aceitando a idéia. "No início, eu era contra a construção do prédio, pois ele não parecia apropriado", afirma Gisela Opitz, que viveu por muitos anos no prédio de apartamentos onde hoje está o palácio. "Mas agora eu percebo que [o palácio] será muito bom para a nossa cidade."

Quem gosta do estilo de Hundertwasser certamente visitará a atração: não há sequer uma linha reta (o artista acreditava que elas feriam a alma humana); não há simetria ou uniformidade (ele afirmava que as pessoas precisam ser desafiadas pela variedade de formas); grama, plantas e árvores estão espalhadas por todo o edifício, inclusive no telhado (também ambientalista, Hundertwasser julgava importante aproximar as pessoas da natureza). O artista austríaco, porém, morreu sem ver seu sonho realizado, em 2000, aos 71 anos.

A administração da cidade afirma que já tem interessados para a maioria dos apartamentos e dos espaços comerciais. Eles dizem que, mesmo com o trabalho de construção ainda em andamento, cerca de 7 mil turistas visitaram o local desde maio. O número de visitantes usando o serviço de guias turísticos da cidade cresceu em 10% nos primeiros seis meses de 2005, em relação ao mesmo período do ano passado.

O projeto começou bem e especialistas em negócios dizem que este tipo de idéia pode trazer desenvolvimento comercial e investimentos para cidades em dificuldades econômicas. "Nossos clientes estão interessados em projetos 'malucos' como este", ressalta Marcus Tolle, diretor da WiSA GmbH, agência de promoção de investimentos na Saxônia-Anhalt. Segundo ele, decisões de negócio não levam em conta somente aspectos econômicos.