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O muro americano começa na Guatemala

9 de fevereiro de 2017

Mexicanos se indignaram com propostas de Trump para imigração. Mas política de seu governo também é criticada: nos últimos anos, país fechou cerco a centro-americanos que tentam chegar aos EUA e intensificou deportações.

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Mexiko Stadt - Mario Vazquez Santiago, Immigrant aus Guatemala
Imigrante da Guatemala espera a passagem de um trem nos arredores da Cidade do MéxicoFoto: picture-alliance/AP Images/M. Ugarte

E se o governo mexicano não for vítima da política migratória americana, mas seu agente executório? Não só o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas também o presidente do México, Enrique Peña Nieto, enfrentam críticas crescentes devido à maneira como tratam imigrantes ilegais.

"O México intensificou drasticamente a procura por imigrantes ilegais desde 2014. Para os emigrados da América Central, o México é muito perigoso", diz Maureen Meyer, da ONG de defesa dos direitos humanos Wola. "As detenções, deportações e a violência contra imigrantes aumentaram muito."

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Segundo o governo mexicano, entre 2010 e 2015, o número de deportações subiu de 65.802 para 176.726 no país. No ano passado, 147 mil imigrantes ilegais foram deportados do México – mais de 90% deles vieram de países da América Central, como Guatemala, Honduras e El Salvador.

Desde a adoção de um programa para reforçar o controle na fronteira sul do México, em 2014, a viagem pelo território mexicano se tornou um corredor polonês. Os imigrantes precisam passar por inúmeros controles em rodovias e terminais de ônibus e podem ser pegos a qualquer momento.

Truculência policial

Segundo dados do Wola, o número de detenções aumentou de 96.298, em 2013, para 198.141, em 2015, nos postos fronteiriços mexicanos com Guatemala e Belize. A política posta em prática, afirmam entidades de defesa dos direitos dos imigrantes, é contrária ao discurso oficial do governo mexicano.

"O Estado mexicano não cumpre as obrigações internacionais e constitucionais, porque não respeita os direitos humanos dos migrantes", critica a Rede de Documentação das Organizações Defensoras de Migrantes (Redodem).

Segundo uma pesquisa realizada em vários campos de acolhimento na Guatemala pela Redodem com 30 mil imigrantes deportados, aproximadamente 45% dos entrevistados afirmaram que estiveram à mercê da violência do crime organizado. Quase o mesmo número – 41% – reclamou do uso exagerado de força pelas forças de segurança do México.

A linha dura contra imigrantes da América Central e do Sul parece não ter sido politicamente rentável para o governo do México.  E em Washington não há nenhum sinal de gratidão. "Os mexicanos sentem que os seus esforços de reduzir o fluxo de migrantes da América Central aos EUA não são reconhecidos", diz Meyer.

A especialista afirma estar convencida de que o presidente mexicano usará o trunfo da migração nas iminentes negociações com o governo Trump sobre como proteger a fronteira entre os EUA e o México. Muitos mexicanos são da opinião que os migrantes que querem entrar nos EUA não devem necessariamente ser retidos em território mexicano.

Obama: líder em deportações

O ex-presidente Barack Obama também seguiu uma linha dura em relação ao tema imigração e esperou em vão por reconhecimento político. Durante os seus oito anos na Casa Branca, entre 2009 e 2017, cerca de três milhões de mexicanos foram deportados – mais do que durante o mandato de qualquer outro presidente americano.

"Obama acreditava que conseguiria passar sua legislação de imigração no Congresso, se mostrasse aos republicanos que ele forçou deportações e seguia uma linha dura", explica Meyer. Mas a esperança provou ser falsa. "Houve deportações em massa de migrantes, separações de famílias e uma crescente militarização da fronteira entre México e EUA", lembra a especialista.

Atualmente, o número de deportações caiu novamente. Desde o ápice em 2010, quando os números oficiais do governo Obama mostravam que 469 mil mexicanos foram enviados de volta ao país de origem, a quantidade de deportações recuou para 143.370 casos em 2016.

Imigrantes pagam a conta?

Milhões de imigrantes ilegais nos EUA temem uma nova onda de detenções e deportações. Além da anunciada construção de um muro fronteiriço, o governo do presidente Trump estaria estudando empregar dez mil policiais adicionais para procurar por imigrantes ilegais num raio de 100 quilômetros ao longo da fronteira com o México.

Além disso, tem circulado uma nova ideia de como a construção do muro deve ser financiada. O senador republicano Mike Rogers, do estado do Alabama, sugeriu taxar as remessas enviadas por imigrantes mexicanos a seus familiares no México com um imposto de 2%.

À primeira vista, um negócio lucrativo. Pois, entre novembro de 2016 e janeiro de 2017, remessas de imigrantes mexicanos às suas famílias totalizaram 27 bilhões de dólares. Para as autoridades fiscais dos EUA, isso significaria uma receita adicional de 540 milhões de dólares.

Para a economia do México, no entanto, isso seria um golpe duro. E caso o novo governo dos EUA adote essa medida, provavelmente abriria uma nova disputa judicial. Pois um imposto sobre remessas para apenas um grupo populacional será provavelmente considerado inconstitucional.