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Karl May

Julie Gregson (sm) 14 de setembro de 2007

Karl May é o maior best-seller alemão de todos os tempos. Uma exposição em Berlim mostra a complexidade deste carismático escritor do século 19.

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Karl May forja cor local sem jamais ter pisado nas paisagens exóticas que descreveFoto: Berlin, Deutsches Historisches Museum

Com mais de 200 mil livros vendidos, Karl May (1842-1912) é um nome conhecido por todos na Alemanha. Assim como seu legado literário, que inclui 33 romances, e os diversos filmes baseados em sua obra.

Karl May Festspiele Old Surehand
Participantes do Festival Karl May em Bad Segeberg, 2003Foto: AP

Todo ano, milhares de fãs participam de festivais de teatro com encenações de suas histórias. Seja jovem ou velho, popular ou high-brow, o público de Karl May inclui todos, sem distinção.O escritor se tornou famoso com as aventuras vividas no Velho Oeste norte americano pelo cacique apache Winnetou e seu "irmão de sangue", o branco Old Shatterhand.

May cunhou a imagem do Velho Oeste

Segundo resume o professor Alex Kuo, da Washington State University, Karl May foi um autor significativo por formar a imagem do Oeste e do índio americano para diversas gerações de jovens alemães.

Embora traduzido em 37 línguas, o autor mal é conhecido nos Estados Unidos e no resto do mundo anglófono. Por outro lado, May jamais pisara na América até 1908, embora sempre tenha afirmado o contrário. E Buffalo foi a localidade mais a oeste que ele chegou a visitar.

A exposição a ser vista no Deutsches Historisches Museum (Museu Histórico Alemão), de Berlim, até 6 de janeiro, mostra pela primeira vez peças do patrimônio pessoal do escritor, abordando uma dimensão tanto biográfica como cultural de sua obra.

"A idéia não era fazer uma homenagem a um grande mestre", declarou Sabine Beneke, co-curatora da exposição. "Nossa meta era contextualizar historicamente sua vida e sua época, a fim de tornar compreensível seu sucesso".

Crescente interesse por terras distantes e seus povos

Segundo demonstram as pinturas, fotos e objetos expostos, o escritor vivia numa época ávida por conhecimentos sobre o "exótico". As pessoas se aglomeravam para ver "nativos" nos shows etnológicos que transitavam pela Europa, organizados por pessoas como Buffalo Bill.

Schriftsteller Karl May
Karl May, entusiasta de fantasiasFoto: dpa

Era uma época de expedições científicas, expansão colonial, turismo e imigração. Quatro milhões de alemães emigraram da Alemanha para os Estados Unidos durante o tempo de vida de Karl May. E todos os que abandonavam seu país o faziam com grande curiosidade pelo Novo Mundo.

Durante um certo tempo, May fingia ter vivido ele mesmo suas narrativas em primeira pessoa passadas na América, no Oriente e na África. Fotografias expostas na mostra de Berlim mostram o escritor posando para fotógrafos em seu estúdio nas proximidades de Dresden, cercado de peles de urso, um leão empalhado e outros animais selvagens que ele dizia ter matado com as próprias mãos.

Ele com certeza não hesitava em exagerar as coisas. "Old Shatterhand sou eu mesmo", escreveu May, apresentando como prova diversos rifles, também expostos em Berlim. Na verdade, o escritor mandara fazer essas armas em Dresden, obrigando o fabricante a jurar sigilo.

"O que queríamos era dissecar esse jogo entre ficção e realidade," explica o diretor do Deutsches Historisches Museum, Hans Ottomeyer.

Fãs tornam-se personagens de Karl May

Zur Karl May Ausstellung im Deutschen Historischen Museum
Fãs fantasiados de personagens de Karl MayFoto: Bamberg, Archiv Verlegerfamilie Schmid

O pesado álbum de fotos enviadas pelos fãs mostram o alcance de seu prestígio e a euforia da época por mascaradas. Nas fotos, muitos de seus leitores estão fantasiados como heróis de western ou índios americanos. Mas será que eles levavam a sério o escritor? Assim como Karl May, mais conhecido como Old Shatterhand, muitos deixam transparecer uma certa ironia.

Uma outra foto mostra três mulheres com véus islâmicos e a assinatura "seu harém": mais uma mistura lúdica de fato e ficção. Pelo menos duas dessas mulheres se envolveram com ele na época: uma, sua esposa, e a outra, a que viria a ser tornar sua mulher.

Mas a vontade de desempenhar papéis chegou a causar problemas ao jovem Karl May, segundo mostra a exposição. Diversas atividades fraudulentas, inclusive fazer se passar por policial ou médico para ganhar dinheiro, levaram o filho de um tecelão empobrecido a passar anos na prisão. Escrever era uma das poucas opções que restaram a May, impedido de estudar e de emigrar por causa de seus precedentes criminais.

A inclinação pelo fingimento voltaria a lhe causar problemas no fim de sua vida, quando a imprensa lançou uma campanha contra ele, a fim de desmascará-lo como charlatão. A pressão do público e a mudança de costumes o levaram a se distanciar das personagens ficcionais do início da sua obra e tentar se estabelecer como um escritor mais sério, preocupado com religião, utopias sociais e filosofia. Mas sua obra tardia jamais viria a ter a mesma popularidade que seus livros de aventura.